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A Vivência Dos Alunos Negros Com A Discriminação Racial No Espaço Escolar

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Por:   •  11/11/2014  •  2.770 Palavras (12 Páginas)  •  444 Visualizações

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A vivência dos alunos negros com a discriminação racial no espaço escolar

O cabelo foi motivo de muitos relatos de discriminação racial dos alunos durante o grupo focal e nas observações. Eles falavam de cabelo bonito, arrumado e se dirigiam às crianças de cabelo crespo como cabelo ruim, feio, desarrumado. A escola estabelece padrões como o cabelo que, para ser símbolo de beleza, deve ser liso, comprido. É exigido dos alunos um padrão uniforme. Uma das exigências é arrumar o cabelo. Mas o que é cabelo arrumado para a escola?

Na escola, a exigência de “arrumar o cabelo” não é novidade para os alunos e para a sua família. Mas essa exigência, muitas vezes, chega até a família com um sentido muito diferente daquele atribuído pelas mães ao cuidarem dos seus filhos e filhas. Em alguns momentos, o cuidado das mães não consegue evitar que, mesmo apresentando-se bem penteada e arrumada, a criança negra se torna alvo das piadas e apelidos pejorativos no ambiente escolar. (GOMES, 2002, p. 45).

Nas observações, as meninas aparecem como os principais alvos de discriminação por causa do cabelo. Constatei uma situação na escola que me chamou muito a atenção. Essa situação aconteceu durante a entrada da aula. Uma aluna negra chega à escola com os cabelos soltos. Os alunos começaram a rir. Um mostrava para o outro e continuava rindo. A aluna foi para o final da fila. Uma professora comenta com a outra professora e também ri/sorri. Nos outros dias, percebi que a aluna não soltou mais os cabelos.

O fato de tratamento irônico em relação às crianças negras representa um dado a ser considerado, pois todo comentário realizado no espaço escolar, principalmente diante de outras crianças, poderá ser por elas absorvido e entendido como um comportamento que pode ser reproduzido, visto que suas professoras o fazem. Ofensas e ironias ocultam preconceito latente.

São freqüentes as situações de discriminação ocorridas nos espaços da escola referentes ao cabelo, praticadas por crianças e professores, de maneira direta ou velada.

“… tia, os meninos falam que o meu cabelo é duro, cabelo de repolho.” [Como você se sente] eu fico muito triste, lá em casa minha avó cortou o meu cabelo, eu não queria cortar, mas ela cortou, e todo mundo riu. (aluna do 5° ano, negra).

Os alunos negros, mesmo com os cabelos penteados, são alvos de apelidos pejorativos e piadas no ambiente escolar. “[…] uma coisa é nascer negro, ter cabelo crespo e viver dentro da comunidade negra, outra coisa é ser criança negra, ter cabelo crespo e estar entre brancos” (GOMES, 2000, p. 45).

No espaço escolar, as relações interpessoais e a aprendizagem das crianças negras muitas vezes são prejudicadas devido aos apelidos pejorativos dirigidos a essas crianças pela sua cor ou seu cabelo. “[…] a rejeição do cabelo, muitas vezes, leva a uma sensação de inferioridade e de baixa autoestima” (GOMES, 2002, p. 47).

Fazzi (2004), em sua pesquisa, perguntou a uma menina se ela gostava do seu cabelo, ela disse que não, que ele necessitava de tratamento:

[…] a gente tem que cuidar do nosso cabelo assim ele vai ficar igual ao de qualquer um. A expressão ficar igual ao de qualquer um denuncia a tentativa de igualar o cabelo crespo ao cabelo liso, constituindo este último tipo de cabelo um modelo natural a ser seguido. (Fazzi, 2004, p. 118).

Na realização da entrevista uma aluna fez um depoimento cheio de sentimento de negatividade, de inferioridade sobre si mesma e o seu tipo de cabelo.

[…] tia, eu não gosto do meu cabelo, minha mãe vai alisar. [Porque você não gosta do seu cabelo?] Ele é feio, eu sou feia, minha prima alisou o cabelo dela. Agora o menino não fica rindo dela. Eu quero o meu cabelo liso. (Aluna do 4° ano, negra).

O tipo de cabelo, no contexto desta pesquisa, demonstro ser requisito para ser aceito pelo grupo. As crianças de cabelo liso tinham poder de escolher ou rejeitar quem participava do grupo. O tipo de cabelo era o critério mais utilizado para discriminar e segregar. A sociedade valoriza e padroniza determinadas qualidades e aquelas que fogem a esses padrões geralmente não são aceitas:

Sabemos que em nossa sociedade de maneira geral, as concepções sobre o negro são bastante negativas. Elas dizem respeito à estética, morais e intelectuais. São essas concepções, que ocorrem de maneira difusa em nossa sociedade, que criam todas as maneiras e formas de evitação, de mal estar, de “antipatia” que teimam por penalizar aqueles que não possuem um fenótipo evidentemente branco. (MÜLLER; OLIVEIRA; TEIXEIRA, 2006, p. 14).

As referências negativas aos cabelos dos alunos negros aconteceram em vários momentos no espaço da escola. As alunas negras percebiam e sofriam com a discriminação com relação ao seu cabelo, mas prevalecia o silêncio. Às vezes reclamavam para a diretora, mas nenhum trabalho era realizado; a discriminação continua no espaço escolar.

Diretora, o K. falou que o meu cabelo é de bombril, seco. (aluna negra do 4º ano). Deixa pra lá, vai brincar. (diretora da escola B).

Nas escolas pesquisadas, fazem parte do calendário as datas comemorativas. As salas preparam apresentações com os alunos para acontecerem nos dias marcados e os responsáveis são convidados para assistir. Nas entradas das aulas, também fazem pequenas apresentações com músicas, orações em que cada dia uma sala é responsável. Percebi que os alunos que estavam nas apresentações eram sempre os mesmos. O que não pude deixar de observar foi que alguns alunos não participavam das apresentações, mesmo levantando a mão indicando que queriam participar. Para Gonçalves (1987, p. 28), “na escola existe um ritual pedagógico que vem reproduzindo a exclusão e, conseqüentemente, a marginalização escolar de crianças e de jovens negros”.

Na ocasião da Páscoa uma cena me chamou a atenção. Durante o ensaio, um aluno não queria pegar na mão de uma aluna negra. Fazia brincadeira fingindo que ia pegar na mão da aluna e soltava. A professora começou a falar para o aluno não fazer isso, que todos deveriam pegar nas mãos dos coleguinhas, que todos são iguais, um tem que respeitar o outro. A aluna saiu do ensaio, a professora continuou e não chamou a aluna para retornar. No dia da apresentação, aquela aluna não apareceu.

Já em outra situação ocorrida no dia das mães, percebi que os alunos negros estavam todos nas últimas filas e à frente estavam

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