Peça teatral

Clara entra em cena, acompanhado de Lúcia. Há um embrulho sobre o sofá, que chama a atenção de Clara.

CLARA        — (pega o embrulho) O que será…?

Ela abre e se depara com uma bíblia. Enquanto isso, Lúcia fica completamente alheio, distraído.

CLARA        — Uma bíblia.

LÚCIA        — (surpresa) Como é?

Dentro da bíblia há uma carta e Clara a lê em silêncio. Tocado, ele vai sentar-se no sofá, deixando a carta de lado. Lúcia corre e se apodera da carta, para lê-la.

LÚCIA        — (lê em voz alta, enojada) “Pra você, querida filha. Que esta seja sua espada na guerra que é a vida. A Palavra do Senhor é viva e eficaz. Com amor… mãe.”. (Tom) Que absurdo! (a Clara) E você, por que está com essa cara de idiota?

Clara parece não ouvi-la.

LÚCIA        — Você está ligada no que ela está querendo fazer, não está? A velha está tentando te converter, colocar um cabresto em você! Pra quê dar uma bíblia? Bíblia serve pra quê?

CLARA        — Bíblia serve pra quê?

LÚCIA        — Foi o que te perguntei! Ela quer é te tornar um deles, dessas crentes com coque, de saia no joelho cor-de-burro-quando-foge, que anda com a bíblia embaixo do braço. Quer que você deixe de sair para ir aos cultos, sentar, levantar, cantar, orar. Toma uma atitude!

CLARA        — Eu preciso tomar uma atitude…

Anjo surge, tocando uma harpa.

ANJO        — Concordo, Clara! Tome uma atitude, mude de vida e se entregue para Deus!

Lúcia fica ainda mais indignada ao ver Anjo.

LÚCIA        — Ah, isso só pode ser brincadeira! É pegadinha? Vai passar no Programa Silvio Santos?

ANJO        — (aproxima-se de Clara) Esse é o melhor presente que você poderia ter recebido!

LÚCIA        — (aproxima-se também) Presente bom seria uma garrafa de vodca importada. Bíblia não é presente bom! Mas anda… já que você ganhou, abre no salmo 91 e deixa ali, no canto, pra juntar poeira como em tantas outras casas!

ANJO        — Você precisa mudar, Clara…

LÚCIA        — Não precisa, não!

ANJO        — Precisa, sim!

LÚCIA        — Não precisa, não. Ou, na Palavra, Deus não diz: “vinde a mim como estais”, meu irmão?

ANJO        — Ele diz. No entanto, a Clara já conhece a Jesus. Ela só precisa se conscientizar de que precisa dele para viver bem.

LÚCIA        — Sim… para viver bem tediosamente!

ANJO        — Jesus te ama, Clara.

LÚCIA        — Ô! Ama tanto que quer te privar de tudo o que é bom!

ANJO        — Como um pai, ele só quer o teu bem. Ele não te priva de nada, apenas alerta sobre os perigos que “o que é bom” oferece. (a Clara) Ou, acaso, não está na Palavra: “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”?

LÚCIA        — Você está vendo só, Clara? Pra Deus, não lhe convém viver a vida.

ANJO        — Clara…

LÚCIA        — Bebedeiras, nunca mais. Drogas, nem pensar! Beijo na boca é coisa do passado! Pornografia, então, está fora de cogitação! Você não vai ter nada do que gosta.

ANGJO        — Vai estar livre das amarras que essas coisas representam! Vai ser uma mulher boa, honesto, honrosa, vai emanar o brilho de Jesus!

LÚCIA        — Vai ser, praticamente, uma lâmpada!

ANJO        — Eu diria mais: o Clara tem potencial para ser como um farol.

LÚCIA        — Pensa bem, Clara. Olha só quanta chatice!

ANJO        — Só Deus te oferece a vida eterna, amada…

LÚCIA        — E quem é que quer vida eterna, irmão?

Lúcio abraça Clara e a conduz até a frente do palco, mostrando-lhe a plateia.

LÚCIA        — (cont.) Esse é o mundo, Clara. Tá vendo? Isso tudo já é teu! Vai abrir mão?

ANJO        — O mundo jaz no maligno.

LÚCIA        — Pensa bem, minha querida… iates, dinheiro, homens, bebida!

ANJO        — Vida eterna ao lado de Jesus.

LÚCIA        — Ou iates, dinheiro, homens, bebida!