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Procedimentos Argumentativos

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Por:   •  15/11/2014  •  2.523 Palavras (11 Páginas)  •  716 Visualizações

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- PROCEDIMENTOS ARGUMENTATIVOS

Comunicação e Expressão - Profª Denise Duarte

Um dos aspectos importantes a considerar quando se lê um texto é que, em princípio, quem o produz está interessado em convencer o leitor de alguma coisa. Todo texto tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir o seu leitor (ou leitores), usando para tanto vários recursos de natureza lógica e linguística.

Chamamos procedimentos argumentativos a todos os recursos acionados pelo produtor do texto com vistas a levar o leitor a crer naquilo que o texto diz e a fazer aquilo que ele propõe. Quando queremos expressar nosso ponto de vista a respeito de determinado assunto, seja ele favorável ou contrário, devemos fundamentar nossa opinião. Em outras palavras, devemos desenvolver nossa afirmativa para que ela tenha valor.

Para ter ideia de alguns desses procedimentos argumentativos, vamos ler um fragmento de um dos sermões de Padre Antônio Vieira, no qual se destacam basicamente três tipos de recursos argumentativos: a unidade do tema; a coerência lógica entre cada uma das partes do texto; o recurso à citação de um texto autorizado: a palavra de Cristo.

Sermão de Santo Antônio

Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?

Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar.

Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber.

Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem que fazer o que dizem.

Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em vez de servir a Cristo, servem os seus apetites.

Não é tudo isto verdade? Ainda mal.

(Vieira, Antônio Pe., Os sermões)

Evidentemente, um fragmento de texto não se presta para ilustrar todos os recursos argumentativos conhecidos; eles são praticamente inesgotáveis.

O tema central do fragmento escolhido é um só: as possíveis causas da ineficiência dos pregadores.

O texto inicia-se pela citação das palavras de Cristo, que jogam com duas metáforas: o sal (os pregadores) e a terra (os ouvintes).

O próprio texto esclarece o sentido da metáfora: os pregadores são designados como sal porque se espera que eles tenham a ação do sal, isto é, evitar que os alimentos entrem em corrupção; a terra representa os ouvintes da pregação, aqueles a quem se dirige o sermão, o lugar onde se joga a semente (palavra de Deus).

A seguir, o texto aponta uma contradição: a terra (os ouvintes da palavra) está corrupta apesar de contar com vários pregadores.

Qual será, então, a causa dessa contradição?

A partir daí, o texto começa a enumerar as causas possíveis, e todas elas são o desdobramento de duas possibilidades: a corrupção da terra se explica pela ineficiência do sal (os pregadores) ou pela recusa da terra (os ouvintes).

Essa oposição básica dá unidade a todas as hipóteses que vêm a seguir, como se pode notar pelo esquema que segue:

Hipóteses que se referem ao tema da ineficiência dos pregadores, representados pela figura ´o sal não salga´. Hipóteses que se referem ao tema da recusa dos ouvintes, representados pela figura ´a terra não se deixa salgar´.

a) ou os pregadores não pregam a verdade;

b) ou os pregadores agem contra aquilo que pregam;

c) ou os pregadores pregam a si e não a Cristo. a) ou os ouvintes se recusam a aceitá-la;

b) ou os ouvintes preferem agir como os pregadores ao invés de agir conforme o que eles pregam;

c) ou os ouvintes preferem seguir os seus próprios apetites.

E a conclusão vem no final: na verdade, todas essas causas são responsáveis pelo insucesso dos pregadores.

O “jogo” argumentativo é dinâmico, instável. Não existindo o argumento “correto” e sim o argumento “predominante”. Sequer existe o argumento “incorreto”, mas apenas uma fundamentação deficiente.

Mas o que é argumentar? Argumentar é oferecer razões para sustentar um ponto de vista, teste, ou conclusão. Argumentar é diferente de discutir, na medida em que a argumentação visa a convencer o adversário e não eliminá-lo. O objetivo de todo o discurso argumentativo é modificar o comportamento do auditório, ou seja, provocar uma atitude ou crenças novas ou alterar atitudes ou crenças existentes.

O processo argumentativo consiste essencialmente em duas atividades: persuasão e refutação.

Persuadir é propor um ponto de vista ou posição e argumentar a favor dela, propondo razões que se julgam pertinentes.

Refutar é atacar os argumentos do opositor. Consiste em apresentar contra-argumentos.

As ideias / valores do produtor do texto são materializadas, neste momento, sob o prisma de argumentos (opiniões fundamentadas), isto é, diante de um tema polêmico (aquele que pressupõe uma discussão, em que há sempre a possibilidade de mais de uma posição sobre o ponto em debate), apresenta-se uma tese (tomada de posição diante do tema), que, apoiada na escolha e ordenação desses argumentos, convencerá o público-alvo.

Logo, diz-se que argumentar

... é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. (...) Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. (...) Mas em que convencer se diferencia de persuadir? Convencer é construir algo no campo das ideias. Quando

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