COPO DE MANIFESTAGENS
Tese: COPO DE MANIFESTAGENS. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: edjanemazzala • 14/11/2014 • Tese • 778 Palavras (4 Páginas) • 194 Visualizações
Texto 1
A COPA DAS MANIFESTAÇÕES
Anaximandro Amorim
Eu não sou nenhum analista político. Também não sou filiado a partido algum. Tampouco tenho pretensões
políticas. Sou apenas mais um dos quase duzentos milhões de cidadãos brasileiros tentando fazer
valer o seu direito de se expressar, de lutar por um Brasil mais justo e igualitário. Foi por isso que fiz questão
de participar da manifestação do dia 20 de junho.
E, lembrando-me de quando, adolescente, fui às ruas exigir a renúncia de Collor, coloquei uma camisa
preta, simbolizando meu luto; pintei o rosto de verde-amarelo; e usei como cartaz um exemplar da nossa tão
aviltada Constituição de 1988. E, assim, fui para a rua.
De início, o que vi foi lindo. Famílias inteiras, até com crianças de colo; gestantes; idosos e, claro, muitos
estudantes, o que me orgulhou em ver essa garotada politizada, mostrando seu descontentamento, gente
que, daqui a dez, vinte anos, estará aí, nos postos de trabalho, nos cargos de mando, formando opinião.
Saímos da Universidade Federal do Espírito Santo e tomamos a Avenida Nossa Senhora da Penha, uma das
maiores artérias da capital capixaba, incitando, pacificamente, às pessoas do entorno a participarem, com
gritos de “vem pra rua”.
Muitos estenderam bandeiras brancas, às vezes, improvisadas. E todos bradavam “eu sou brasileiro,
com muito orgulho, com muito amor”, o que me fez questionar se, pela primeira vez, conseguimos tomar
uma consciência de nação.
Pena que o final maculou a beleza do movimento. A massa, tomando a frente da Assembleia Legislativa,
foi chacoalhada por uma trupe de arruaceiros, certamente os mesmos que promoveram atos de vandalismo
na frente do Tribunal de Justiça, onde terminaria a manifestação. Esses mesmos que depredaram o
pedágio da Terceira Ponte, importante ligação entre os municípios de Vitória e Vila Velha, e saquearam lojas.
Uma lástima, mas a qualidade da manifestação está diretamente ligada à qualidade dos manifestantes. Enquanto
a turma politizada gritava “sem violência”, os excluídos do sistema se aproveitavam para “protestar”
da única forma que sabem, mostrando ao Estado o fruto de quinhentos anos de exclusão econômico-social
de certas camadas da população.
Fui, ao longo do trajeto, fazendo uma analogia para com a Revolução Francesa. Só que, ao invés de
Marselhesa, cantamos o Hino Nacional Brasileiro. Ao invés da bandeira tricolor (azul, branca e vermelha),
pintamo-nos de verde-amarelo. A comparação não deixa de ter certa razão de ser. Os “mandatários da nação”
parecem se arvorar de um poder absoluto, excludente.
Até direito à “bolsa copa” eles têm! Qualquer pessoa, por menos instruída que seja, tem a consciência
de que um parlamentar custa caro e de que o sistema político, como está, é inoperante. E o arrocho
volta a se fazer perceber. Como nos Primeiro e Segundo Estados franceses, que massacravam com pesados
tributos o populacho, os descamisados. L’État c’est moi.
É claro que essa “revolução” - se é que posso chamá-la assim - não precisa de guilhotina. Nem de atos
de vandalismo. Mas me espanta saber como certos setores midiáticos têm dado relevo ao quebra-quebra,
como se isso fosse a única coisa que acontecesse durante as manifestações. A coisa toda tem uma lógica e,
...