O Fracasso Escolar à Luz Da Psicanálise

O fracasso escolar segundo a Psicanálise

Segundo Cordié (1996), o termo fracasso costuma opor-se ao sucesso, que está intimamente ligado a um julgamento de valor, ou seja, a demanda de um ser ideal que deve responder as exigências de uma sociedade cada vez mais competitiva e excludente.

Outro ponto a ser destacado é que o fracasso de vida e o fracasso escolar levam em consideração a perspectiva do ter. No âmbito escolar, o aluno tem sido cada vez mais cobrado para alcançar bons resultados na aprendizagem, tal cobrança tem gerado uma série de consequências para a vida futura, pois a ascensão social, a posse de bens e o poder tem ocasionado muita pressão psicológica no sujeito, gerando sentimentos de angustia e frustação.

Conforme dito, o aluno bem-sucedido na escola almeja ser alguém, quando este passa pelo fracasso escolar, acontece um processo de rejeição do individuo a expectativa dos demais. Para Freud, o sujeito encontra algumas formas de construir seu ego. O ego ideal e o ideal do ego revelam-se como uma ferramenta de identificação com um traço específico. No caso do ego ideal a pessoa tende a se espelhar em um traço marcante de um ídolo ou personagem. No que diz respeito ao ideal do ego, ocorre a identificação com uma característica específica, podendo ser de valor moral, religioso ou outro.

Nesse caso, os ideais são modificados de acordo com idade das crianças e a época. O conflito dessas identificações pode paralisar o sujeito e bloquear realizações. Desse modo, podemos dizer que a origem de todos os fracassos escolares e bloqueios no pensamento estão num mesmo fenômeno, que se chama inibição intelectual.

Cientes disso, os problemas de aprendizagens podem ser solucionados pelo desejo da criança em aprender. Este desejo muitas vezes é negado pela imposição dos pais para que seus filhos se apoderem do saber. Nesse contexto, o sucesso é o objeto de satisfação que a criança deve proporcionar aos pais. No entanto, em uma determinada idade, ela se implica e não aceita a concretização das exigências do outro.

A ideia em torno do sucesso como desejo não é apenas vivenciado pelos pais, mas também os professores. Isto ocorre devido à expectativa da direção da escola ou inspeção acadêmica com relação ao professor, que este só é reconhecido se obter bons resultados na turma que lecionou.

Os julgamentos de valor sobre o que é ser um mau aluno podem repercutir em sérios problemas durante toda a escolarização, pois a criança ou adolescente que começa a passar por dificuldades de aprendizagem, tende a imaginar que não é um bom filho, isto pode resultar no aparecimento de neuroses graves.

Diante de tantas exigências presentes no cotidiano escolar e pessoal do sujeito, o professor pode utilizar um importante dispositivo para superar a demanda e o desejo do outro, que é a escuta. Esta escuta não se limita na capacidade do educador ouvir as necessidades do indivíduo, mas se baseia na habilidade de mediar à relação do aluno com o saber.

O vínculo da criança com o conhecimento a ser aprendido não é algo simples e rápido de ser alcançado, mas requer o exercício de uma paciência não passiva. Esta ação implica na percepção de como a criança se vê no mundo, o olhar atento perante seus