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O Design Para a Inovação Social e Sustentabilidade, de Ezio Manzini

Por:   •  4/11/2020  •  Resenha  •  1.288 Palavras (6 Páginas)  •  492 Visualizações

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Resenha do livro “Design para a inovação social e sustentabilidade”, de Ezio Manzini

O livro Design para a inovação social e sustentabilidade (2008) é resultado das aulas ministradas pelo acadêmico italiano Ezio Manzini, em curso denominado Design.ISDS, promovido pelo programa de Engenharia de Produção da Coppe-UFRJ, em 2007. Na ocasião, o professor foi convidado ao Brasil para que expusesse em uma sequência de aulas as suas ideias acerca dos processos de desenvolvimento, inovação social e sustentabilidade. Como um dos frutos, surgiu o livro que viria a aproveitar os conteúdos de suas aulas, bem como materiais frutos de pesquisas posteriores e de conceitos distribuídos em artigos.

Ezio Manzini é um acadêmico italiano em design nascido em 1945 que tem grande peso nos assuntos que cercam as pesquisas de design para a sustentabilidade, tendo sido, inclusive, premiado no Compasso d'Oro por duas vezes, por suas atividades focadas no design para a sustentabilidade e para a inovação social. Design para a inovação social e sustentabilidade é o segundo livro publicado pelo autor no Brasil.

Sendo o livro que abre a coleção Cadernos do Grupo de Altos Estudos do programa de Engenharia de Produção (UFRJ), Design para a inovação social e sustentabilidade é articulado em: Introdução, capítulos 1, 2, 3 e 4. Neste, Manzini trata de relações e da contribuição que a inovação social pode dar ao design para o desenvolvimento sustentável. Aqui, o autor busca discutir linhas de pesquisa que ainda parecem muito tênues, embora promissoras. Entre suas ideias expostas, está o mote de que “o design para a sustentabilidade requer mudanças sistêmicas”. Com tais mudanças, o autor propõe: “hoje em dia, a sustentabilidade deveria ser o meta-objetivo de todas as possíveis pesquisas em design (e não, como foi visto nos últimos anos, como um tipo de setor especializado, que corre paralelo a outros setores especializados).”

No decorrer da leitura, o autor aborda criticamente o posicionamento dos termos sociais e políticos no lidar com o caminhar rumo à sustentabilidade, apresentando alguns equívocos e no quanto o tema era subjugado em detrimento de assuntos mais “urgentes”. Dessa forma, quando se faz necessária e inevitável a discussão, poucos sabem efetivamente como se portar diante dos problemas expostos. A verdade é que conservamos costumes e consumos sem considerar que é necessário romper com as tendências dominantes de estilo de vida. Estamos constantemente passando por transformações sociais profundas.

“Se nada acontecer, porém, essa transformação continuará, infelizmente, se dirigindo ruma à insustentabilidade.”

Ainda tratando das abordagens iniciais, o autor deixa claro que o design, apesar de ter em seu “código genético” registrada a ideia de ser provedor de soluções e melhorar a qualidade do mundo, em termos gerais, hoje, o design tem sido parte do problema. E alerta sobre a real necessidade de uma ação reativa por parte dos designers, visto que estes lidam diretamente com as interações cotidianas dos humanos com seus artefatos. Sendo assim, o design, seguindo sua missão ética, tem real potencial para fornecer soluções aos problemas abordados.

Passando para a divisão dos quatro capítulos seguintes, o autor os divide em termos conceituais, iniciando pelo tema sustentabilidade. Aqui, de modo geral, expõe-se a necessidade de mudança comportamental relacionada ao consumo, que grita. A transição rumo à sustentabilidade exigirá que os processos sociais praticados na atualidade sofram com a descontinuidade e sugere um movimento de aprendizagem social, consumindo menos recursos ambientais e regenerando a qualidade do seu contexto local, desta forma, a mudança sistêmica é viabilizada para a expansão em termos globais. Ainda sobre esse assunto, o autor tenta atiçar a atenção do leitor quanto à quantificação da expressão “reduzir drasticamente”, levando em consideração o uso de recursos naturais, tendo em vista a manutenção da boa vivência.

Seguindo o fio, a abordagem do capítulo seguinte traz os modos de vida como ponto de discussão central. Aqui, o autor lida com a subjetividade do “bem-estar” e do “viver bem”, uma vez que esses termos são construções sociais e raramente estão diretamente ligados somente à manutenção efetiva das reais necessidade do ser. Mais uma vez, a ideia de bem-estar conduz a um consumo de recursos naturais desenfreado e insustentável. Sendo um dos reflexos de uma sociedade industrial, o avanço da ciência e tecnologia trouxe ao alcance de todos produtos antes acessíveis apenas a poucos privilegiados, tendo nascido, com a democratização do acesso a esses bens, uma sociedade com bem-estar baseado no produto. Porém uma nova sociedade está emergindo, e esta, por sua vez, tem seu bem-estar baseado no acesso e tende a ser ainda mais insustentável que a anterior, uma vez que seu mote principal está focalizado no acesso às experiências, visto que sai-se de uma sociedade saturada de produtos industriais. Porém, vale considerar a existência de uma ilusão de mudança social, notado que parece ser apenas um fator somatório, ou seja, apesar de se buscar experiências, o consumo de produtos não deve ter significativa redução e, indo além, ainda que se a busca seja apenas por bem-estar baseado em vivências e experiências, a possibilidade de acesso a esses serviços pode demandar um alto nível de consumo material. Para o autor, no final das contas, a troca não parece bem uma troca.

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