MÍDIA EDUCADORA: A REPRESENTAÇÃO NA COMÉDIA DA POPULAÇÃO NEGRA – DA BICHA AFEMINADA A MULHER FEIA.
Por: Bruna Loreny • 28/10/2019 • Artigo • 2.862 Palavras (12 Páginas) • 151 Visualizações
MÍDIA EDUCADORA: A REPRESENTAÇÃO NA COMÉDIA DA POPULAÇÃO NEGRA – DA BICHA AFEMINADA A MULHER FEIA.
Bruna Loreny de Oliveira
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação - UFMT
Railson da Silva Veras
Acadêmico de Pós-Graduação em Psicologia Organizacional - UNIC
Eixo do trabalho: (x) Pesquisa concluída ou em andamento; ( ) Projeto de extensão concluído ou em andamento; ( ) Relatos de experiências.
Resumo
O presente trabalho tem o objetivo de analisar as representações de dois personagens humorísticos da televisão brasileira. Vera Verão, personagem do programa humorístico A praça é Nossa, ela faz parte do imaginário popular, tamanho o sucesso que fez, sendo a representação de uma personagem homossexual e negra. A segunda personagem, diz respeito a Juliana Oliveira, assistente de palco do comediante Danillo Gentilli, a qual frequentemente é alvo de piadas de cunho racial e sexual. Para a discussão desse trabalho, partiremos dos Estudos Culturais e das pedagogias culturais, que dissertam sobre os produtos midiáticos, que são pedagogizantes, nos dando material que ajudam a construir nossas identidades, enquanto gênero, sexo, classe, raça e etc. Pensaremos a respeito do papel da comédia enquanto reprodutor de discurso, muitas vezes, trazendo discursos conservadores, usando a comicidade, que como qualquer outro discurso, não está livre dos discursos vigentes na sociedade. Ainda para esse fim, usaremos Moreira (2019) que vai discutir essa temática, apontando o conceito Racismo Recreativo, que por meio de piadas define quem merece respeito ou não, tento como alvos na grande maioria das vezes grupos já subjugados socialmente. O autor também tece críticas ao papel da justiça brasileira, que isenta a comédia dos discursos raciais que ajudam a perpetuar no imaginário popular a visão negativa sobre a negritude, contribuindo assim com a vulnerabilidade dessa população.
Palavras-chave: Educação, Representação, Estudos Culturais, Comédia, Negritude.
Introdução
O presente trabalho pretende expor o papel do humor diante da perpetuação de estereótipos raciais, presente na sociedade brasileira. Historicamente, o Brasil possui uma relação com produções culturais chamadas politicamente incorretas, que frequentemente a população negra é alvo. Para dar embasamento as discussões desse trabalho, partiremos dos Estudos Culturais, que assinalam a importância das mídias na construção de identidades, sensos de classe, raça, sexualidade. Sendo considerada pedagogizante.
Pontuamos ainda, a partir das argumentações de Moreira (2019), que concebe o termo Racismo Recreativo, sobre como a lei brasileira é permissiva, uma vez que não caracteriza racismo, situações que ocorrem de humor, mesmo que seja ofensivo, contribua com estereótipos e com o imaginário dessa população que ainda é a mais vulnerável no país.
Por isso, faremos aqui uma breve análise de duas personagens da comédia brasileira. Vera Verão, personagem homossexual e negra – personagem de muito sucesso, que ainda hoje é lembrada, ficando no ar por 10 anos de 1992 a 2003. A segunda figura é muito popular para com a juventude atual, Juliana Oliveira é assistente de palco do humorista Danilo Gentilli, desse 2014, ela é frequentemente usada para fazer piadas de cunho sexual e racial. Por essas razões acreditamos ser relevante o tema desse trabalho.
Desenvolvimento
Para o desenvolvimento desse trabalho, partiremos da teoria dos Estudos Culturais e das pedagogias culturais, que concebe a mídia como educadora, capaz de produzir, significar, construir identidades e sentidos. Sobre essa metodologia, Larcen (2013) pontua que foi desenvolvida a partir da análise das sociedades modernas e rejeitam a definição de alta e baixa cultura, sendo assim, todas as produções culturais precisam ser estudadas, porque todas contribuem com a estrutura social, cultural e histórica. É importante frisar ainda, que, os Estudos Culturais, possuem grande foco na cultura popular, investigando a produção, recepção e seus efeitos nas relações sociais.
Os Estudos Culturais, contribuem diretamente no campo educacional, para Larcen (2013) possibilitam “o aprofundamento e complexificação da própria educação de seus sujeitos e de suas fronteiras. ’’ (LARCEN, 2013 p.33.) Para Giroux (1995), a educação é continuamente um espaço de se contestar e combater a reprodução social e cultural, o mesmo autor, seguindo os Estudos Culturais, afirma que as formas dominantes de capital cultural reiteram constantemente histórias eurocêntricas e patriarcais e ao mesmo tempo marginaliza e cala vozes das memórias culturais das minorias.
Kellner (2001), explica que a cultura da mídia acaba por induzir as pessoas a se conformarem com a organização social vigente “usando dos prazeres propiciados pela mídia e pelo consumo, para seduzir o público e levá-lo a identificar-se com certas opiniões, atitudes, sentimentos e disposições. ” (KELLNER, 2001 p.12). No que tange às pedagogias culturais, para nós, diz respeito a todos os processos sociais que causam a aprendizagem, produção de sentidos e significados, e claro, a noção de que a educação não ocorre apenas no espaço escolar. O conceito que Brandão (1981) usa sobre educação, se enquadra bem; “processos sociais de aprendizagem”
Segundo Fisher (2002), as mídias produzem conhecimentos “que se dirigem à ‘educação’ das pessoas, ensinando-lhes modos de ser e estar na cultura em que vivem [...] às formas pelas quais se produzem sentidos e sujeitos na cultura” (FISCHER, 2002, p.151). A autora continua argumentando que a TV fala de si mesma através da repetição, propiciando prazer e identificação, um vocabulário facilitado, como denunciador de desigualdades sociais, em suma, como um lugar do bem e da realidade. Partindo desse pressuposto, Ferreira (2018), no livro Luz, Câmera e História, faz uma discussão interessante sobre o uso das mídias e a educação, e pontua:
Filmes, minisséries, documentário e docudramas de grande bilheteria são gêneros cada vez mais importantes em nossa relação com o passado e para o nosso entendimento da história. Deixá-los fora da equação quando pensamos o sentido do passado significa nos condenar a ignorar a maneira como um segmento enorme da população passou a entender os acontecimentos e as pessoas que constituem a história. (ROSESTONE apud FERREIRA, 2018, p.51.)
Não podemos negar que as crianças e jovens passam boa parte do seu dia utilizando TV, internet e têm grande acesso a filmes, séries, redes sociais, mídias em geral e é importante que pensemos os efeitos que essas mídias podem acarretar. Segundo a revista Criança e Consumo[1], que apresenta dados do Painel Nacional de Televisão no Brasil, mostra que em 2004 o tempo em média de acesso à TV foi de 4h43, em 2014 chegou a 5h35, mais tempo em frente à TV do que na escola, sinalizando que esse número poderia aumentar. Então, desde a infância, o sujeito possui contatos com essas mídias e estas podem contribuir diretamente com a sua formação. Para Kellner (2001), as mídias são fontes de informação e entretenimento, sendo assim, pedagogias culturais, que acabam por ajudar a modelar nosso comportamento social, nossa identidade, nossas opiniões políticas.
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