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O Futuro E A Cultura Da Imagem

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Por:   •  30/9/2013  •  1.007 Palavras (5 Páginas)  •  315 Visualizações

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Ensaio publicado na revistaIRIS em março de 1983 com o título de O futuro e a cultura da imagem.

Nos dias 2 a 5 de dezembro reuniram-se, nessa cidade dos albigenses e de Toulouse-Lautrec, engenheiros, artistas, economistas, sociólogos e pensadores, para discutirem o "futuro da cultura". Por mais divergentes que tenham sido os pontos de vista, havia consenso quanto a um dos aspectos mais fundamentais do problema: a cultura do futuro será cultura da imagem. Quanto mais progrediam as discussões, tanto mais a reflexão se ia concentrando sobre a função da imagem na sociedade pós-industrial do futuro. Isto foi captado pela seguinte pergunta: "A imagem do cachorro morderá no futuro?". Para ilustrar tal pergunta, foram exibidos hologramas, jogos eletrônicos, fotografias eletrônicas sintetizáveis pelos receptores, e imagens de objetos "impossíveis" projetadas por computadores. Pretendo, neste artigo, considerar apenas um dos parâmetros de tal revolução das imagens pela qual estamos passando: o da transferencia do interesse existencial do mundo concreto para a imagem. E restringirei ainda mais as considerações, ao concentrá-las sobre fotografias.

Enquanto as fotografias ainda não forem eletro-magnetizadas, serão elas superfícies imóveis e mudas, cujo suporte material é papel ou substância comparável. Nessa sua provisória materialidade as fotografias se assemelham às imagens tradicionais, cujo suporte é parede de caverna, de túmulo etrusco, vidro de janela, ou tela. Mas a fotografia se distingue das imagens tradicionais por duas características: (1) foi produzida por aparelho, e (2) é multiplicável. É esta segunda diferença que interessa para as considerações aqui propostas. Porque tem conseqüências profundas para a futura maneira de ser do homem e da sociedade. As fotografias são superfícies que podem ser transferidas de um suporte para outro, Como que descoladas, (decalcomanias). A superfície não assenta firmemente sobre o suporte, como o é o caso das pinturas, (de parede de caverna ou de óleo sobre tela). É como se a superfície fotográfica desprezasse o seu suporte, e estivesse livre de mudar de suporte: pode passar para jornal, para revista, para cartaz, para lata de conserva. Pois é o desprezo do suporte material que é a característica do mundo futuro das imagens.

A superfície da fotografia é imagem. Isto é: sistema de símbolos bi-dimensionais que significam cenas. Isto é o "valor" de toda imagem: que serve de mapa para a orientação no mundo das cenas. De modelo estético, ético e epistemologico de tal mundo. Que "informa". Pois nas imagens tradicionais a informação esta impregnada firmemente no objeto que a suporta. Por isto as imagens tradicionais têm valor enquanto objetos. Na fotografia a informação despreza o seu suporte, e por isto a fotografia tem valor desprezível enquanto objeto. 0 valor está, nela, concentrado sobre a informação mesma. 0 aspecto "objetivo" da fotografia não interessa: o que interessa é seu aspecto "informativo". Querer possuir fotografia de uma cena de guerra não tem sentido: sentido tem querer ver a fotografia para ter informação quanto ao evento. 0 conceito de "propriedade" se esvazia no terreno da fotografia, e com isto se esvaziam os conceitos de "distribuição justa" e de "produção" de propriedade. Sociedade "informática" será sociedade, na qual tais conceitos terão sido superados.

No entanto, tal decadência do objeto e emergência da informação enquanto "sede do valor" não capta, por si só, a revolução pela qual estamos passando. Retomemos a fotografia da cena de guerra como exemplo. Como toda imagem, a fotografia "significa" a cena, isto é: substitui-se simbolicamente por ela. De modo que quem souber decifrar a fotografia, poderá ver "através" dela o seu significado. Parece, pois, que há relação unívoca entre o universo das fotografias e o universo das cenas do "mundo lá fora" : o universo das fotografias é "significante", o mundo das cenas "significado". De fato, no entanto,

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