FUNDAMENTOS HISTORICOS

MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

O artigo traz importantes considerações a respeito das origens do serviço social e dos fatos que justificam o surgimento dessa nova modalidade de assistencialismo acadêmico. Por muito tempo o Serviço Social manteve suas concepções atreladas aos dogmas e as doutrinas da igreja católica, o que conferia um caráter extremamente humanístico. No entanto, nos dias atuais os profissionais que atuam na área possuem caráter sócio-político, crítico e interventivo, fundamentado em situações cotidianas além do conhecimento proveniente das ciências humanas e sócias.

O Serviço Social Surgiu inicialmente como uma ferramenta para atender as necessidades da alta burguesia, de modo a solucionar os problemas que aconteciam entre a classe trabalhadora, problemas estes decorrentes do rápido crescimento capitalista, que desde então já se caracterizava como um mercado extremamente competitivo e desafiador. No Brasil a profissão surgiu em 1936, com a inauguração da primeira escola em São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), fortemente atrelado aos princípios do catolicismo. As primeiras entidades sociais foram organizadas pela Igreja Católica para atuar com a classe trabalhadora.

Vários encontros foram realizados na tentativa de promover discussões entre essa classe que atuava na tentativa de definir algumas bases estruturais importantes. Como o período era de acontecimentos históricos relevantes, o motivo primordial desses encontros era adequar o serviço social às novas tendências políticas imposta pela cruel ditadura. Dentre as bases discutidas surgiu a necessidade de repensar no objetivo do serviço social e as frentes de atuação utilizadas em sua metodologia, já que o serviço social assume um caráter conciliador entre indivíduos que por ventura são acometidos por algum desajuste familiar, ou analisando em um âmbito mais, possuem alguma desestrutura com a sociedade.

Outro aspecto de grande relevância posto em discussão, nesse novo panorama de reconceituação do serviço social diz respeito às atribuições dos assistentes sociais enquanto profissionais, a partir de então eles não se limitam a meros executores das políticas sociais, mas são capacitados sim para desenvolvê-las e gerir toda e qualquer base de ação.

A ruptura com a herança conservadora expressas como uma luta por alcançar novas bases de legitimação da ação profissional, e de colocar-se a serviço dos interesses dos usuários. E tem como pré-requisito que o Assistente social aprofunde a compreensão das implicações políticas de sua pratica profissional, polarizada pela luta de classes. Essa interação entre o aprofundamento teórico rigoroso e a prática renovada, politicamente definida, constitui elemento decisivo para superar o voluntarismo, a prática rotineira e burocrática, as tendências empiristas, o alheamento do modo de vida do povo e o desconhecimento do saber popular (IAMAMOTO, 1995).

A profissão que se baseia na igualdade, na ampliação e consolidação da cidadania, livre de preconceitos em como principal empecilho a estrutura tão desigual da sociedade. Essas discrepâncias podem e devem ser discutidas coletivamente através de reflexões teóricas, discussões com os colegas, para a busca de possíveis respostas.

O texto remete a importantes observações no que tange o cenário profissional do serviço social, muitas conquistas foram alcançadas, mas ainda há muitos desafios a serem vencidos, desafios estes que corroboram a construção do profissional assistente social, contribuindo para o amadurecimento do pensar profissional e auxiliando no enfrentamento das questões a serem resolvidas que surgem no decorrer dos anos de profissão.

TEORIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL: DOCUMENTO ALTO DE BOA VISTA

O livro trata de questões fundamentais relacionadas com o novo panorama do serviço social enquanto profissão regulamentada, o homem enquanto ser-social se mostra desajustado e necessita se adaptar ao meio em que vive, no entanto as relações interpessoais nem sempre são fáceis como se espera dessa problemática surge a necessidade de haver um intermédio para conciliar as partes. É justamente nessa problemática que se insere o assistente social.

O livro ainda relata a importância de dois seminários que aconteceram em Araxá (1967), Teresópolis (1970) e Sumaré (1978) eventos que significaram um relevante marco histórico para a situação do serviço social na época. Os documentos provenientes desses eventos tiveram uma repercussão mundial sendo traduzido para outros idiomas e publicado em periódicos internacionais. Dos relatórios escritos durante os eventos surgiram teses e dissertações de mestrado analisando e criticando as posições, ideia, métodos e até a história do serviço social. De uma forma geral o trabalho tem como objetivo fazer uma análise sobre os relatórios desses encontros, confrontando com um documento original de modo a permitir uma maior visão sobre o posicionamento dos assistentes sociais daquela época.

Discutir as diretrizes do serviço social enquanto profissão regulamentada é de fundamental importância para o andamento das políticas que corroborem para a implementação de melhores condições de trabalho bem como contemplem um panorama mais abrangente de assistencialismo. Essas discursões são muito produtivas quando realizadas em eventos que reúnem um numero significativo de profissionais que comungam das mesmas dificuldades diárias da profissão. As trocas de experiências são bastante enriquecedoras, já que as demandas da profissão estão sujeitas a todos os indivíduos.

Encontramos no documento do Alto da Boa Vista – “Teorização do Serviço Social” (1984) - que “o método científico parte da experiência, como todo conhecimento, e tem por objetivo a ordenação do mundo da experiência”, logo, inferimos que o debate em torno do método do Serviço Social é uma preocupação constante no universo da profissão e que os esforços nesse sentido têm nos levado a construir contribuições significativas para as quais, às vezes, não damos a devida atenção. Ademais, as implicações advindas da fomentação de tal discussão – pôr a eficácia de uma determinada metodologia em xeque, por exemplo - nos colocam com precisão a importância de efetuarmos cotidiana e progressivamente com nós mesmos e com as demais disciplinas das ciências humanas e sociais, uma franca relação de reflexão-ação, com vistas a não permitir incorrermos no erro de perder ricos aportes tanto teórico, quanto práticos, elaborados no seio de nossa profissão.