O Serviço Social
Artigos Científicos: O Serviço Social. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: isabe1823 • 27/3/2014 • 3.783 Palavras (16 Páginas) • 308 Visualizações
. O Serviço Social e a aproximação com a tradição marxista
O Movimento de Reconceituação emerge na metade dos anos 1960 e fez estremecer
as bases do tradicionalismo profissional, conformou no Brasil um conjunto de
características novas articuladas pelos profissionais, sob a direção da autocracia
burguesa, na busca de dotar o Serviço Social de maior consistência em seus
elementos internos, que organizam tanto a sua legitimação prática quanto sua
validação teórica (NETTO, 2008).
Neste contexto de mudanças, a profissão assume as inquietações e insatisfações
deste momento histórico e direciona seus questionamentos ao Serviço Social
tradicional através de um amplo movimento, de um processo de revisão global, em
diferentes níveis: teórico, metodológico, operativo e político.
É no interior deste movimento (não homogêneo), de questionamentos à profissão, que
a interlocução com o marxismo vai configurar para o Serviço Social latino-americano a
apropriação de outra matriz teórica: a teoria social de Marx (YASBEK, 1999). No
entanto, é válido ressaltar que esta apropriação não se dá sem problemas, como
falaremos adiante.
1 Assistente social, Mestre em Política Social (UFES, 2008), Doutoranda em Serviço Social
UFRJ 2011/1. Professora do curso de serviço social na Faculdade Salesiana de Vitória/ES. Email:
mirianbasilio@yahoo.com.br.
É no cenário do movimento de reconceituação e em seus desdobramentos, que se
definem de forma mais clara e se confrontam diversas tendências voltadas à
fundamentação do exercício e dos posicionamentos teóricos do Serviço Social.
Tendências estas que resultam de conjunturas sociais particulares dos países do
continente e que levam, por exemplo, no Brasil, o movimento em seus primeiros
momentos, num cenário de ditadura militar2 e de impossibilidade de contestação
política, a priorizar um projeto de modernização conservadora (NETTO, 2008), que
podem ser verificados nos encontros e posterior, nos documentos de Araxá e
Teresópolis.
Os países do Cone Sul da América (Uruguai, Argentina e Brasil), assumem uma
perspectiva crítica de contestação política e a proposta de transformação social. No
entanto, esta posição encontrou dificuldades de ser levada à frente devido à “explosão
de governos militares ditatoriais” e também, devido à “ausência de suportes teóricos
claros” (YAZBEK, 1999, p. 24).
Até o final da década de 1970, o pensamento de autores latino-americanos e a
iniciante produção brasileira divulgada pelo CBCISS, principalmente, guiou tanto a
formação quanto o exercício profissional no Brasil. Com o desenvolvimento do debate
e da produção intelectual do Serviço Social brasileiro esta situação foi se modificando
e resultou na explicitação de vertentes de análise diversas no interior do Movimento de
Reconceituação: a vertente modernizadora; reatualização do conservadorismo e
intenção de ruptura (NETTO, 2008; YASBEK, 1999).
A vertente modernizadora é assinalada pela incorporação de abordagens
funcionalistas, estruturalistas e sistêmica (com base na matriz positivista), dirigidas a
uma modernização conservadora e à melhoria do sistema pela mediação do
desenvolvimento social e do enfrentamento da marginalidade e da pobreza na
perspectiva de integração da sociedade (NETTO, 2008; CBCISS, 1989).
Os recursos que esta vertente vai buscar para atingir os seus objetivos são procurados
em procedimentos e relacionamentos interpessoais e na modernização tecnológica.
Este caminho configura um projeto renovador tecnocrático baseado na busca da
eficiência e da eficácia, que devem nortear a produção do conhecimento e a
intervenção profissional (YASBEK, 1999).
Já a vertente de reatualização do conservadorismo, de inspiração fenomenológica, a
qual emerge como metodologia dialógica, apropriando-se também da visão e pessoa e
comunidade, aos sujeitos e suas vivências, coloca para o Serviço Social a tarefa de
auxiliar na abertura desse sujeito existente, singular, em relação aos outros, ao mundo
de pessoas. Esta tendência que no Serviço Social brasileiro vai priorizar as
concepções de pessoa, diálogo e transformação social (dos sujeitos) é analisada por
Netto (2008) como uma forma de reatualizar o conservadorismo que esteve presente
no pensamento inicial da profissão.
E, a vertente de intenção de ruptura, com base no referencial marxista que remete a
profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes e que no Brasil vai
configurar-se, em um primeiro momento, como uma aproximação ao marxismo sem a
ida ao pensamento de Marx. Segundo Netto (2008) este primeiro
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