O Brasileiro e seu corpo
Por: 231280 • 14/11/2017 • Trabalho acadêmico • 6.316 Palavras (26 Páginas) • 392 Visualizações
1 Introdução.
De uns tempos para cá, uma verdadeira explosão de discursos e propagandas que procuram induzir as pessoas a certas práticas corporais e a certos comportamentos em relação aos seus corpos. Tal fenômeno merece reflexões mais aprofundas por parte de todos aqueles que se preocupam com os novos rumos de nossa sociedade. É preciso descobrir que por traz da busca de “um corpo bonito e saudável” estão presentes os interesses de um sistema adoecido, neurótico, e neurotizante, cuja meta é sempre o lucro a qualquer custo para alguns poucos ao preço da alienação de todos. É preciso compreender porque ao mesmo tempo em que sofisticam-se as técnicas e os tratamentos corporais (melhorando-se as condições para alcançarmos o padrão daqueles corpos “ bonitos e saudáveis” as pessoas estão, ao contrário, ficando cada vez mais feias e doentias.
O nosso corpo, concretamente e na forma como se representa e é percebido pelo brasileiro, acompanha os matizes fornecidos pelo sistema dominante. Na relação corpo – sociedade há um peso decisivo da estrutura socioeconômica que define os limites da nossa estrutura corpóres.
A necessidade de desmistificar certos modelos de corpo, propostos ideologicamente em nossa sociedade, precisa ser acompanhada de outra que avance em direção a uma visão mais revolucionária do corpo. Eles não podem continuar sendo visto como faz a lógica capitalista, como um simples objeto de produção ou de consumo. Não pode também ser apenas uma máquina, como entendemos o nosso modelo biomédico, cujo mau funcionamento é visto exclusivamente como uma avaria em um mecanismo especifico que tem que ser reparado por meios físicos ou químicos. O corpo humano – verdadeiro - humano deve ser entendido como um sistema bioenergético – dialético – transcendental. Neste sentido o corpo é o próprio homem e como tal não pode ser somente um objeto, mas sim o sujeito, o produtor e o criador da história.
A educação física, em quanto área do conhecimento e aspecto da educação envolvida com o movimento humano, não pode ser alienada em suas especificidades motoras perdendo de vista sua ação pedagógica (e política) de apoio e colaboração às transformações sociais. Todos os profissionais comprometidos com uma Educação Física autêntica precisam descobrir e revelar o enorme potencial educativo que se esconde em sua prática. Qualquer técnica corporal que se apresente apenas como modelo, tende à alienação, pois deixa de lado o manancial criativo da práxis, fator fundamental do desenvolvimento humano e igualmente importante à criticidade necessária à formação de uma sociedade livre e desreprimida.
Capítulo 01
Recordando a nossa história.
Embora ainda hoje encontremos no mundo os mais diferentes regimes econômicos, políticos e sociais, a civilização ocidental, a partir do continente europeu, sempre se moeu através do continente europeu, sempre moveu através de eixos (modos de produção) que caracterizaram as deferentes épocas. Assim, o equilíbrio do nomadismo puro é quebrado pelo surgimento de fatos novos na dinâmica social, como o uso de metais, a agricultura, a domesticação de animais e a tecelagem. Diminuindo a produção em relação ao consumo, o homem encontra uma saída capaz de libertá-lo dessa sobre carga, instituído a escravidão. Para que alguns sejam livres, outros precisão ser escravos. “O escravo produz muito e consome pouco, o senhor produz pouco e consome muito”. Na evolução dessa relação do trabalho agrícola e manufatureiro, o papel do escravo de cérebro embotado e sem estimulo já não é suficiente. “A produção começa a diminuir com o pouco volume do trabalho forçado, e a solução para restabelecer o equilíbrio é devolver ao escravo parte do que produz, a titulo de estímulo. Surge então, o regime de servidão, em que o homem é metade escravo, metade livre, auferindo parte do que produz.”
É na Idade Média (século V a VX d.c) que vigora em toda a Europa o Feudalismo, caracterizado pelo senhor feudal de um lado e o servo de outro, que, embora gozando de certas vantagens em relação ao escravo, obtinha pouquíssima recompensa pelo seu trabalho. O excedente econômico empurra o mercado para uma expansão comercial em grande escala fundando a monetarização das atividades econômicas. Tendo como plano de fundo certa realidade econômica, as sociedades medievais europeias evoluem diante e através de uma realidade sociocultural marcada por fatores políticos, filosóficos, religiosos, científicos e tecnológicos característicos. Com o desenvolvimento da tecnologia agrícola (séculos depois) industrial, as bases de uma nova ordem vão se instaurando. O homem começa a produzir mais que o necessário para o seu consumo, produz-se o excedente econômico. O lucro passa a ser o canal de toda a política do capitalismo emergente. No advento capitalista, o aparecimento do excedente de produção cria no trabalho a força cria no trabalho a força motriz do desenvolvimento econômico e também perspectivas de evolução ampla da sociedade como um todo. Mas por que este excedente vai parar nas mãos de alguns apenas? Por que os outros (que concretamente trabalham) só recebem o suficiente para continuarem vivos... e trabalhando para os primeiros? O caminho está aberto para ideias de Karl Marx. M. Berger assim sintetiza a formação de nossa estrutura econômica e social: “ A tentativa de ocupar o país através de transplantação de uma sistema feudal já decadência na Europa (Portugal) , fracassou após algumas décadas.
A colonização das terras descobertas se tornou possível através da fazenda (sesmaria), tornando-se, a mesma, a mesma, instituição social básica e modelo de um empreendimento econômico, político e sócio cultural, baseado na grande propriedade (portugueses), no trabalho escavo (índios e africanos) e na monocultura (açúcar, etc..). Surge um sistema “oligárquico”, que deita as suas raízes em todo o processo de nosso desenvolvimento histórico.
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