LER-ESCREVER: DIMENSÕES QUE SE COMPLEMENTAM NA PRODUÇÃO AUTORA
Exames: LER-ESCREVER: DIMENSÕES QUE SE COMPLEMENTAM NA PRODUÇÃO AUTORA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: gislany • 28/9/2013 • 2.595 Palavras (11 Páginas) • 737 Visualizações
LER-ESCREVER: DIMENSÕES QUE SE COMPLEMENTAM NA PRODUÇÃO AUTORAL
Betty Dantas Silva
Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense - UFF, Niterói - RJ.
Professora da Universidade do Grande Rio – Unigranrio
Assessora Pedagógica do MOVA/SEE-RJ e do NUEC – Núcleo de Educação e Cidadania - UFF
RESUMO
Adotando por procedimento metodológico a análise de produções textuais elaboradas por educadoras do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos - MOVA/SEE-RJ, este trabalho tem por objetivo iluminar variáveis que influenciam as práticas educativas, assim como, as possibilidades do exercício da escrita na conquista da autonomia no campo pedagógico. Reúne registros acerca de conceitos e encaminhamentos pedagógicos, histórias de vida e vivências em sala de aula. Na medida em que desenvolvo apreciações críticas das produções aqui presentes, optei por identificar as alfabetizadoras pelas iniciais dos seus nomes, com o intuito de preservar suas identidades.
APRESENTAÇÃO
Experimenta escrever sem saber ler?
Ziraldo
Percebe-se que as condições materiais de existência do mestre e do aluno, bem como as políticas públicas ativadas no âmbito da educação, provocam reflexos na formação e no exercício dos profissionais do magistério. No entanto, mesmo apresentando limites, por vezes acentuados, no que se refere ao trabalho pedagógico necessário, a escola pública e, por extensão, os educadores populares/comunitários nos surpreendem com práticas pedagógicas originais e criativas.
Os educadores do MOVA2 não possuem, necessariamente, formação na área do magistério, muito menos na área de alfabetização. Acreditamos, como pensava Gramsci, que os educadores não se restringem aos espaços formais de educação. Educador é todo aquele que influencia, convence ou seduz os sujeitos sociais no campo das idéias – não ignoramos que os educadores e as idéias tanto podem libertar como alienar pessoas. Como sinalizou Paulo Freire, há os críticos, mas também os ingênuos e os astutos. Porém, se para nós a empiria tem seus méritos, a formação continuada é vital para o êxito do Programa.
Este século que se inicia têm nos mostrado de forma evidente que educação é cidadania. Os espaços se fecham cada vez mais para trabalhadores sem escolarização básica e contínua. Este princípio se aplica a todos os graus de escolaridade.
Muitos dos profissionais que desenvolviam trabalhos voluntários, atualmente participam do MOVA e, por conseguinte, da formação continuada numa perspectiva dialética e freiriana. Iniciativa que amplia a qualificação e o desempenho dos educadores comunitários.
Para reconquistarmos ou seduzirmos uma população que não teve oportunidade de freqüentar a escola, ou que dela se afastou por não conseguir se adequar às suas normas e valores, é preciso reavaliarmos constantemente a nossa prática pedagógica com vistas à adoção de condutas e metodologias mais acolhedoras, ousadas, criativas e autônomas.
Foi refletindo sobre esse desafio metodológico que resolvemos estimular num dos momentos de formação3, a dimensão escritora dos nossos educadores. Entendemos, que pesquisar e escrever também são partes constituintes do ato de ensinar. Se os educadores criam e recriam caminhos metodológicos, por que não sistematizar seus trajetos?
Seria o nosso desejo uma utopia? Enquanto na linguagem comum, utopia é um “sonho impossível de ser realizado”, concebemos a utopia, como sinaliza Rubem Alves, um ponto inatingível que indica uma direção.
Por quatro dias, seis horas diárias de trabalho, alfabetizadores do MOVA de Araruama, Cabo Frio, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Saquarema, além de propor práticas pedagógicas, registraram suas percepções acerca de conceitos pedagógicos, conteúdos programáticos, suas histórias de vida e dos alunos e até uma carta para o governador foi esboçada num dos nossos encontros. Escritas individuais e coletivas marcaram essa experiência escritora.
Os registros que virão a seguir, retratam bem o movimento dialético da caneta4 - de instrumento estranho e hostil, com disciplina e metodicidade, tende a transformar-se numa das formas técnicas de realização e expressão da nossa intimidade, da nossa inspiração, da nossa liberdade...
Seguiremos a seqüência de escrita dos textos. Inicialmente textos individuais. Posteriormente virão os textos coletivos, desmembrados em dois momentos: a) tema sugerido – escrito pelo grupão; b) tema livre escrito em pequenos grupos. Por fim, virão os relatos das aulas aplicadas no intervalo entre a primeira e segunda fases do curso de formação continuada.
I - TEXTOS INDIVIDUAIS
LIBERDADE...
Que bom é conhecer mundos novos. Com certeza o mundo das letras, das sílabas, das palavras... E como usá-las, dispô-las, principalmente para mostrar as experiências do nosso dia-a-dia.
Lendo na TV a legenda abaixo do vídeo o que não ouvi a Ana Maria Braga falar, minha receita não mais ficará incompleta. Ou ler um livro de história para o meu filho, quando falta a imaginação.
Alfabetizada - Que bom entrei no mundo da leitura e da escrita!
Letrada – participo do mundo em que vivo sem vendas, sem bloqueios, sem medo.
Educadora: I.N.F.C. / Cabo Frio
A educadora em seu texto manifesta o significado apreendido dos conceitos de alfabetização e letramento. O que destaco como interessante, não somente no seu texto, todavia, em outras escritas redigidas no curso, é amplitude atribuída aos conceitos.
- Ser alfabetizado e situar-se no mundo letrado, de fato, seria o bastante para a superação dos medos e garantia de acesso à cidadania? O letramento nos tornaria imune aos medos e às visões parciais do real?
MEU ALUNO DAVI É LETRADO
Alfabetização é a capacidade do indivíduo decifrar códigos e ordená-los.
Letramento é a capacidade que todos temos de expressar o que pensamos, através de idéias ou ações, mesmo em situações que exijam linguagens estranhas ao nosso conhecimento.
Me faz lembrar da história em quadrinhos que meu aluno Davi fez da turma do MOVA. Não tendo intimidade com as letras, Davi não se intimidou.
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