O Todo Conhecimento é Autoconhecimento
Por: bbellas • 26/9/2018 • Resenha • 822 Palavras (4 Páginas) • 307 Visualizações
Todo conhecimento é autoconhecimento.
Com o surgimento da ciência moderna, o homem enquanto sujeito epistêmico, cujo conhecimento é real e cognitivo, ganha força frente ao empírico posto que para que se produza um conhecimento objetivo é imprescindível que não haja interferência de conceitos morais, crenças e/ou religiões.
A partir desse desmembramento de concepção entre sujeito empírico e epistêmico foi estabelecida também a separação entre sujeito e objeto posto que os instrumentos a serem estudados eram os próprios seres humanos. Dessa forma, a distância empírica entre sujeito e objeto estava diretamente relacionada com a distância epistêmica entre ambos.
Um bom exemplo disso é a distinção entre os métodos e objetos das ciências sociais – Antropologia e Sociologia – que causam um certo detrimento e atraso frente às ciências naturais. A Antropologia Social estabeleceu o homem primitivo como o seu objeto de estudo, enquanto o antropólogo era o sujeito que investigava o instrumento de estudo fazendo uso de uma considerável distância entre o sujeito e objeto, surge a necessidade metodológica de que ocorra uma maior proximidade entre um e outro o que ocasiona a redução do espaço entre objeto-sujeito. Já na Sociologia, essa distância era naturalmente reduzida pelo fato dos cientistas sociais estudarem os concidadãos europeus, então, essa distanciação entre sujeito e objeto passou a ser aplicada através de metodologias de distanciamento.
À medida que os anos foram passando e esses estudos foram intensificados, a visão do homem dentro das ciências sociais passaram por uma brusca transformação onde o selvagem era parte do contexto social e os concidadãos dos cientistas europeus passaram a ser estudados utilizando metodologias antropológicas.
Por outro lado, nas ciências naturais houve uma reapropriação da natureza enquanto produto da exploração do homem e o consequente afastamento entre ambos devido ao avanço tecnológico avançado, traz à baia a ideia de que o conhecimento materialista se torna também um conhecimento idealista através do qual o ato de conhecer e o produto obtido pelo conhecimento eram indissociáveis.
Ao analisar a produção do conhecimento nas ciências sociais e naturais é possível perceber que o objeto é um sujeito continuado o que o torna fruto do autoconhecimento. Pois, não existem na ciência descobertas, mas, criações resultantes das experiências que levam o cientista a encontrar um conhecimento íntimo para que assim ele possa compreender o que é utilizando os princípios morais, as crenças e os juízos de valor como parte integrante dele.
A ciência moderna não é, portanto, a única forma de explicar a realidade e não é superior a nenhuma outra fonte de conhecimento, bem como, a explicação científica dos fenômenos nada mais é do que uma autojustificativa da ciência.
Com a difusão da ciência moderna, os seres humanos não se consideram mais capazes de explicar a realidade sem que tenham embasamento nos conceitos científicos. De uns anos para cá, a ciência passa por um processo lento de naturalização através dos quais os cientistas começaram a perceber que eram as suas convicções sociais que davam corpo às experiências por eles desenvolvidas.
Na atualidade, os cientistas compreendem que são as suas trajetórias sociais e individuais, além, dos seus conceitos de moralidade e crenças que norteiam o conhecimento científico produzido, ainda que isso seja dado de maneira subjetiva.
As descobertas da ciência moderna trazem um conhecimento de mundo tão aprofundado que corrobora com a melhor sobrevivência humana e para que isto se materialize é necessário que o conhecimento seja produzido de forma íntima onde homens e ciência estejam interligados e não dissociados.
Sendo assim, a limitação técnica reconhecida pela ciência torna-se então o caminho para a melhor compreensão de um mundo que não deve ser apenas manipulado e experienciado, mas – sobretudo - contemplado.
A criação científica deve, dessa forma, apreciar e transformar o real tornando a ressignificação do conhecimento científico uma vivência da ciência através de sua subjetividade utilizando-se do saber prático desenvolvido pelas experiências socioculturais humanas.
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