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Arte das palavras

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Por:   •  7/5/2014  •  Tese  •  1.056 Palavras (5 Páginas)  •  541 Visualizações

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A Arte da Palavra

Gabriel Perissé

Muitas vezes as pessoas procuram professores de redação escolar, de redação criativa ou de redação empresarial à espera de fórmulas prontas que facilitem a obtenção de uma boa nota, a consecução de um bom romance ou um bom desempenho profissional. Essa atitude denuncia uma grande falta de coragem. Seria preferível que houvesse aqui um pouco de revolta contra os modelos, contra as regras e dogmas que nos dizem o que é escrever corretamente.

Escrever bem é necessário em várias profissões e tarefas:

O pesquisador que precisa escrever uma tese ou um ensaio;

O médico que precisa escrever um artigo sobre sua especialidade;

O advogado que precisa escrever uma petição;

O empresário que precisa escrever um relatório ou um parecer;

Você, quando vai redigir uma carta, um e.mail, quando vai relatar sua experiência amorosa, suas memórias, quando vai explicar por escrito suas concepções políticas, filosóficas, religiosas e, claro, quando vai escrever um romance, contos, poemas, letras musicais, ensaios etc. – você precisa escrever bem.

Escrever é apaixonar-se pelas palavras. É conhecê-las a fundo, lidar com elas diariamente (com força e carinho, sem violentá-las), é respirá-las, é saboreá-las, ser um artista da palavra.

Escrever é conhecer-nos porque escrever é ampliar a consciência que temos de nós, do mundo, e de nós dentro do mundo. Podemos descobrir que somos superficiais, se o que escrevemos é superficial. Que somos desorganizados, ou emotivos, ou fleumáticos, ou imaginativos, ou intuitivos, ou práticos, ou irônicos, ou misantropos, ou cruéis, ou amorfos, ou coléricos, ou fanáticos, ou céticos, ou cínicos, ou altruístas.

Quem escreve precisa ter muitos livros, sem dúvida. É ótimo, por exemplo, colecionar dicionários da nossa e de outras línguas, pesquisar a etimologia de certas palavras.

O dicionário é pai dos inteligentes.

O dicionário é fonte de inspiração, reflexão e ampliação da nossa consciência dentro desse “país” linguístico, cujas fronteiras estão nas almas mais do que nos mapas.

A leitura é um modo de ver, e uma forma de viver. Nós, animais insatisfeitos e robôs rebeldes, encontramos nas palavras um microscópio para captar o minúsculo, um telescópio para intuir o longínquo, um periscópio para ver ao redor, um estetoscópio para investigar o profundo.

Reler é um verbo insistente, que não tem medo de repetição. O próprio verbo reler é um duplo ler, pois se eu leio reler de trás para frente ele fica exatamente igual: é reler para cá...reler para lá...

Mas quem relê lê o diferente no igual. Nunca lerá a mesma coisa que, no entanto, está no mesmo texto.

Os releitores são os alfabetizados para as entrelinhas.

E é o escritor que provoca a releitura, na medida em que cura o leitor da superficialidade e da indecisão.

O leitor que relê foi cativado.

O leitor deve sair diferente de uma leitura.

Por mais prosaico que seja o texto que precisamos escrever, por mais objetiva que seja a necessidade de uma carta ou e.mail, temos de levantar essas pontes com nossas palavras, com nossa personalidade, e fazer delas um caminho vivo para a comunicação interpessoal. E essa comunicação precisa ser original.

Carlos Drummond de Andrade ensinava, ironicamente, que o desenvolvimento da originalidade possui algumas etapas, a primeira das quais é imitar os modelos clássicos, e a última...imitar a si mesmo até a morte!

Uma pessoa original é aquela que traz a marca da evolução contínua, da insatisfação consigo mesma, e da busca de maneiras novas de dizer o que todos já sabiam.

A criatividade está relacionada com o bom humor, com o gosto musical, com a nossa capacidade de interpretar os próprios sonhos, de observarmos os detalhes do que acontece ao nosso redor, de olharmos com empatia para o rosto diferente da pessoa que não fala a nossa língua, que não reza segundo o nosso credo e que não pensa conforme o nosso manual de instruções.

Catão, no século I a.C., dava o conselho preciso e precioso: “Rem tene, verba sequentur” – esteja familiarizado com um assunto, sinta-se seguro com relação a algum tema, e as palavras virão a seguir, naturalmente.

Num

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