UMA LEITURA COMPARADA DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE MORTE NOS POEMAS: MULHER AO ESPELHO E DIZERES ÍNTIMOS
Por: Manuella Nogueira • 31/1/2019 • Artigo • 4.239 Palavras (17 Páginas) • 318 Visualizações
UMA LEITURA COMPARADA DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE MORTE NOS POEMAS: MULHER AO ESPELHO E DIZERES ÍNTIMOS
Manuella Nogueira da Silva
RESUMO
Este trabalho é um estudo comparativo que teve por objetivo mostrar como Cecília Meireles e Florbela Espanca constroem a imagem de morte nos poemas “Mulher ao espelho” e “Dizeres íntimos” respectivamente. Percebe-se que as autoras possuem temas recorrentes como: o existencialismo, a atemporalidade e consequentemente a morte, e como característica poética a sensibilidade em expressar seus sentimentos, como a angústia, a dor, o sofrimento, a melancolia e o desalento por meio de versos musicais. A análise desses poemas tem caráter bibliográfico com suporte teórico em leituras em autores da Literatura Comparada, como: Tânia Franco Carvalhal (2010) e Sandra Nitrini(2010), também críticos da poesia que discutem sobre a imagem poética, tais como: Alfredo Bosi (2010) e Octávio Paz (2009).
Palavras-chave: Cecília Meireles, Florbela Espanca, Morte, poesias.
INTRODUÇÃO
A teoria do comparatismo foi adotada pelos franceses no início do século XX e propõe o estudo das relações entre duas ou mais séries literárias que busca o reconhecimento não só das semelhanças ou diferenças dos temas literários, mas das peculiaridades existentes no objeto de pesquisa. É sob esse viés que esse artigo foi elaborado, e por conta disso, o presente trabalho tem por objetivo mostrar como Cecília Meireles e Florbela Espanca constroem a imagem da morte nos poemas “Mulher ao espelho” e “Dizeres íntimos” respectivamente retirados das obras “Mar Absoluto” (1945) e “Livro de Mágoas” (1919).
Apesar das autoras não terem mantido nenhum contato, fica evidente que elas possuem vários pontos de convergências em suas obras ao exporem sentimentos de angústia, de dor, de sofrimento, de melancolia e de desalento. Assim, de modo a compreender melhor a expressão poética de cada uma delas, as semelhanças e diferenças na construção da imagem da morte será feita a análise comparada dos poemas, sendo eles: “Mulher ao espelho” de Cecília Meireles e “Dizeres íntimos” de Florbela Espanca. A análise será feita com base na teoria do comparatismo, tais como os estudos das autoras Tânia Franco Carvalhal (2010) e Sandra Nitrini (2010) e também buscará suporte teórico em críticos da poesia em relação à imagem, tais como Alfredo Bosi (2000) e Octávio Paz (2009). Acredita-se que este artigo vislumbra a grande contribuição dada a literatura pelas duas autoras.
A LITERATURA COMPARADA
A Literatura Comparada passou por uma extensa trajetória histórica até obter a função que possui hoje. Foi um processo longo e complexo, pois em seu surgimento estava ligada a correntes cosmopolitas com intuito apenas de comparar estruturas e fenômenos análogos, sem nenhum caráter literário, “com finalidade de extrair leis gerais, foi dominante nas ciências naturais” (CARVALHAL, 2010, p. 08). Somente mais tarde começou a surgir o conceito de comparação, conceito que foi se desenvolvendo em vários países no âmbito da teoria literária, tais como: França, Alemanha, Inglaterra, Itália até finalmente chegar ao Brasil. Antônio Cândido foi um dos percursores da literatura comparada no Brasil, primeiramente: [...] introduziu a literatura comparada na universidade de São Paulo em 1962, quando propôs que a disciplina de Teoria Literária se transformasse em Teoria Literária e Literatura Comparada, com o objetivo de assegurar um espaço institucional a este domínio dos estudos literários. (NITRINI, 2010 p. 194) Os estudos comparados de literatura ampliaram seu campo de investigação e hoje podem ser interpretados como um meio de realizar uma pesquisa interligada a tendências literárias e assim dar embasamento a um estudo de um autor ou obra, pois o comparatismo permite uma análise mais objetiva e profunda do objeto de estudo.
Paralelamente há um denso bloco de trabalhos que examinam a migração de temas, motivos e mitos nas diversas literaturas, ou buscam referências de fontes e sinais de influências, outros que comparam obras pertencentes a um mesmo sistema literário ou investigam processos de estruturação das obras. (CARVALHAL, 2010, p.05) A diversidade desses estudos é o que torna complexo o entendimento da função da literatura comparada, pois esta não deve ser interpretada apenas como um sinônimo de “comparação”, uma vez que muitos trabalhos comparam os elementos em si, como é o caso da crítica literária, não só para analisar as obras, mas também com o objetivo de confrontar obras e autores, e desse modo, explicar e fundamentar juízos de valor. Segundo Carvalhal (2010, p. 07)a crítica literária: Compara, então, não apenas com o objetivo de concluir sobre a natureza dos elementos confrontadosmas, principalmente, para saber se são iguais ou diferentes. É bem verdade que, na crítica literária, usa-se a comparação de forma ocasional, pois nela comparar não é substantivo. A literatura comparada utiliza a comparação não apenas para mostrar as semelhanças e/ou as diferenças entre os elementos da pesquisa, é um sistema ou recurso encadeador que permite atentar para as peculiaridades de cada texto, alcançando uma visão ampla dos processos de produção literária, ou seja, não se limita a uma análise superficial da obra, mas acrescenta conhecimento e desenvolve a capacidade de fazer uma interpretação profunda de textos literários. Desta forma fornece subsídios para se chegar aos resultados das informações colhidas ao longo das análises ao mesmo tempo em que permite investigar relações concretas, tais como: as influências do meio social, político, cultural, em suma, uma análise abrangente da obra. De acordo com Carvalhal (2010, p.7): Pode-se dizer, então, que a literatura comparada compara não pelo procedimento em si, mas porque, como recurso analítico e interpretativo, a comparação possibilita a esse tipo de estudo literário uma exploração adequada de seus campos de trabalho e o alcance dos objetivos a que se propõe. Desta mesma maneira ocorre em trabalhos comparados de análises poéticas, eles não se reduzem a apenas um elemento perceptível na poesia, mas também tornam possível uma análise interpretativa e profunda de tudo que se possa alcançar e notar no texto poético, tendo a visão de um todo. Segundo Carvalhal (2010, p.86) o comparatismo:
Não se restringe à perseguição de uma imagem, de um tema, de um verso, de um fragmento, ou a análise da imagem que uma literatura faz de outras. Paralelamente a estudos como esses, que chegam a bom término com o reforço teórico-crítico indispensável, a literatura comparada ambiciona um alcance ainda maior, que é o de contribuir para a elucidação de questões literárias que exijam perspectivas amplas. Assim, a literatura comparada na investigação de trabalhos poéticos, pretende mostrar uma perspectiva ampla do conhecimento estético, ao mesmo tempo em que por meio da análise contrastiva, propicia uma visão crítica das literaturas.
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