Fichamento Do Livro Conhecimento E Transdisciplinaridade II

DOMINGUES, Ivan. Em busca do método. In: ______. (org.). Conhecimento e transdisciplinaridade II. Aspectos metodológicos. - Belo Horizonte. Editora UFMG, 2005, p. 17 – 40.

“(...) distinguir três planos ou níveis ligados ao conhecimento: 1) a história do conhecimento tout court: da ciência, da filosofia, da técnica e da própria arte, que também é um saber; 2) a história das disciplinas que armazenam ou em que se deposita o conhecimento; 3) a história das instituições que abrigam as disciplinas e o conhecimento: universidades, laboratórios, institutos de pesquisa, etc.” (p. 17)

“(...) a sociologia nasceu na França e lá encontrou abrigo, na curva dos séculos XIX – XX, não nas faculdades de letras, como a Sorbonne, em Paris, como era de se esperar, mas na velha faculdade de direito, próxima do Panthéon, que antes abrigara os cursos de economia.” (p. 17)

“O contexto é a atualidade, caracterizado por uma enorme inflação de conhecimento, aliada a uma profusão de disciplinas nunca vista antes. Dessa inflação, pode-se dizer que nenhuma época histórica produziu tanto quanto o século XX” (p. 18)

“(...) nenhuma época histórica teve tantas disciplinas e campos de conhecimento: mais de 10.000 em fins dos anos 90 – responsáveis tanto pelas revoluções da ciência e da técnica, que pela introdução de toda sorte de barreiras que, nos dias de hoje, acabaram por constituir-se em verdadeiros obstáculos epistemológicos para a expansão do conhecimento, a saber: as barreiras da ultra-especialização do sujeito cognoscente e a hiper-fragmentação do saber.” (p. 18)

“O elemento comum das três abordagens, tendo como ponto de ancoragem as disciplinas (pois nenhuma delas se diz contra, anti ou indisciplinar), é a tentativa de encontrar seu objeto – antes dos recortes interdisciplinares- nos chamados programas de pesquisa, capazes de abarcar as mais varadas áreas do conhecimento, em vista de um produto ou objetivo especifico” (p. 19)

“(...) Em 1962, um comitê assessor da Presidência propôs as linhas de pesquisa prioritárias dos próximos anos, devendo receber grande aporte financeiro do governo e agrupando as áreas de humanas, exatas e biológicas, a saber: 1) a teoria da comunicação, envolvendo indivíduos e grupos, fundada em modelos matemáticos; 2) os mecanismos bio-psíquicos do desenvolvimento da personalidade; 3) a neurofisiologia do cérebro; 4) o estudo do psiquismo individual e da atividade intelectual fundado, de um lado, na psicologia animal, e de outro, na teoria das maquinas de calcular.” (p. 19)

“(...) além de um conjunto de passos, procedimento e etapas, todo método pressupõe a formulação de problemas, a introdução de recortes e a seleção de aspectos atinentes ao objeto a ser conhecido, podendo o foco e o parâmetro serem mais ou menos amplos, a depender da perspectiva e do ponto de vista do observador ou do sujeito.” (p. 20)

“Quanto ao objeto, o caminho seguido pelas disciplinas ao conhecê-lo, cuidando de transformar os dados brutos da observação e da experiência em conceitos e teorias, mediante a delimitação do espaço ou domínio do real a ser investigado e a introdução de recortes e pontos de vista.” (p. 21)

“(...) a física reterá sua vibração e amplitude (acústica); a fisiologia se ocupará dos mecanismos de sua produção (órgãos fonadores); a lingüística, além de se ocupar do significante como matéria da fonética fisiológica, colocará em relevo sua propriedade de gerar a significação; o musicólogo, atento aos aspectos físicos e estéticos da arte das musas, estudara o ritmo, a harmonia, a melodia e o timbre” (p. 21)

“(...) O certo é que a constituição das disciplinas, iniciada no mundo antigo, prosseguida na idade media e expandida em escala e profundidade ao longo da modernidade, é um fato da maior importância, e a elas devem-se os feitos extraordinários das tecnociencias modernas, que transformaram profundamente nossa existência.” (p. 22)

“1.1 Experiências multidisciplinares

Características: a) aproximação de diferentes disciplinas para a solução de problemas específicos; b) diversidade de metodologias: cada disciplina fica com a sua metodologia; c) os campos disciplinares, embora cooperem, guardam suas fronteiras e ficam imunes ao contato.” (p. 22)

“1.2 Experiências interdisciplinares

Características: a) aproximação de campos disciplinares diferentes para a solução de problemas específicos; b) compartilhamento de metodologia; c) após a cooperação, os campos disciplinares se fundem e geram uma disciplina nova.” (p. 24)

“1.3 Experiências transdisciplinares

Características: a) aproximação de diferentes disciplinas e áreas do conhecimento;

b) compartilhamento de metodologias unificadoras, construída mediante a articulação de métodos oriundos de várias áreas do conhecimento: a ocupação poderá gerar novas disciplinas ou permanecer como zonas livres, circulando-se entre os interstícios disciplinares, de tal forma que a transdisciplinaridade ficará com o movimento, o indefinido e o inconcluso do conhecimento e da pesquisa.” (p. 25)

“A necessidade de promover a instauração da inteligência coletiva, mediante a cooperação de especiarias oriundas de diversos campos disciplinares, se explica pelo estado atual do conhecimento, caracterizado – vimo-lo – pela acumulação e expansão de uma massa enorme de informações, numa escala tal e numa velocidade tal que até mesmo o especialista não tem controle da situação, não sabemos o que se passa no interior de sua disciplina e especialidade” (p. 27)

“(...) No mundo antigo, uma mente enciclopédica, como a de Aristóteles, dominava virtualmente todo o saber de sua época, acumulando em algumas centenas de livros reunidos em sua biblioteca, que era a maior da antiguidade, antes de sua pilhagem pelos romanos e a construção da biblioteca de Alexandria” (p. 27)

“Um exemplo histórico emblemático dessa inteligência coletiva é a Enciclopédia de Diderot e D’Alembert. Sabe-se que a elaboração da Enciclopédia resultou da participação de 135 colaboradores, oriundos de diferentes campos do conhecimento, sob a coordenação dos dois primeiros” (p. 29)

“Dois