Crianças Sem Oralidade
Artigos Científicos: Crianças Sem Oralidade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: fonoaudilogi • 1/3/2015 • 3.503 Palavras (15 Páginas) • 425 Visualizações
Avaliação fonoaudiológica em crianças sem oralidade
Autor:
*Simone Rocha de Vasconcellos Hage
*Fonoaudióloga, mestre em Lingüística – IEL – UNICAMP; doutora em Ciências
Médicas – FCM – UNICAMP; docente dos cursos de Especialização em
Linguagem da USC, UNAERP e CEFAC; docente do Departamento de
Fonoaudiologia da Universidade do Sagrado Coração – Bauru
e Universidade de São Paulo – campus de Bauru.
Na clínica fonoaudiológica uma das situações mais comuns é a chegada de
crianças que não falam para avaliação, numa idade em que já se esperaria um razoável
repertório lingüístico. Nestas situações, o fonoaudiólogo pode se ver bastante limitado,
na medida em que não possui um dos elementos fundamentais da sua avaliação, ou seja,
a linguagem oral. Apesar da limitação, vários aspectos do comportamento infantil
podem ser investigados em crianças que não falam.
Em geral, os procedimentos de avaliação de linguagem podem ser divididos em
4 categorias básicas: testes padronizados, protocolos não padronizados, observação
comportamental e escalas de desenvolvimento.
Tanto os testes como os protocolos não padronizados de avaliação de linguagem
são estruturados para investigar as diversas dimensões da linguagem, a saber, fonologia,
sintaxe, semântica, pragmática e implicam em algum nível de oralidade. Mas se essa
oralidade não se apresenta? O que fazer?
2
2
A observação comportamental e a aplicação de escalas de desenvolvimento
podem ser extremamente úteis nesta situação e possibilitar o direcionamento do
diagnóstico e do processo de intervenção.
OBSERVAÇÃO COMPORTAMENTAL
A observação comportamental é um procedimento em que se analisa o
comportamento geral da criança, incluindo os comunicativos, em contextos naturais e
não-estruturados. Em geral, procura-se observar pelo que a criança se interessa, para
onde olha, se presta atenção à fala ou atividade do outro, o que pega, como manipula os
objetos. A observação comportamental pode fazer parte de qualquer processo de
avaliação, independente de se estar diante de crianças, de se ter oralidade, ou mesmo, de
se estar avaliando linguagem. É o procedimento que melhor detecta as funções
comunicativas da linguagem, sendo extremamente útil para entender a natureza
complexa dos processos de aquisição de linguagem (Pérez, 1995). Também é o
procedimento que possibilita a avaliação de linguagem enquanto atividade, enquanto
ação sobre o outro, independente da oralidade (Hage, 1996).
Na avaliação através de observação comportamental não é possível padronizar
“o que é solicitado x o que é esperado”. Na verdade, quanto mais natural e
contextualizada for a interação, mais confiáveis serão os dados obtidos.
É importante ressaltar que apesar de ser a criança o objetivo da observação, o
foco de análise na avaliação não deve limitar-se aos comportamentos da mesma, mas
abranger a interação da qual emergiram. Assim, no que tange à linguagem, dentro de
3
3
uma dimensão mais ampla, o foco de análise abrange as trocas comunicativas entre a
criança e o avaliador. A forma como o avaliador age, reage nas interações é importante
para o entendimento das ações comunicativas da criança.
Mas, afinal, quais seriam os critérios de análise numa observação
comportamental? Que suporte teórico dariam sustentação aos mesmos?
A observação comportametal pode deter-se em dois aspectos do
desenvolvimento infantil, a atividade comunicativa e a atividade lúdica.
ATIVIDADE COMUNICATIVA
Uma criança que não está fazendo uso da linguagem oral, não significa que não
esteja na linguagem. Ao se conceber a linguagem enquanto atividade, um universo se
abre em termos de critérios de análise sobre a avaliação do comportamento
comunicativo infantil. Esses critérios tem sustentação nos estudos sobre a comunicação
pré-verbal (Halliday, 1975; Bruner, 1978; Harding, 1983), e têm se mostrado bastante
úteis ao se avaliar crianças com alterações de linguagem que apresentam nenhuma (ou
restrita ) oralidade (Wetherby et al., 1989; Woodyatt e Ozanne, 1992).
A avaliação da atividade comunicativa pode envolver os seguintes critérios de
análise: intencionalidade, funcionalidade, participação em atividade dialógica, meios de
comunicação, habilidades práxicas articúlatórias e buco-faciais, nível de compreensão e
postura comunicativa dos pais.
Intencionalidade
Apesar da grande carga de subjetividade que
...