Relação Do Ser Humano E O Espaço

Cada um de nós ocupamos um espaço em um tempo específico que definem nossa leitura, interpretação do mundo e nossas relações. A relação emocional que um ser humano tem com relação ao espaço em que ele vive tem a ver com a nossa própria identidade. Muito daquilo que somos vem de onde moramos, do que conhecemos.

É uma relação de dependência. O homem é o criador, o construtor do espaço. Espaço e homem formam entre si uma combinação que envolve a ambos, eles pertencem em um mesmo, o qual não é nada que subsista fora ou diante deles. O espaço precisa antes do homem para espaçar como espaço. Essa relação misteriosa, que não apenas toca a vinculação do homem com o espaço e com o tempo, mas a vinculação do ser com o homem, essa relação é o que se esconde atrás do que nós, apressada e superficialmente, representamos.

O fato do homem dispor-se no espaço e, instalando as coisas, doar-lhes a possibilidade de pertencer aos seus respectivos lugares aos quais se destinam e, a partir deles, pertencerem-se entre si, esse fato supõe, a cada vez a proteção de lugares que reúnem o habitar humano e a presença essencial das coisas.

O espaço não é estático, pois até mesmo um edifício é considerado uma alteração do espaço e automaticamente da paisagem, por isso as mudanças são continuas e dinâmicas.

A nossa sociedade se organiza prioritariamente pelo espaço. Por um lado a arquitetura determina ambientes de ação, delimita e sustenta relações que os indivíduos estabelecem entre si, influencia seus hábitos e o movimento de seus corpos, forma a percepção do espaço e expressa significados da cultura. A arquitetura é usada, fruída e lida. Essas relações abrangem desde a percepção sensível ou estética, passando pela interação mecânico-funcional até a interpretação de significados abstratos. Portanto, arquitetura é o principal meio de ações, é instrumento e é forma de comunicação e expressão de uma sociedade organizada espacialmente.

Um exemplo dessa relação é o Edifício Master em Copacabana, a uma quadra da praia. É um edifício grande, de janelas largas, tem 12 andares e 23 apartamentos por andar. Ao todo são 276 conjugados, onde moram cerca de 500 pessoas. Ou seja, são quinhentas relações do ser humano com o espaço. Justamente por conta disso Eduardo Coutinho fez um documentário mostrando o cotidiano dos moradores. Foram 37 moradores entrevistados, Coutinho e sua equipe conseguiram extrair historias intimas e reveladoras de suas vidas. Histórias de mães solteiras, de brigas, romances e solidão que contrapõem as imagens da praia, do mar e do calçadão do bairro. Todo depoimento é minuciosamente ouvido e respeitado, e a atenção é direcionada ao tempo do contato, ao tempo do encontro. São relatos do cotidiano das pessoas que vivem naquele prédio, de modo que suas histórias de vida se entrelaçam com a história do próprio edifício. Cada espaço ali ocupado é uma história, uma lembrança. A mobília é diferente, a forma de se ocupar cada espaço é diferente, é a mesma medida para 276 apartamentos, e nenhum se repete, cada indivíduo coloca na sua decoração o seu eu, a sua maneira de ocupar o espaço. Afinal cada ocupante tem sua forma de viver e de pensar, e se não fossem essas diferenças de cada um, os apartamentos seriam todos monótonos, e sendo assim, dentro de cada lar existe um tesouro a ser revelado.