INVASÃO HOLANDESA A CAPITANIA DE PERNAMBUCO: UMA PERSPECTIVA DOS PRIMEIROS MESES DE BATALHA
Por: didus • 12/4/2015 • Trabalho acadêmico • 1.863 Palavras (8 Páginas) • 281 Visualizações
1 INTRODUÇÃO
Conhecer o passado é um aspecto fundamental da natureza humana, através desse conhecimento, entendemos como ocorreram todos os desenvolvimentos socioculturais, nos baseamos em erros e acontecimentos de épocas anteriores, e aprendemos com isso, ou até tiramos proveitos de certos conceitos, que ainda podem ser aplicados hoje.
Nesse contexto, é possível notar a importância dos documentos antigos. Eles são fontes confiáveis para desvendar a história de um povo. Através da edição de um manuscrito, é possível ter uma visão de uma sociedade, bem como de uma época, mantendo viva a memória de um povo.
Nesse sentido o presente trabalho, pretende discorrer sobre os primeiros meses de batalha na Capitania de Pernambuco no século XVII, usando como base uma relação, retirada de uma fonte histórica e assinada por Mathias Rodrigues em 1630.
Trata-se do testemunho de um religioso que acompanhou quase todo o ocorrido, desde a chegada da mensagem, enviada a vila de Olinda pelo governador do Cabo Verde, João Pereira Corte Real, avisando que a armada inimiga estava a caminho daquela capitania, descrevendo a frota e os equipamentos que traziam, até o relato dos confrontos, com seus sucessos e derrotas, incluindo o saldo de mortos e feridos.
Entretanto, observa-se que o nome do religioso não é afirmado por Rodrigues. Todavia, tendo em vista que o “único homem de muita fé”, como afirma Mathias, presente em quase todos os períodos, é o padre Manoel de Moraes, a quem os índios obedeciam como sendo seu capitão, supõe-se, que ele seja o religioso de muita autoridade que presenciou os fatos e escreveu a carta usada como fonte para a elaboração do manuscrito, “Relaçam verdadeira e breve da tomada da villa de Olinda e lugar de Recife na Costa do Brasil pelos rebeldes de Ollanda”.
Contudo, para entender tal texto, fez-se necessário, descobrir o interesse da Holanda pelo Brasil, especificamente a capitania de Pernambuco.
Os holandeses invadiram o Brasil, em resposta as sanções impostas pelo rei da Espanha, depois da União Ibérica, visando dentre outras coisas, monopolizar não somente o comércio açucareiro como também o de escravos, tendo em vista que, a ideia da criação da Companhia das Índias Ocidentais, era controlar todo o tráfego marítimo do atlântico sul.
Assim, alem da apresentação da transcrição e da análise paleográfica, através de teorias de diversos autores, o trabalho procura transmitir uma noção geral de alguns aspectos sobre fatos históricos que antecederam a época de elaboração do documento manuscrito, desde a morte do rei Dom Sebastião, passando pela união das terras da colônia portuguesa a Espanha, até a invasão de Olinda e Recife, pelos rebeldes holandeses.
2 CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL
Quando Dom Sebastião, rei de Portugal, desapareceu nas areias da África, na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, (PIACENTINI, 2010), seu tio avo, o cardeal Henrique, assumiu o poder, contudo dois anos mais tarde, morreu sem deixar herdeiros. Sabendo disso, Filipe II, rei da Espanha e primo de Sebastião, conseguiu apoderar-se do trono e do império português, incluindo suas colônias. Período de união entre os dois reinos, que ficou conhecido como União Ibérica.
Tendo em vista que, a Holanda estava em conflito com os espanhóis, tentando manter a independência dos países baixos, e que todos os conflitos enfrentados pela Coroa Espanhola passaram a ser também da Coroa Portuguesa. “[...] a liberdade de comércio entre holandeses e portugueses foi prejudicada.” (LEYE, 2008, p. 28)
Segundo a mesma autora,
“Felipe II, ordenou o confisco de todos os navios holandeses que estivessem nos portos de seus domínios na Europa, África, Ásia e América. Nesse momento, Portugal dependia do financiamento e do auxílio técnico da Holanda para o refinamento e comercialização do açúcar brasileiro.” (LEYE, 2008, p. 28).
Essa iniciativa tomada pelo rei Ibérico foi uma tentativa de impedir a chegada dos holandeses no território brasileiro. Que se viram ameaçados em seu lucrativo comércio e como solução para a possível quebra financeira, decidiram ocupar a área produtora de açúcar, isto é, o nordeste brasileiro. A fim de realizar essa empreitada, foi criada a Companhia das Índias Ocidentais.
A primeira tentativa de ocupação ocorreu na Bahia em 1624. Eles “[...] atacaram, ocuparam e saquearam a vila de Salvador. Ficaram lá, durante quase um ano e foram expulsos por forças enviadas pelo rei da Espanha”, (LOPEZ, 2002, p.9), que se uniram a resistência local.
Entretanto os “[...] objetivos holandeses não tinham chegado ao final, à Bahia serviu de aprendizado para que na próxima incursão, [...] tivessem êxito.” (LEYE, 2008, p. 33).
Em 1630 eles retornaram, desta vez para Pernambuco, que, além de concentrar grande parte da produção do açúcar, era uma região menos policiada que a capital da colônia. E é essa parte da história, a ocupação da vila de Olinda, que o documento manuscrito trabalhado, relata.
Assinado por Mathias Rodriguez, o texto foi retirado de uma carta escrita por um religioso de muita autoridade que foi testemunha de quase todo o período de luta com os holandeses.
O relato é o de que em nove de fevereiro de 1630, chegou uma carta enviada à vila de Olinda pelo governador das Ilhas de Cabo Verde, João Pereira Corte Real, avisando que a esquadra inimiga estava a caminho daquela localidade com uma frota de 67 navios, comandados pelo general Henriques Cornelles Lont. 31, eram de maior porte, 24, de menor porte por isso transportavam um numero menor de peças e 12 eram navios pequenos, mais velozes e bem armados que serviam de vigia e para levar avisos.
A carta também descreve as invenções de guerra que a frota holandesa trazia, como, peças de feitas de dois couros de boi, as quais atiravam dez a doze tiros sem se queimarem, lançando a bala a dez ou mais libras, mesmo efeito que se fosse feita de bronze.
De acordo com Varnhagen, depois do conhecimento sobre a armada,
“[...] imediatamente o governador deu a todos o grito de alerta. Espalhou os competentes avisos, para dentro e fora da capitania, convocando a gente à capital, e publicando até bandos, concedendo em nome do soberano perdão aos seus réus homisiados que se apresentassem a tomar as armas.” (VARNHAGEN, 1872 , p.50).
Em 14 de fevereiro, a armada do inimigo, com dezesseis velas, aparece no Rio tapado. Logo, Mathias de Albuquerque acompanhado de soldados em terra e mar, impediram o desembarque dos holandeses na vila. Contudo, essa ação não teve o efeito esperado, uma vez que, navios de grande porte, e muito bem armados, já estavam bombardeando os fortes.
Ainda segundo, o Visconde de Porto Seguro, Varnhagen (1872, p.51), o governador “[...] pretendeu apresentar resistência na margem do rio Doce, onde a maré cheia detivera o inimigo.” Ele complementa, ressaltando que Mathias,
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