Direitos Humanos
Artigos Científicos: Direitos Humanos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Lilianragi • 24/3/2014 • 1.232 Palavras (5 Páginas) • 241 Visualizações
Por uma Nova Perspectiva dos
Direitos Sexuais e Reprodutivos
Como observa Vianna e Lacerda (2004), a trajetória
dos Direitos Humanos parte da afirmação da liberda-
de individual, primando pela definição de direitos
universais soberanos em relação às circunstâncias
estatais, e avança na direção da responsabilização dos
estados na garantia de direitos que passam a ser de-
purados e especificados segundo a particularidade
dos indivíduos e grupos sociais. A discussão sobre os
direitos humanos apresenta, portanto, um movimento
pendular que explicita o antagonismo que o caracteri-
za, ao afirmar sincronicamente o direito à igualdade e
à diferença, à universalidade e à especificidade.
Nesse movimento de especificação dos direitos
universais em ressalvas a grupos específicos, emerge
a consideração da situação das mulheres, adentrando
o tema da sexualidade a partir deste recorte nas pau-
tas das convenções das Nações Unidas. Para Vianna e
Lacerda (2004), a conferência realizada no Cairo, em
1994, representa um marco para a reflexão de direitos
sexuais, sendo resultado do amadurecimento das dis-
cussões acadêmicas feministas. Nessa conferência,
além de questões relativas ao combate à violência se-
xual, bem como à saúde reprodutiva das mulheres,
emerge a idéia de direitos sexuais, que representaria
o alargamento da consideração da sexualidade para
além do viés da lógica da reprodução sexuada, abran-
gendo também as dimensões de bem-estar e prazer
dos indivíduos. No ano seguinte, em 1995, realiza-se
em Pequim a IV Conferência Mundial sobre a Mulher,
consolidando a relação entre direito e sexualidade.
Corrêa (2006) tece uma análise crítica sobre o pro-
cesso de consolidação da associação do direito à sexu-
alidade, tendo sido os direitos sexuais, nas conferên-
cias das Nações Unidas que trataram do tema, restri-
tos à consideração da condição das mulheres, excluin-
do do debate os demais atores que têm seus direitos
humanos violados em função da sexualidade, tais como
GLBT e profissionais do sexo.
Essa crítica é de especial interesse já que reflete a
dinâmica dos debates nacionais sobre direitos sexu-
ais e reprodutivos. A priorização da mulher como su-
jeito dos direitos sexuais e reprodutivos está
explicitada na Carta do Rio de Janeiro (Leal, 2007) –
16 Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.2, p.11-21, 2008
Pelos direitos sexuais e reprodutivos, pela eqüidade de
gênero e em defesa do Estado laico, produzida por pes-
quisadores, docentes, estudantes, gestores e profis-
sionais, participantes do Seminário Saúde, Direitos
Sexuais e Reprodutivos: subsídios para as políticas
públicas, realizado no Rio de Janeiro, em 24 de agosto
de 2007. Vale também notar que o padrão heterosse-
xual está pressuposto na Política Nacional de Aten-
ção Integral em Reprodução Humana Assistida, do
Ministério da Saúde (Portaria Nº. 426/GM, D.O.U. 23/
03/2005) (Brasil, 2005), restringindo, dessa forma, os
sujeitos beneficiários das práticas assistidas de re-
produção.
Para Rios (2007b), fundamental é que o debate avan-
ce segundo a direção apontada pelas ciências sociais,
ao desassociar a sexualidade necessariamente da no-
ção de reprodução, bem como problematizando a no-
ção de ‘saúde sexual’, abrindo o campo para a conside-
ração de diferentes expressões e possibilidades do
exercício da sexualidade para além da naturalização
da heterossexualidade.
Rios (2007b) propõe a formulação de um direito
democrático da sexualidade, enfatizando a necessida-
de da discussão sobre direito e sexualidade a partir
da perspectiva da universalidade dos direitos huma-
nos. Para o autor, três grandes eixos têm estruturado
o debate atual sobre direitos sexuais: (1) a questão
das identidades, relativas às expressões da sexualida-
de, onde se insere notadamente a questão das homos-
sexualidades e das identidades de gênero; (2) as con-
seqüências e condições da
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