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Cana De açucar

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Por:   •  11/4/2014  •  3.290 Palavras (14 Páginas)  •  265 Visualizações

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A Associação Cultural Ecológica Pau Brasil luta há 20 anos contra os problemas socioambientais causados pela monocultura da cana de açúcar na região de Ribeirão Preto. Nesta região a degradação ambiental causada pelo setor sucro alcooleiro é enorme, sendo as queimadas a principal fonte de poluição atmosférica que prejudica a saúde de toda a população.

A QUEIMADA DE CANA E SEU INPACTO SOCIOAMBIENTAL

I. BREVE HISTÓRICO DAS QUEIMADAS:

O uso do fogo na agricultura é condenado há mais de um século pelos manuais de conservação do solo e edafologia, pelas conseqüências negativas por ele provocadas na produtividade da terra. No entanto é milenar a utilização da queimada para a retirada de florestas e campos, visando à implantação de pastagens e lavouras ou mesmo para a edificação de vilas e cidades, com influência direta na formação de semi-áridos e desertos. Há inúmeros relatos de verdadeiros desastres provocados pelas queimadas de vegetação, muitas delas praticadas pelos exploradores e colonizadores do velho mundo.

No Brasil desde o inicio da colonização as queimadas foram utilizadas para a preparação de áreas para o plantio da cana de açúcar sendo o fogo ateado para a destruição de campos e florestas. Gilberto Freire afirma que “o canavial desvirginou todo esse mato grosso de modo mais cru pela queimada. A cultura da cana valorizou o canavial e tornou desprezível a mata”. O processo é simples. Para plantar a cana derruba-se ou queima-se a floresta. Depois para fabricar o açúcar essa floresta faz falta para manter acesa a chama dos engenhos, ou construir estas infra-estruturas. A cana tem na floresta o seu maior amigo e inimigo. Um exemplo apenas que evidencia a dimensão que assumiu este processo com graves conseqüências principalmente para o Nordeste Brasileiro onde a cana começou a ser implantada logo após o descobrimento.

O inconseqüente uso do fogo para as práticas agropastoris e para a abertura de locais de habitação humana sempre foi à realidade do Brasil desde seu descobrimento, sendo que até hoje se faz sentir os efeitos dessa prática que, aliás, continua vigente.

Com a febre da monocultura da cana, a prática das queimadas passou a ser rotineira. Depois da queima inicial da vegetação existente para a implantação dos canaviais, ocorriam as queimas destinadas a despalhar a cana, para facilitar a colheita. No estado de São Paulo até a década de 70 as usinas eram proprietárias de aproximadamente 30% da área que utilizavam para o plantio da cana. Com o advento do Proálcool (1975) e por causa do extremamente vantajoso subsídio estatal, com juros negativos, e longo prazo de carência, a cultura canavieira avançou com voracidade sobre os campos de outras culturas rurais e em semelhante intensidade o domínio das terras destinadas ao plantio da cana passou para as usinas, por força de aquisição ou de arrendamento.

Neste quadro, a prática da queimada da cana-de-açúcar foi difundida em larga escala, sendo que, desde então, o controle parcial somente tem ocorrido por força dos movimentos sociais que culminam em legislações específicas, ações do Ministério Público e decisões judiciais. Contudo, há no Brasil alguns casos de abandono espontâneo dessa prática. Pequenos produtores de cana-de-açúcar do Município paranaense de Ibati criaram uma cooperativa para produção de açúcar mascavo orgânico e não utilizam adubos químicos ou agrotóxicos e fazem a colheita manual, sem a utilização do fogo, com resultados de produtividade maior que das usinas do Estado de São Paulo.

Seguindo caminho inverso do modelo brasileiro, a partir da década de 70, Cuba iniciou a mecanização das colheitas da cana-de-açúcar, abandonando paulatinamente o uso do fogo nos canaviais, eliminando totalmente essa pratica nos dias atuais. Método semelhante adotou as Filipinas, com associação de outras culturas no meio dos canaviais, sendo que a palha é utilizada como adubo orgânico.

Apesar deste antecedente histórico negativo, as queimadas da palha da cana-de-açúcar continuam sendo praticadas no Brasil, no entanto são bastante combatidas por setores organizados da sociedade, especialmente pelo movimento ambientalista. Na região de Ribeirão Preto a partir de l988 surge uma entidade a Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil que se torna a mais combativa contra as queimadas. Nesse mesmo ano são coletadas mais de 50.000 assinaturas num documento contra as queimadas, que é enviado ao governador do estado, que chega a proibir as queimadas e depois volta a traz por pressão dos usineiros e proíbe as queimadas num raio de dois quilômetros em torno das cidades. Em 1991 junto com varias outras entidades, faz um plebiscito com ampla participação da população, onde 95 por cento votaram contra as queimadas. Todos os anos são numerosas manifestações contra as queimadas, passeatas, colocação de adesivos e audiências públicas com setores da saúde e educação do município. Nesses anos de luta foi estabelecida uma importante parceria entre a ACE Pau Brasil e o Ministério Publico do Estado de São Paulo, com numerosas ações judiciais promovidas contra as queimadas do setor canavieiro.

II. AS QUEIMADAS E A SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA

O uso do fogo na agricultura é altamente pernicioso a terra, pois provoca a desertificação (como ocorreu no nordeste brasileiro), pelas alterações climáticas, como conseqüência da destruição da cobertura florestais nativa e pela falta de proteção para as nascentes e mananciais, ocasionando uma alteração irreversível no ciclo das chuvas.

As queimadas da palha da cana-de-açúcar provocam vários impactos ambientais negativos que afetam a sustentabilidade da própria agricultura. No solo, o fogo altera as suas composições químicas, físicas e biológicas, prejudicando a ciclagem dos nutrientes e causando a sua volatilização.

As queimadas provocam um uso maior de agrotóxicos e herbicida, para o controle de pragas e de plantas invasoras, sendo que esta prática, agrava ainda mais a questão ambiental, afetando os micro organismos do solo e contaminando o lençol freático e os mananciais. A contaminação da água pode atingir níveis de difícil ou até mesmo impossível recuperação.

As queimadas causam a liberação para a atmosfera (segundo foi comprovado pelo INPE de São José dos Campos e UNESP de Jaboticabal) de ozônio, de grandes concentrações de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2), que afetam a saúde dos seres vivos, reduzindo também as atividades fotossintéticas dos vegetais, prejudicando a produtividade de diversas culturas. As queimadas liberam grandes quantidades

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