Linguística Cognitiva Moderna
Artigo: Linguística Cognitiva Moderna. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: brunoso • 8/9/2014 • Artigo • 4.683 Palavras (19 Páginas) • 195 Visualizações
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O Pensamento não é uma coisa à toa
Uma reflexão sobre a concepção de mente que subjaz à
Lingüística Cognitiva Contemporânea.
Thais Fernandes Sampaio
RESUMO: Este artigo apresenta algumas reflexões a respeito da tríade pensamento-linguagem-realidade, com o
objetivo de elucidar a agenda da Lingüística Sociocognitiva. Nesse sentido, discutimos alguns de seus pressupostos
básicos como o experiencialismo, o surgimento da linguagem como resultado de um processo contínuo e adaptativo
e o poder figurativo da mente humana, em contraposição às idéias formalistas e cartesianas que dominaram os
estudos lingüísticos ao longo do século XX.
Palavras-chave: Sociocognitivismo; Pensamento; Linguagem; Realidade.
Introdução
A tira humorística que inicia o presente artigo apresenta, de modo muito interessante, uma
discussão que não é nova e que perpassa diversas áreas de conhecimento humano: será, algum
dia, o homem capaz de criar uma máquina capaz de pensar à sua imagem e semelhança?
É possível que cada um de nós apresente uma certa inclinação pessoal para responder, de
imediato, simplesmente sim ou não, quando interrogados sobre o assunto. E é bem provável
também que os argumentos utilizados para defender uma ou outra posição alcancem os mais
diversos domínios – desde crenças religiosas aos mais recentes avanços tecnológicos, passando
por visões aterrorizantes de criaturas dominando seus criadores.
Devemos, entretanto, atentar para o fato de que a questão acima colocada é muito mais
complexa do que possa parecer à primeira vista. Tal complexidade se deve, principalmente, ao
fato de que, uma resposta afirmativa ou negativa a essa questão pressupõe uma reflexão acerca de
temas que há muito tempo ocupam filósofos e, de modo geral, os grandes pensadores da
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humanidade: O que, de fato, diferencia o homem dos seres chamados irracionais? Qual a origem
e o que é a razão humana? Como funciona a mente humana? O homem é, afinal, uma máquina
biológica inteligente?
O presente artigo não pretende apresentar uma resposta definitiva a qualquer dessas
questões. De fato, o que pretendemos é discutir o tema do pensamento humano sob a perspectiva
do cognitivismo contemporâneo, numa comparação com a abordagem tradicional do mesmo. Tal
comparação pretende explicitar os pontos dissonantes entre duas maneiras de conceber a relação
entre pensamento, realidade e linguagem. Assim, de um lado, temos a abordagem predominante
durante todo século XX (cuja origem remonta à Antigüidade Clássica) e, de outro, uma proposta
que começa a tomar forças no final daquele século e que se encontra em plena fase de construção
teórica. Contudo, apesar da tenra idade, tal proposta já se apresenta como uma reação vigorosa e
bem fundamentada aos pressupostos básicos que vêm orientando os estudos na área da linguagem
e em outras áreas do conhecimento humano. Diante dessa dicotomia, Fauconnier e Turner (2002)
vão nomear esses dois momentos, respectivamente, de Era da Forma e Era da Imaginação.
A Era da Forma é caracterizada por uma visão que vem sendo rotulada, de modo bastante
simplificado, como objetivismo, correspondendo a um certo conjunto de doutrinas acerca da
realidade, do pensamento e da linguagem. Em linhas gerais, tal abordagem concebe a realidade
como algo que preexiste e independe dos seres humanos, possuindo uma estrutura completa,
correta e única; a linguagem é entendida como um sistema fechado de símbolos que representa
fiel e diretamente essa realidade externa e, finalmente, o pensamento consistiria na manipulação
abstrata desses símbolos. Foi exatamente essa visão que alicerçou todas as abordagens
formalistas da linguagem.
We will be calling the traditional view objectivism for the following reasons: Modern attempts to
make it work assume that rational thought consists of the manipulation of abstract symbols and
that these symbols get their meaning via a correspondence with the world, objectively construed,
that is, independent of the understanding of any organism.1
(Lakoff, 1987: xii)
1 "Chamaremos a visão tradicional de objetivismo pelas seguintes razões: tentativas modernas de fazer com que isso
funcione assumem que o pensamento racional consiste na manipulação de símbolos abstratos e que esses símbolos
adquirem seus respectivos significados através de uma correspondência direta com o mundo, objetivamente
construído, ou seja, independentemente da compreensão de qualquer organismo." (Trecho traduzido livremente por
mim.)
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Em oposição a tal perspectiva, George Lakoff (1987) apresenta o experiencialismo, que
vai propor uma nova maneira de compreender o pensamento – e, conseqüentemente, suas
relações
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