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O NADA COMO ANGUSTIA DE EXISTÊNCIA: UMA LEITURA DO POEMA CÂNTICO NEGRO, DE JOSÉ RÉGIO.

Por:   •  17/9/2018  •  Artigo  •  7.964 Palavras (32 Páginas)  •  510 Visualizações

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O NADA COMO ANGUSTIA DE EXISTÊNCIA: UMA LEITURA DO POEMA CÂNTICO NEGRO, DE JOSÉ RÉGIO.

                                                                                                 

                                                                                                                  Vanuza Lopes Vieira                                                                                                                  vanuzalv@gmail.com

                                                                                                                                            UEPB

                                                                                   

                                                                                   Prof. Dr. Edson Tavares Costa

edsontavares5@hotmail.com                                                                                                                                           UEPB                                                                                                                 

Resumo: Este artigo faz referência a uma sucinta análise do poema “Cântico Negro”, de José Régio. Nele, procuro discutir o conflito existencial por meio de sua postura dualista entre o bem e o mal, buscando compreender a realidade e a condição humana entre: essência e existência, bem e mal, aparência e realidade, e outros aspectos no poema supracitado. José Régio, um dos percursores da Revista Presença, da segunda fase do modernismo português, tem uma vasta construção literária, que vai da poesia ao teatro e à crítica literária. A construção de sua obra é caracterizada por ter uma estrutura visivelmente aberta no tocante às discrepâncias psicológicas do ser humano, e essas contradições se encontram no íntimo das figuras humanas imaginadas por ele, que conversam e duelam entre si. Assim, também serão evidenciadas a observação e descrição dos pensamentos e sentimentos da própria mente, ou seja, uma introspecção dos embates que o homem tem com o meio em que vive, com o mundo. A questão central do poema “Cântico Negro” é o conflito existencialista do “Eu lírico” como instrumento afiador para atingir o “outro”, apontando a inquietude e a indecisão perante a preeminência de dois extremos: o bem e o mal. A abordagem se dará a partir do aporte teórico de Jean Paul Sartre.

Palavras chave: Existência. Dualismo. Conflito psicológico. Homem.

Abstract: This article refers to a brief analysis of the poem "Song Negro" by Jose Regio. In it, I try to discuss the existential conflict through its dualistic approach between good and evil, trying to understand the reality and the human condition between: essence and existence, good and evil, appearance and reality, and other aspects in the aforementioned poem. Jose Regio, one of the precursors of the Presence Magazine, the second stage of Portuguese modernism, has extensive literary construction, ranging from poetry to theater and literary criticism. The construction of his work is characterized by having a visibly open structure with regard to the psychological differences of human beings, and these contradictions are in the depths of human figures imagined by him, conversing and duel each other. So too will be highlighted observation and description of the thoughts and feelings of the mind itself, that is, an insight of clashes that man has with the environment they live in, with the world. The central question of the poem "Song Negro" is the existential conflict "I lyrical" as sharpening tool to achieve the "other", pointing the restlessness and indecision before the preeminence of two extremes: good and evil. The approach will be made from the theoretical support of Jean Paul Sartre.

Keywords: Existence. Dualism. Psychological conflict. Man.

1.0 Introdução

Considerando que a Literatura em sua extensão é uma obra de arte e que vem de muito tempo caminhando entre culturas distintas nas mais diferentes formas de gêneros: teatro, pinturas, romances, música, podemos vê-la ou tê-la como um meio de conduzir o ser humano a uma viagem fantástica no mais íntimo do seu ser. Esmiuçá-la como instrumento de integração da criatura no meio em que vive é possibilitar que outrem tome conhecimentos de mais formas de arte noutras esferas e que sinta que fazem parte dela como um todo.

Por conseguinte, a literatura se põe à disposição como elemento formador absoluto do indivíduo, seja do lado psicológico ou social. Sua ação é substancial nessa formação e deve está inserida na vida do homem de forma contínua, uma vez que oferece um embasamento cultural inescusável ao sujeito para viver inteiramente sua subjetividade agregada à sua vida cotidiana. E é essa subjetividade que faz com o homem percorra dentro de si mesmo, caminhos ambíguos, muitas vezes controversos, e que na maioria das vezes o conduz ao encontro do “Nada”, ao conflito existencialista ou até mesmo à negação da sua própria existência.

Quando Sartre usa a expressão: “a existência precede a essência”, relaciona-a tão somente à existência humana, já que para os objetos a nossa volta a essência está adiante da existência.  Os objetos à nossa volta são o que são, ou seja, já nascem definidos. Por exemplo: uma tesoura já nasce com a função pensada por seu criador, que é a de cortar.  Sua existência, portanto, será a de cumprir sua essência dada antes que ela existisse, pelo projeto de quem a idealizou. Entenda-se por essência aquilo que faz com que uma coisa seja o que é e não outra coisa. Por exemplo: a essência de uma cama é o ser mesmo da cama, não podendo ser, portanto, uma escrivaninha. Neste caso a essência precede a existência, pois ela só pode existir enquanto cama.

Nos poemas de José Régio, de maneira expressiva, ele transmite aquilo que é característico, recôndito, mas que também é comum a todos; uma vez que o recolhimento e os momentos reflexivos são inerentes ao homem da fase modernista não tão Somente em Portugal, mas, no Brasil também, dado que, naquele momento, o ambiente era voltado à psicologia humana e a disseminação dos movimentos literários era de cunho psicológico, dessa forma, a introspecção efetiva no homem e suas incoerências anímicas agem de maneira incompleta. Encontramos nos poemas de José Régio instrumentos de alento para o discernimento do dualismo do sujeito. Essas duplicidades, na maioria das vezes, deixa o homem neurótico, compulsivo em suas incoerências com ele mesmo e com as suas forças que vão além de sua subjetividade. Estas forças o conduzem a viver hesitando pelos meandros do bem e do mal, de maneira que seja carregado por ela intervindo na sua forma de existir, nos seus pensamentos e nas suas ações.

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