Infância E Risco
Artigos Científicos: Infância E Risco. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: tubarao • 14/6/2013 • 1.581 Palavras (7 Páginas) • 244 Visualizações
Infância e Risco
Maria Isabel Edelweiss Bujes
RESUMO - Infância e Risco. A noção de risco aqui em discussão, está associada a
temas como poder e governamento, considerados segundo uma perspectiva pós-estruturalista. Tomando como centrais os conceitos de sociedade disciplinar, sociedade e
dispositivos de segurança, normalização e risco, o trabalho examina, preliminarmente,
algumas transformações nos modos como determinados grupos de crianças vieram a ser
objetificados e como se tornaram alvo de alguma forma de cuidado ou assistência social.
A seguir, problematiza a noção de risco, presente tanto nos discursos do cotidiano
quanto nas políticas para a infância, para indicar sua associação a um tipo de racionalidade
que orienta formas específicas de exercício do poder que se endereçam ao campo
infantil.
Palavras-chave: Infância. Risco. Dispositivos de Segurança. Normalização.
ABSTRACT – Childhood and Risk. The notion of risk discussed in this paper is
associated to themes as power and government, understood under a post-structuralist
approach. Taking as central concepts of disciplinary society, security society,
normalization and risk the work analyzes how determined groups of children undergo
some transformations related to the ways they are seen and how they become a target
to specific modes of attention and social care. Afterwards, the idea of risk present in
daily discourses and in childhood policies is problematized to indicate its relation to a
kind of rationality that guides specifical procedures of power exercises directed to
childhood.
Keywords: Childhood. Risk. Apparatuses of Security. Normalization.158 Educ. Real., Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 157-174, set./dez., 2010.
À diferença da disciplina, a segurança é uma ciência dos detalhes. As
coisas da segurança são as coisas de cada instante, enquanto as coisas da
lei são definitivas, permanentes e importantes (Lazzarato, 2008, p. 47).
Problematizando o Presente
Instigada pela premência de entender as condições sob as quais a infância
é vivida hoje em nosso país, me deparo com notícia publicada em um jornal de
Porto Alegre. Sob o título Verba do FNDE para construir creches, lá é dito que:
Os municípios considerados prioritários no Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE) já podem pedir recursos para a construção de creches. As
unidades devem atender, no máximo, 120 crianças até 6 anos de idade, em dois
turnos, ou 60, em turno integral. Prefeituras interessadas no convênio têm
prazo até 31/7 para enviar documentos ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) (Correio do Povo, 2009, p. 13).
Segundo o site do MEC1
, os municípios prioritários, para ações como as
referidas na notícia, são aqueles que tiveram um baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2005 e 2007, sendo que, atualmente, 1.822
cidades têm prioridade de atendimento. A consulta aos documentos do Ministério da Educação brasileiro indica a preocupação com os índices pífios de
rendimento na escola básica em todos os seus níveis e a posição desalentadora
da educação nacional, frente a de outros países do continente, especialmente
quando considerados os índices de desenvolvimento econômico de tais paí-
ses (em sua expressiva maioria, menores que os brasileiros).
Frente ao quadro, o governo brasileiro propôs metas para aceleração do
desenvolvimento da educação e comprometeu-se com o apoio técnico e financeiro a ações voltadas para o enfrentamento dos problemas, especialmente nas
áreas consideradas prioritárias. O objetivo é melhorar a qualidade da educação
básica em todo o país, por uma mobilização social que envolva reconhecimento
público, notoriedade e que tenha na comunidade um esteio efetivo. Comunidade esta que deverá estar atenta para as metas propostas, para o cumprimento
das ações previstas e para a consecução dos resultados que serão avaliados
através de indicadores numéricos que resultam da aplicação de instrumentos
nacionais de avaliação.
Tanto a notícia reproduzida acima, quanto as informações colhidas no site
oficial, que tratam de ações políticas destinadas à população infantil, assentam-se na necessidade de lidar com a ameaça que representam os contingentes
da população despreparados para constituírem o Brasil do futuro e com a
ampliação das incertezas face a este futuro, incertezas estas que se apresentam
como sintomas do desassossego que ronda as sociedades de hoje. A estraté-
gia de ação política preconizada se baseia na noção de risco: o de que a exclu-Educ. Real., Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 157-174, set./dez., 2010. 159
são do processo educativo formal, das crianças dos segmentos mais
desprivilegiados dos municípios referidos, constitui uma ameaça à segurança
(social, econômica, referente à saúde etc.). E, embora a possibilidade de riscos
seja totalmente aleatória, isto é, possa atingir a qualquer um, a ideia de risco
social
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