Fazer Pesquisa em Educação Matemática: Desenvolvimento Profissional, Pesquisa e Prática Educativa
Por: 302129 • 22/3/2021 • Ensaio • 2.328 Palavras (10 Páginas) • 158 Visualizações
Fazer pesquisa em Educação Matemática: desenvolvimento profissional, pesquisa e prática educativa
Leocides Gomes da Silva
RESUMO
Este ensaio tem por objetivo problematizar e discutir a pesquisa em educação matemática, a partir da relação entre o professor, seu desenvolvimento profissional, a pesquisa e sua prática educativa. Nessa perspectiva, o professor é visto como pesquisador e sujeito reflexivo de sua prática e das questões emergentes da sala de aula, sendo estes, um dos elementos importante de seu processo formativo, onde, entende-se que o professor é responsável por seu desenvolvimento profissional. Para além da formação de conhecimentos específicos e pedagógicos, se faz necessário estar atento as mudanças sociais, ao espaço escolar e as pesquisas, de modo a promover as mudanças necessárias. Dessa forma, ressalta-se que desenvolvimento profissional, pesquisa e prática docente são indissociáveis.
Palavras-chave: Educação Matemática. Professor pesquisador. Desenvolvimento profissional. Pesquisa. Prática educativa.
INTRODUÇÃO
A Educação Matemática teve sua origem em meio as necessidades de aprimoramento dos processos de ensino e de aprendizagem. Emergiu da necessidade e busca dos professores em construir novas estratégias de ensino para que o conhecimento matemático mais acessíveis aos alunos. No Brasil, pode-se verificar que a partir de 1980 as pesquisas em educação matemática se potencializaram, surgindo o que chamamos de “tendências em educação matemáticas[1]”. Não é o objetivo desse texto discutir essas tendências de forma minuciosa, mas situá-las como parte das pesquisas em educação matemática.
As pesquisas em educação matemática contribuem para a compreensão do processo de ensino e aprendizagem. Tal compreensão acontece em um processo contínuo das estratégias utilizadas, seja numa perspectiva teórica ou prática. Conforme destacam (BORBA; ALMEIDA; GRACIAS, 2019, p.25) as pesquisas se originam das inquietações que nascem em sala de aula. A produção de conhecimento, na, para e sobre a sala de aula, evidenciam a expansão e importância da pesquisa em educação matemática, considerando as suas concepções, perspectivas atualidade diante das transformações do espaço escolar (BICUDO; BORBA, 2012), onde o professor assume um papel importante no processo. Assim, consideremos três pontos de discursão inerentes a profissão docente, o seu desenvolvimento profissional, a pesquisa e a prática educativa.
Dessa forma, emerge alguns questionamentos: Qual a relação entre o professor, o seu desenvolvimento profissional, a pesquisa e sua prática educativa? O que é um professor pesquisador? A reflexão docente produz mudanças para sua formação e para sala de aula?
Ancorado em autores como (PONTE, 1996; SCHÖN, 2000; PEREZ, 2012; D’AMBROSIO, 2012; METZ, 2017; BORBA; ALMEIDA; GRACIAS, 2019), tomamos como ponto de argumentação, a responsabilização do professor no seu processo de desenvolvimento profissional, sua atuação em sala de aula e sua construção como pesquisador “na” e “sobre” sua prática.
PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL, PESQUISA E PRÁTICA EDUCATIVA
No ato continuo de discutir a relação entre desenvolvimento profissional, pesquisa e prática educativa no âmbito da Educação Matemática, se faz necessário pontuar alguns conceitos importantes, o qual guiará a nossa reflexão sobre o entrelaçamento entre essa temática e o professor.
Diante desse destaque inicial, Educação Matemática, segundo Fiorentini e Lorenzato (2006) é uma área de conhecimento das ciências sociais ou humanas, que estuda processo de ensino e aprendizagem em Matemática. Os autores destacam que existem dois tipos de pesquisa em educação matemática.
