O Pensamento social no Brasil
Por: Helcio Duarte Salles • 14/6/2018 • Ensaio • 3.599 Palavras (15 Páginas) • 330 Visualizações
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA POLÍTICA
HELCIO DUARTE SALLES
PENSAMENTO SOCIAL NO BRASIL – CAPÍTULOS I e II.
Está obra de Octávio Ianni, é um conjunto de seus escritos fundamentais, reunidos e publicado poucos meses após sua morte, com o objetivo de homenagear um dos mais expressivos sociólogos da Ciência Social brasileira, pretendendo oferecer um panorama do pensamento sociológico deste autor.
Discípulo de Florestan Fernandes, artífice da dicção sociológica moderna no Brasil, Ianni, teve como traços de perfil sociológico, o momento ou epicentro cultural paulistano da Universidade de São Paulo (USP).
O BRASIL MODERNO – CAPÍTULO I
INDEPENDENCIA OU MORTE
Ianni discorria que o Brasil, apesar da proclamação da independência de Portugal em 1822, não conseguiu elevar o país a uma condição mais elevada no cenário mundial. Não aboliu a escravidão, não proclamou a república ou a democracia, onde estas foram derrotadas, controladas ou suprimidas pelo manto da monarquia, que recobriu as inquietações e desigualdades em um poder moderador ilusório, e resolver os problemas indígenas, agrários e as diversidades regionais.
Para o autor o que prevaleceu foi o passado, a continuidade colonial, o escravismo e o absolutismo, que garantiu a conservação das estruturas sociais colonialista e do lusitanismo, ao longo do sec. 19, e ainda presentes durante a fase do Brasil Império.
Já em meados do sec. 19, figuras como Mauá, Alves Branco e Tavares Bastos, já expressavam as inquietações sobre um país em anacronismo de seu tempo, atrasado em relação a corrente histórica mundial emergente.
A guerra do Paraguai, provocou um choque de realidade no país, ao revelar na prática o anacronismo sintetizado pela monarquia e escravismo brasileiro. A subserviência aos interesses ingleses, se mostravam graves e insuportáveis e o regime monárquico e o trabalho escravo, revelavam-se abertamente inadequados.
Enquanto o país conseguia completar a mudanças cabíveis em 1822, o mundo capitalista já começava a ingressar no século 20, e o mundo começava a deixar o capitalismo competitivo por outro monopolístico. Na prática o mundo era repartido entre as nações capitalistas. A emergência do grande capital financeiro inaugurava o século 20.
O Brasil no final do século 19 parecia viver no final do século 18, onde a persistência do escravismo e os artifícios do manto monárquico, configuravam um poder estatal distante, alheio aos interesses populares. A legitimidade do poder era imposta não só pelo alto, mas de fora, devido aos interesses estrangeiros, e indiferentes aos movimentos mais gerais da sociedade.
ORDEM E PROGRESSO
Em 1888-89, o Brasil tentou entrar no ritmo da história, aboliu a escravatura e a monarquia, proclamando a república e o trabalho livre. Promoveu a liberação das forças econômicas e políticas interessadas na agricultura, indústria e comércio, e favoreceu a imigração de mão-de-obra para a lavoura, povoadores para as colônias em terras devolutas e artesão para a indústria, promovendo a europeização ou o branqueamento da população, para acelerar o esquecimento de séculos de escravismo.
As campanhas abolicionistas e republicanas no país, mobilizaram forças empenhadas em mudanças políticas e sociais, além dos objetivos humanitários pelo fim do escravismo, onde abolicionistas e republicanos após esta conquista se aliaram em busca de conquistas democráticas. Apesar de existirem diversos grupos interessados em promover a democratização do poder estatal, prevalecem os interesses dos cafeicultores do oeste paulista em aliança com canavieiros, pecuaristas e seringueiros de diversas regiões, e os interesses de setores burgueses emergentes.
Predomina a economia primária exportadora pelo governo federal, e o patrimonialismo em assuntos privados e públicos. O liberalismo econômico prevalecia nas relações econômicas externas, onde se destacava a Inglaterra, mas no que se referia aos assuntos internos entre setores dominantes e assalariados, o que predominava era o patrimonialismo. O patrimonialismo compreendia tanto o patrimonialismo da casa-grande e do sobrado, quanto a violenta repressão aos movimentos populares no campo e na cidade como exemplo a Revolta de Canudos, Revolta da Vacina entre outros movimentos, que caracterizavam uma República Liberal e Patrimonial.
Estava em marcha a revolução brasileira, ou a revolução burguesa, com desdobramentos em décadas de manifestações sociais, econômicas, politicas e culturais diversas. Enquanto movimentos sociais, partidos e correntes de opinião pública tentavam entender a república e o regime de trabalho livre e a herança de séculos de escravismo, patriarcalismo, divisão de brancos, negros e índios, forças sindicais continuavam a operar por dentro e por fora dos interesses liberais e patrimoniais. É nesta perspectiva que em 1922, surge o tenentismo, movimento civil militar com o objetivo de alterar as estruturas oligárquicas prevalecentes; Criação do Instituto Dom Vital com intuito de preservar a civilização ocidental, a fundação do Partido Comunista Brasileiro, oriundo do anarco-sindicalismo, empenhado na luta pelo Socialismo, e a realização da Semana da Arte Moderna em são Paulo, procurando novos temas e linguagens para as artes e o pensamento social no país. Parece que o Brasil começa a ingressar no século 20.
Os movimentos sociais indicavam antagonismos, mas estavam preocupados em mudar alguma coisa, seja para frente ou para trás, mas mudar. Para que o país não continuasse como ia. Parecendo atrasado, anacrônico.
NACIONALISMO E DESENVOLVIMENTISMO
Desde a abolição da escravidão e proclamação da república, uma crescente procura em explicar e compreender as condições e possibilidades de progresso, urbanização, europeização, americanização civilização do Brasil. Em uma sociedade atônita por séculos de escravidão, uma forte preocupação com os dilemas básicos da sociedade nacional: agrarismo e industrialismo; cidade, campo e sertão; preguiça, luxúria e trabalho; mestiçagem arianismo e democracia racial; povo e nação; colonialismo, nacionalismo; democracia e autoritarismo.
A história do pensamento brasileiro está atravessada pelo fascínio da questão nacional. Muitos, interessados em compreender e explicar ou inventar como se forma e transforma a nação, suas forças sociais e valores culturais, tradições, heróis e santos, monumentos e ruínas. A preocupação está no significado das diversidades regionais, étnicas ou raciais e culturais, além das econômicas e políticas. A preocupação com as três raças, a mestiçagem, a democracia racial, e questões de desigualdades regionais e raciais. É nesta época que desabrocham a interpretação de fundamentos clássicos da sociedade brasileira em teorias desenvolvidas pelo pensamento europeu e norte-americano. Parecem mais contemporâneos ao refletir sobre temas como tradições e herança portuguesa, as marcas do escravismo, os obstáculos e as possibilidades de formação do povo, o corporativismo e antagonismos entre público e privado, contradições de classes, e separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário, a democracia e a ação moderadora do poder militar, o estado forte, as debilidades da sociedade civil, e o potencial de lutas populares do campo e da cidade.
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