A Escola como meio de ressocialização
Por: Hugo Garcia • 6/5/2018 • Trabalho acadêmico • 2.151 Palavras (9 Páginas) • 132 Visualizações
Introdução
Este trabalho tem como objetivo principal a análise crítica de uma experiência pedagógica de grande relevância social sob a luz e orientação didática do livro “Compreender e transformar o Ensino” de J. Gimeno Sacristan e Ángel I. Pérez Gómes, mais especificamente no seu Capítulo 1 , por Ángel I. Gomes.
O capítulo em questão, nos mostra que quando a prática pedagógica é uma forma de reprodução de um currículo preestabelecido carregado de interesses particulares e à margem da realidade plural e antagônica da sociedade, não pode por si só promover o desenvolvimento cultural e comportamental dos alunos e futuros cidadãos, para que efetivamente incorporados na vida civil, manifestem a verdadeira liberdade democrática de direitos.
Discuti ainda as teorias e ensinamentos arraigados na metodologia de ensino empregada nas instituições educacionais e o quanto elas naturalizam e legitimam a realidade da desigualdade que embora encontre alguma resistência, a imposição da ideologia dominante acaba por sufocar a autonomia crítica e leva o aluno a aceitação da instrução dada como real, inevitável e conveniente.
O relato da história vivido por uma professora, vem de encontro a essa realidade, que através da solidariedade e amor pela profissão, está resgatando a liberdade crítica e a autonomia intelectual de mulheres em uma penitenciária em Capinas, interior de São Paulo.
Através de um conjunto de práticas pedagógicas e muita paciência, ela põe em prática o desafio dado por Ángel I. Pérez Gómez que no final do capítulo adverte para necessidade de um aprendizado que provoca a reconstrução do pensamento crítico e das ações.
A escola como meio de ressocialização.
A função da escola deve estar além do ensino secular, caracterizado por uma concepção da realidade como um sistema fechado, regido por leis fixas e universais de causa e efeito. Seu principal objetivo é a integração do aluno à sociedade em que vive, contextualizando de forma clara e crítica as realidades tanto no âmbito sócio-político quanto humano e biológico, do meio em que vive. Deve ensinar a lidar com as diferenças entre as pessoas, além de demonstrar a capacidade de cada um e que todos podem ir além do que imaginam ser seus limites.
A ressocialização do ser humano, como parte fundamental das aplicações pedagógicas e funcionais da escola só se materializam através da real transformação e reinserção de indivíduos principalmente quando este está restringido de sua liberdade.
O exemplo citado aqui é o vivido pelas detentas da penitenciaria feminina de Campinas, onde a professora Maria Aurélia, que leciona há 15 anos para alfabetização de pessoas com liberdade restrita, inicialmente na fundação Casa e agora na penitenciaria feminina de Campinas (SP).
As aulas ministradas dentro da penitenciaria feminina são de alfabetização, onde muitas detentas não sabiam ler e escrever, que abre a porta de comunicação com o mundo exterior, se comunicando com familiares por cartas.
Foi muito gratificante quando eu escrevi a primeira carta e eles [filhas e familiares] entenderam o que eu escrevi e mandaram respostas. [...] Eu nunca tive estudo lá fora. Perdi essa oportunidade. Mas aqui dentro eu to procurando resgatar", relata E., que está na unidade há um ano e oito meses.
Saber ler escrever também é uma forma de vencer as barreiras de concreto e aço quando bate a saudade e a única forma de comunicação com familiares e amigos são as cartas. (PEREIRA, 2018)
Para a professora os segredos de sua carreira são Amor e Paciência, que com o passar do tempo às próprias alunas passam a ser pacientes também em seu aprendizado.
O que podemos ver nesse exemplo é que a escola tem o poder transformador na vida do aluno, transformando a realidade em que esta inserida, fazendo com que seus horizontes se ampliem e se tornem cada vez maiores e que o seus limites sejam cada vez maiores.
Por mais que seja dentro de uma penitenciaria, a professora transformou a escola para o bem de suas alunas, procurando integra-las a sociedade externa a penitenciaria através da leitura e da escrita, muita internas não sabiam ler nem escrever, e depois da iniciativa já conseguem de comunicar com a família que está do lado de fora da prisão.
Porém há um empecilho que faz com que varias pessoas se intimidem a tomar atitudes como essa, de transformar um ambiente que por muitas vezes visto como violento que não recupera o individuo, em um ambiente onde realmente há uma ressocialização, uma recuperação, transformando o individuo para que ele volte a sociedade em plena condições de viver e se relacionar socialmente com o restante do mundo.
Segundo a professora “a educação é uma "ponte para o mundo", proporcionando um meio de liberdade por meio do imaginário.”(PEREIRA, 2018)
Conclusão
“Existe nas escolas (...) mulheres e homens que tratam de modificar as instituições educativas em que trabalham. Para que essas modificações tenham efeito duradouro é necessário vincular tais atos a uma série de análises das relações entre a escolaridade e a dinâmica de classe social, raça e sexo que organiza nossa sociedade” (APPLE,1989, p. 9 Apud: GOMES, SACRISTAN 1998 ).
A escola não é somente um ambiente de aprendizado, como também é um ambiente de socialização, onde o aluno além de aprender os conceitos teóricos e práticos de cada disciplina, também deve aprender a como se socializar, integrar a sociedade em que vive, aprender a pensar de forma critica sobre cada assunto.
Não somente socializar, a escola também pode ter o papel de ressocialização, de preparar o individuo a conviver novamente em sociedade, principalmente quando o mesmo está em uma penitenciaria.
Devemos ter ciência de que podemos mudar a escola dos moldes atuais para uma escola de inclusão, onde os alunos tenham prazer de ir estudar, gostem do que estão aprendendo e também saibam conviver com as diferenças.
Referencias
PEREIRA, Rodrigo. Há 15 anos, professora usa educação para 'libertar mentes' no sistema prisional: 'Todos merecemos uma chance'. Disponivel em: Acesso em: 07/04/2018
GOMEZ, A. I. Perez, SACRISTÁN, J. Gimeno. Compreender e transformar o ensino. Ed: Artmed, 4 edição, 1998.
Anexo A:
Há 15 anos, professora usa educação para 'libertar mentes' no sistema prisional: 'Todos merecemos uma chance'
Maria Amélia leva a suas alunas sua 'ponte para o mundo', permitindo a comunicação com familiares por carta, o acesso ao imaginário pela leitura e o sonho de recomeço.
Por Rodrigo Pereira, G1 Campinas e Região
29/03/2018 09h00 Atualizado 29/03/2018 15h55
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Carta escrita por aluno à professora: "parte da minha história" (Foto: Rodrigo Pereira/ G1 Campinas)
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