Humilhacao Social
Ensaios: Humilhacao Social. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 22081988 • 7/3/2014 • 3.443 Palavras (14 Páginas) • 353 Visualizações
A DESIGUALDADE E A INVISIBILIDADE SOCIAL
NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA
Ava da Silva Carvalho Carneiro1
O objetivo central deste artigo é analisar a desigualdade social e, consequentemente, a
invisibilidade social. Estes temas centrais na constituição da identidade do povo
brasileiro serão analisados a partir de uma interlocução entre a Sociologia e a Psicologia
desenvolvidas por Jessé Souza e Fernando Braga da Costa, respectivamente. Estes dois
autores apontam em suas obras a desigualdade social como um fenômeno constituinte
da sociedade brasileira. Jessé Souza também critica a visão de autores da sociologia
clássica quanto o surgimento da desigualdade na história da colonização do Brasil. Para
evitar o reducionismo, os autores buscam compreender a invisibilidade social a partir de
uma investigação aprofundada do tema da desigualdade e para isso, dialogam com
diversas perspectivas ao darem conta de temas eminentemente históricos nesta
sociedade.
Palavras-chave: desigualdade social; invisibilidade social; sociedade brasileira.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo constrói uma interlocução entre dois autores, o sociólogo Jessé Souza
e o psicólogo Fernando Braga da Costa. Eles discutem em suas obras a invisibilidade de
atores sociais envolvidos, e encobertos, pela desigualdade historicamente construída na
sociedade brasileira.
Em 2006, Jessé Souza lançou o livro A invisibilidade da desigualdade brasileira
que, embora trate de forma mais específica o tema da invisibilidade social, faz parte de
um longo projeto deste autor pelo desenvolvimento de uma teoria social crítica para
explicar a modernidade periférica e a elaboração de uma alternativa teórica em relação
aos paradigmas do personalismo/patrimonialismo. Segundo Souza (2000), autores da
clássica sociologia brasileira como Sérgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro e
1 Mestranda do Programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia
avapsi@gmail.com
Roberto DaMatta ao tentarem construir em suas obras uma identidade nacional do povo
brasileiro recaem em uma “teoria emocional da ação”, que embora exalte as qualidades
desse povo, não aborda as principais causas da desigualdade no país. Nesta corrente, a
sociedade brasileira é analisada a partir de noções como o personalismo, o familismo e
o patrimonialismo e a explicação do jeito de ser brasileiro fica reduzida a estes
conceitos. Para Souza (2006) os esquemas explicativos utilizados por Hollanda, Faoro e
DaMatta tendem a perder sua relação com qualquer realidade mais ampla a partir do
momento que eles tentam explicar o comportamento do brasileiro simplesmente pelo
próprio comportamento do brasileiro e pela colonização portuguesa, abandonando uma
interlocução mais totalizadora que abarque as construções singulares das modernidades
periféricas, como é o caso do Brasil.
O psicólogo Fernando Braga da Costa por sua vez, aborda no livro Homens
invisíveis: relatos de uma humilhação social, de 2004, o tema da invisibilidade e da
humilhação social a partir de casos empíricos registrados em uma pesquisa realizada por
ele. Ao cursar uma disciplina de psicologia social durante a graduação, este autor teve a
incumbência de exercer por um dia uma profissão considerada subalterna, nãoqualificada
e escolheu acompanhar os garis que trabalhavam na Universidade de São
Paulo (USP). A partir daí, resolveu explorar o tema em sua dissertação e passou dois
anos acompanhando esses trabalhadores, cuja atividade precária (e em condições
precárias) é alvo de humilhação social e provoca imenso sofrimento psíquico nesses
sujeitos.
Para explicar a invisibilidade social enfrentada no trabalho cotidiano dos garis e
construir uma psicologia social crítica, o autor recorre a textos clássicos da sociologia,
da antropologia e da filosofia. Costa (2004) não se limita à sua área de atuação, nem
mesmo à sala de aula. Desenvolve um trabalho etnográfico e torna-se membro de um
grupo de sujeitos socialmente excluídos, profissionais que oferecem “apenas” o corpo
como ferramenta de trabalho. Os garis fazem parte de uma categoria de profissionais
que desenvolvem um trabalho considerado desqualificado, socialmente rebaixado,
trabalho de força bruta, de gente bruta.
Os capítulos seguintes deste artigo desenvolvem as idéias centrais defendidas
por Souza (2006, 2003, 2000) e por Costa (2004) e apontam a perspectiva destes dois
autores em busca de uma postura crítica diante do tema da desigualdade social e da
invisibilidade social brasileira.
2 JESSÉ SOUZA E A CONSTITUIÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL
BRASILEIRA: NOVOS CAMINHOS RUMO A UMA SOCIOLOGIA CRÍTICA
Jessé
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