A primeira modalidade de pesquisa, trata da busca por alternativas metodológicas para auxiliar ou verificar como está ocorrendo a aprendizagem do aluno, considerando a reflexão do professor sobre sua prática. A outra modalidade de pesquisa, se caracteriza como um processo de investigação ou estudos realizados até então ou da própria literatura. Caracteriza-se como um processo de compreensão das questões mais teóricas. De modo geral, as duas modalidades de pesquisas apontadas se articulam entre si.
Para além de uma caracterização, a pesquisa, segundo D’Ambrósio (2012) é o elo entre teoria e prática, se constituindo como algo inerente à prática, onde não há relevância significativa em uma pesquisa que não esteja vinculada com a prática. Nesse contexto, destacamos o papel do professor como um pesquisador, isso pois, “a figura do professor e pesquisador são indissolúveis” (D’AMBRÓSIO, 2012, p. 86).
O professor pesquisador é alguém que estar atento as situações complexas da sala de aula, onde, a partir dessas situações busca interpretá-las e construir mecanismos para solucioná-las. Este profissional, não almeja apenas a implementação de uma inovação ou metodologia (POLETTINI, 1999), mas construir soluções para melhorar a sua forma de atuação e promover momentos de aprendizagem.
Entretanto, uma situação precisa ser superada, a desvalorização das pesquisa realizadas por professores que atuam na educação básica, apontamento destacado por D’Ambrósio (2012). Ainda, apesar das inúmeras pesquisas realizadas nos espaços da sala de aula, notamos um certo distanciamento entre a universidade e a escola, e do professor com as pesquisas realizadas[2].
Nesse contexto, enxergasse o dialogo continuo entre universidade e escola e, a pesquisa realizada pelo professor como de grande contribuição para compreensão e reflexão sobre o fazer pedagógico, ao analisar o impactos de sua prática educativa na sala de aula. Ao pesquisar as questões referentes a sua sala de aula, o professor estará norteando sua ação docente, abarcando quais as questões emergentes e complexa desse espaço, a partir das informações coletadas, o que auxiliará na superação das dificuldades e no desenvolvimento do pensamento crítico (GUIMARÃES; BORBA; SILVA, 2004; METZ, 2017).
Dessa forma, se faz necessário uma postura diferente por parte do professor, onde surge como questão emergente o seu desenvolvimento profissional (PEREZ, 2012; D’AMBROSIO, 2012). Quando falamos em desenvolvimento profissional, muitos professores associam a ideia de formação.
Conforme Ponte (1996, p. 194), a noção de desenvolvimento profissional, se aproxima da noção de formação, entretanto, não é uma noção equivalente. Destaquemos algumas diferenças:
A formação está muito associada à ideia de “frequentar” cursos, numa lógica mais ou menos “escolar”; O desenvolvimento profissional processa-se através de múltiplas formas e processos, que inclui a frequência de cursos mas também outras actividades como projectos, trocas de experiências, leituras, reflexões; [...] na formação o movimento é essencialmente de fora para dentro, cabendo-lhe absorver os conhecimentos e a informação que lhe são transmitidos; com o desenvolvimento profissional está-se a pensar num movimento de dentro para fora, na medida em que toma as decisões fundamentais relativamente às questões que quer considerar, aos projectos que quer empreender e ao modo como os quer executar; ou seja: o professor é objecto de formação mas é sujeito no desenvolvimento profissional; [...] na formação atende-se principalmente (se não exclusivamente) àquilo em que o professor é carente; no desenvolvimento profissional parte-se dos aspectos que o professor já tem mas que podem ser desenvolvidos; [...] a formação tende a ser vista de modo compartimentado, por assuntos (ou por disciplinas, como na formação inicial...); faz-se formação em avaliação, em MS-DOS, em cultura islâmica; o desenvolvimento profissional, embora possa incidir em cada momento num ou noutro aspecto, tende sempre a implicar a pessoa do professor como um todo; [...]a formação parte invariavelmente da teoria e muitas vezes (talvez na maior parte) não chega a sair da teoria; no desenvolvimento profissional tanto pode partir da teoria como da prática; e, em qualquer caso, tende a considerar a teoria e a prática duma forma interligada.
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