Balanço Social

Balanço Social: um convite à transparência das empresas

Por: Cândido Grzybowski*

http://www.balancosocial.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm

Toma corpo no Brasil a idéia do Balanço Social das empresas. Uma contribuição decisiva foi dada por Herbert de Souza (Betinho) que associou o Balanço Social à demonstração da responsabilidade pública e cidadã das empresas, em artigos da grande imprensa. Em 18 de junho de 1997, naquele que veio a ser o seu último ato público, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, Betinho conclamou as empresas a se engajarem na divulgação de seu Balanço Social, oferecendo para isto um modelo concreto. No último dia 3 de novembro, ocasião em que Betinho completaria 62 anos se vivo estivesse, a questão do Balanço Social foi tema de seminário organizado pela Abamec-Nacional e teve destaque no Fórum de Líderes Empresariais da Gazeta Mercantil e na festa de posse do Líder Empresarial do Ano e dos Líderes Setoriais eleitos. Na ocasião, o Ibase apresentou a idéia do selo Balanço Social a ser atribuído às empresas que o divulgarem.

Uma primeiro dado altamente positivo a registrar é a adesão de amplos setores empresarias, privados e estatais, bem como de um número significativo de suas mais importantes organizações, à idéia mesmo de produzir e divulgar os Balanços Sociais das empresas instaladas no Brasil. O fato do apelo de Betinho encontrar eco tão grande revela as alvissareiras mudanças que começam a ocorrer nas práticas empresariais em nosso país. Ao mesmo tempo, as resistências e a falta de consensos mostram que estamos apenas começando. Que o exemplo dos que estão na frente sirva de estímulo e ajude a quebrar a indiferença e pouco caso daqueles que ainda tentam dar as costas à crise social e ambiental que mina nosso desenvolvimento e põe em riso a nossa própria sustentabilidade como sociedade, como nação e como democracia.

O Ibase, uma pequena organização da sociedade civil criada pelo Betinho, engaja-se nesta idéia exercendo aquilo que é sua missão: identificar questões, propor alternativas, interpelar, debater e mobilizar diferentes atores da sociedade brasileira para fazer a sua parte e enfrentarmos juntos as situações e processos que condenam à miséria e pobreza milhões de brasileiros. A sua exclusão dos direitos econômicos, sociais e culturais é incompatível com a democracia e limita nossa própria cidadania. A idéia do Balanço Social é, sem dúvida, uma interpelação às empresas, mas sobretudo um convite para que demonstrem, de forma transparente, como assumem a sua responsabilidade social e cidadã.

Cândido Grzybowski

Por que Balanço Social? A razão primeira e fundamental de uma empresa é econômica: produzir, trocar, distribuir bens e serviços de que necessita uma sociedade como um todo. Mas ao exercer a sua função, a empresa estabelece relações com atores sociais concretos, usando recursos que são patrimônio de todos, num contexto social, político e cultural muito definido. A dimensão social não é algo externo, mas intrínseco à atividade econômica. Porém, a segmentação entre econômico e social e a própria negação do social foi e é ainda uma regra dominante. As concepções e práticas de desenvolvimento entre nós sempre priorizaram o crescimento econômico e tomaram o social como mero derivativo daquele. O resultado disto tudo está aí escancarado e ameaçador: um país que cresce excluindo, aumenta a riqueza e aprofunda a desigualdade. No século que está acabando, o Brasil apresenta notáveis índices de expansão econômica, mas está vergonhosamente fazendo companhia aos mais injustos socialmente. Longe de mim atribuir unicamente às empresas a responsabilidade por esta situação. No entanto, o modelo de desenvolvimento excludente tem nelas um de seus eixos fundamentais. Mais ainda, a solução da exclusão social no Brasil passa pelas empresas. E pior, um sociedade justa e sustentável passa necessariamente por novas práticas empresariais, que integram o social e o ambiental nas suas estratégias econômicas.

Todo mundo sabe que um balanço é apenas um instrumento de aferição, de demonstração do que se passa com uma empresa. Ele não pode refletir o que não foi feito. O Balanço Social é uma forma de demonstração para a sociedade, repito, para a sociedade, de que a questão social está sendo integrada como questão estratégica e vital da empresa. Neste sentido, não é apenas um relatório institucional, necessário e legítimo. Mas é demonstração com dados transparentes, mensuráveis, como é próprio de um balanço como tal. Além do mais, não pode ser confundido com a vitalidade econômica da empresa, medida por clássicos indicadores de seu desempenho econômico-financeiro e investimento tecnológico. Isto é necessário mas insuficiente. É preciso que as empresas demonstrem, com indicadores claros, aquilo que fazem para integrar, interiorizar, a dimensão sócio-ambiental de seus negócios.

O Betinho e o Ibase ofereceram um modelo para a divulgação do Balanço Social. Ele é tão simples que parece óbvio. Toca, porém, as dimensões fundamentais que se quer dar destaque e transparência. Em primeiro lugar, a empresa é um organismo social vivo, composto de gente. O que acontece com gente na empresa é socialmente