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Pesquisa feminista

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Por:   •  17/10/2014  •  Tese  •  1.680 Palavras (7 Páginas)  •  310 Visualizações

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Ambígua, a bruxa pode ser tanto a bela jovem

sedutora (ainda sem marido e cheia de pretendentes) como

a horrenda anciã (viúva solitária), aparentada com a morte.

Como um tipo psicossocial que emerge no final da Idade

Média, essa imagem abarca uma ampla gama de traçados

históricos sobre as mulheres e as várias etapas de suas vidas:

infância, menarca, juventude, defloramento, gravidez,

parto, maternidade, menopausa, envelhecimento e morte.

O que a figura da bruxa ensina é um certo modo de

enxergar a mulher, principalmente quando esta expressa

poder. Ao longo de muitas eras da civilização patriarcal, a

lição predominante sobre as mulheres que fazem uso de

poderes ou que se aliam a forças que, de um modo ou de

outro, a máquina civilizatória não consegue domar é bem

conhecida de todos. Toda expressão de poder por parte

de mulheres desembocava em punição. Cunhada dentro

do cristianismo, a figura das bruxas traduzia-se em mulheres

devoradoras e perversas que matavam recém-nascidos,

comiam carne humana, participavam de orgias,

transformavam-se em animais, tinham relações íntimas com

demônios e entregavam sua alma para o diabo. Uma

análise da farta literatura sobre o assunto nos mostra que a

caracterização da bruxa que vigorou durante a Inquisição,

ressoando até os dias de hoje, constitui-se como um dos

elementos mais perversos produzidos na sociedade

patriarcal do Ocidente.

Certo tipo de conhecimento de origem camponesa,

com suas práticas e crenças que delineavam modos de

tratar doenças e lidar com as situações-limite da existência

(nascimento, acasalamento, geração, morte), é tido como

criminoso dentro do contexto histórico da Contra Reforma.

Atribuíam-lhe tantas coisas ruins que o Malleus Maleficarum

afirma que “seus atos são mais malignos que os de quaisquer

outros malfeitores”.

2

Rompendo leis que certamente

ignoravam, as bruxas encarnam tudo o que é rebelde,

indomável e instintivo nas mulheres. Tudo aquilo que, nesse

tipo de sociedade, demanda severas punições para que o

feminino ‘selvagem’ se dobre ao masculino ‘civilizado’.

Como personagem de imaginários em que as

fronteiras entre real e ficcional estão densamente dissolvidas,

a típica malvada dos contos de fadas e de várias histórias

infantis traz muitos elementos da figura da bruxa descrita

pela Inquisição. Histórica, a bruxa modifica-se dentro das

eras, ficando em sua imagem as marcas que a sociedade

lhe impôs. Marcas expostas em praças públicas através do

espetáculo de seus suplícios e da execução das sentenças

mortais que lhe eram imputadas. Pagando por crimes tais

como dançar nua sob o luar, a bruxa é marcada pelo

despudor e pela degeneração do corpo. Mulheres

2

SPRENGER e KREMER, 1991, p.

67.

Estudos Feministas, Florianópolis, 13(2): 331-341, maio-agosto/2005 333

BRUXAS: FIGURAS DE PODER

incômodas para a comunidade, viúvas solitárias ou vizinhas

indiscretas, as bruxas eram aquelas cujas práticas eram

consideradas crimes mais graves do que as heresias.

Sedenta por poder, a bruxa é maléfica e corruptora, de

modo que, tanto na realidade como na ficção, todas as

histórias de bruxas terminam com o castigo por sua

insubmissão: forca, fogueira, solidão.

No léxico catequizante das eras que antecedem ao

contemporâneo, a bruxa era o expurgo de todos os males

atribuídos ao feminino, começando com o pecado original

e a desobediência da “primeira mulher”, pintada como

colaboradora de Satã. Protagonista de inúmeras

condenações, a bruxa serviu como função pedagógica de

cunho moralizador durante os séculos em que a Igreja focou

a doutrina cristã no combate ao mal, inimigo personificado

como o demônio, o adversário de Deus, Satanás. Vinculada

à natureza, a bruxa estava ligada ao chamado “Príncipe

do Mundo”, o diabo, que, mesmo aparecendo hermafrodita

em algumas representações, é uma entidade

explicitamente fálica, masculina. A mulher não pode

disputar o poder do universo nem mesmo quando se trata

de ser adversária da divindade masculina central. Na lógica

patriarcal,

...

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