Engenharia
Resenha: Engenharia. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Ailtoneu • 18/5/2014 • Resenha • 1.482 Palavras (6 Páginas) • 281 Visualizações
lApesar dos ataques oralistas, a educação baseada nos sinais recebeu grande
notoriedade com as contribuições do Abade Charles Michel L’Épée. Segundo Choi et.
al. (2011, p. 8), o abade se destacou por aprender a língua de sinais francesa com os
surdos que habitavam as ruas de Paris e utilizá-la em prol da instrução dos próprios surdos.
Essa iniciativa marcou a passagem de individual para coletiva da educação de surdos, ao
transformar sua própria casa na primeira escola para surdos do mundo (LANE, 1984, p. 49).
Conhecida como a “Era dourada na educação de surdos” (LANE, 1984, s/p; CHOI et.al.,
2011, p. 8), o ensino através dos sinais propiciou a formação de numerosos educadores
surdos, que se tornaram multiplicadores do método francês de L’Épée e fundaram escolas
para surdos em diversas partes do mundo, como por exemplo, os surdos franceses Laurente
Clerc nos Estados Unidos e E. Huet no Brasil.
No Brasil, Huet foi convidado pelo Imperador Dom Pedro II, em 1857, para inaugurar
o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, escola que funciona até hoje no Rio de Janeiro, sendo
atualmente denominada Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). A influência dos
sinais franceses trazidos por Huet foi mesclado com a língua de sinais utilizada pelos surdos
brasileiros da época, formando a língua brasileira de sinais (CHOI et. al., 2011, p. 14). Além
dos sinais franceses, Huet importou o método francês de L’Épée e os materiais didáticos
de seu mestre.
Contudo, apesar do sucesso internacional, o método francês do abade L’Épée
enfrentou a resistência oralista, não apenas no Brasil, como em várias partes do mundo. Na
Inglaterra, Thomas Braidwood fundou a primeira escola para correção da fala da Europa,
onde ensinava os alunos surdos, por meio da escrita, seguida da articulação das letras
e da pronúncia das palavras. Na mesma época, o alemão Samuel Heinicke inaugurou o
Oralismo Puro, cuja abordagem negava o uso de qualquer recurso manual. Assim como
Konrad Amman o fez anteriormente, Heinicke alegava que o uso de sinais era prejudicial ao
desenvolvimento da fala oral. Surgiu então, o método alemão de Samuel Heinicke, também
denominado “escola alemã” (CHOI et. al., 2011, p. 8-9).
Com o avanço da tecnologia eletroacústica, tornou-se possível aferir o resíduo
auditivo das pessoas surdas, bem como amplificar o som através de aparelhos auditivos.
A promessa da “cura” da surdez parecia uma realidade cada vez mais próxima para os
10
oralistas, que se apoiavam nos aparelhos de amplificação sonora associados ao treino da
fala e da leitura orofacial.
A rivalidade entre o método francês e o método alemão convergiu para o encontro dos
principais educadores de surdos do mundo no Congresso Internacional de Milão, realizado
em 1880. Sem convidar os surdos nem tampouco considerar a opinião deles, os educadores
ouvintes reunidos no Congresso de Milão decidiram pela proibição da língua de sinais em
prol do método oral na comunicação e educação de surdos.
Os prejuízos pela ausência da língua de sinais na educação de surdos foram refletidos
no alto índice de analfabetismo e fracasso escolar, confirmado nos anos seguintes ao
Congresso de Milão (SACKS, 1998, p. 41; MOURA, 2000, p. 49; CARVALHO, 2007, p. 71,
CHOI et. al., 2011, p. 11). Além de demitir todos os educadores surdos que trabalhavam
através das línguas de sinais, Moura (2000, p. 48-9) aponta que a abordagem oralista
focalizava o ensino da fala e desprezava os conteúdos escolares. Com essa postura, o
Oralismo não preparava os surdos para uma profissão, a não ser para exercer funções
como sapateiros e costureiros. Algumas escolas, preocupadas em garantir o sucesso de sua
instrução oralista, chegavam a recusar a matrícula para alunos surdos profundos e surdos
filhos de pais surdos, para acolher somente aqueles que apresentavam reais condições
de oralização. Os alunos surdos que não progrediam na oralidade eram considerados
deficientes mentais, sob uma concepção patológica da surdez, ainda presente em discursos
atuais, que culpa(va) a própria criança pelo “fracasso” de seu desenvolvimento escolar e
linguístico.
Apesar de todo esforço para banir a língua de sinais da vida das pessoas surdas, essa
nunca pode ser realmente apagada. Segundo Choi et. al. (2011, p. 10) as línguas de sinais
continuavam sendo usadas por surdos adultos que as transmitiam de geração em geração,
por estudantes em escolas especiais (ainda que às escondidas) e nas associações criadas
como espaço de encontro entre surdos.
E foi assim, sobrevivendo à proibição, que, em 1960, as línguas de sinais conquistaram
o prestígio linguístico através dos estudos realizados pelo americano William Stokoe.
Este
...