Trabalho Erva Mate
Por: Renata Telles • 23/10/2015 • Trabalho acadêmico • 2.094 Palavras (9 Páginas) • 461 Visualizações
Erva Mate
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Erva Mate Laranjeira
A COMPANHIA MATE LARANGEIRA E SUA IMPORTÂNCIA ECONÔMICA NO SUL DE MATO GROSSO NO FINAL DO SÉCULO XIX E INICIO DO SÉCULO XX *Elecir Ribeiro Arce Aproveito o clima de discussão criado pela retirada do “Monumento ao Ervateiro” do centro da cidade de Dourados, por determinação do prefeito municipal Ari Artuzi, para contribuir com o leitor desse conceituado meio de comunicação, a cerca da atuação social, política e econômica da Companhia Mate Laranjeira no sul de Mato Grosso nos séculos XIX e XX. Esse texto, produzido no final do ano de 2008, da uma dimensão do poderio econômico dessa empresa, sua influência nos escaninhos da política e a maneira como ela tratava os trabalhadores nos ervais. A Companhia Mate Larangeira foi criada depois da Guerra do Paraguai (1864/1870), por Thomaz Larangeira, no inicio da década de 1880. Após a guerra, o Brasil demarcou toda a fronteira seca com o Paraguai e Thomaz Larangeira trabalhou na equipe demarcatória e percebeu a grande quantidade de erva-mate nativa na região do sul de Mato Grosso. A erva-mate é um vegetal nativo encontrado em uma vasta região brasileira, compreendidas pelo sul do atual Mato Grosso do Sul, partes de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Paraguai, Uruguai e norte da Argentina. A erva-mate já era utilizada pelos indígenas como bebida estimulante e fonte de alimento, quando os europeus aqui chegaram. Após a demarcação da fronteira (1874)Larangeira iniciou a criação de gado bovino no sul de Mato Grosso, posteriormente começa a explorar a extração e industrialização da erva-mate no país vizinho o Paraguai. Em 1877, Laranjeira inicia a exploração da erva, de forma clandestina, no sul de Mato Grosso, uma vez que ainda não possuía contrato de arrendamento de terras devolutas com o Estado. Thomaz Larangeira era um homem habilidoso e aproveitando-se de sua influência política não tardou para conseguir seu primeiro contrato de arrendamento de terras devolutas no sul de Mato Grosso para exploração da erva-mate. O contrato oficial de exploração foi concedido pelo governo imperial no ano de 1882. A partir da celebração oficial do contrato estava aberto o caminho para o funcionamento da Companhia Mate Larangeira, para a erva-mate constituir-se num negócio rentável para os donos da empresa e uma importante fonte de receita para os cofres da província de Mato Grosso, uma vez que por muitos anos constituiu-se no principal produto de exportação o que mais rendia lucros para os cofres do Estado. Vale ressaltar que a erva-mate já era explorada no sul de Mato Grosso bem antes da constituição da Cia. Mate Larangeira, uma vez que o mesmo decreto imperial que autorizou o arrendamento de imensa área de ervais para a empresa, garantiu o direito dos moradores da região que exploravam a erva-mate na área de concessão. Porém, o decreto imperial era a lei que garantia a Companhia dificultar e atéimpedir a concorrência no lucrativo negócio. A concessão de arrendamento sempre foi renovada pelo governo de Mato Grosso, inclusive aumentando a área de atuação exploratória da Companhia no sul do Estado. A empresa chegou a ter sob seus domínios a quantia de cinco milhões de hectares de terras arrendadas, constituindo-se em uma das maiores arrendatárias de terras devolutas do Brasil. O crescimento patrimonial e a influencia política da Mate, deveram-se ao peso dos sócios proprietários incluídos na empresa por Larangeira, como a poderosa família Murtinho, liderada por Joaquim e Francisco. A partir da inclusão de novos sócios influentes no poder político, a empresa se expande rapidamente e quase sem concorrentes. A erva-mate produzida no sul de Mato Grosso era na sua quase totalidade exportada para a Argentina, inicialmente através do porto de Murtinho, no rio Paraguai, criado para este fim, onde hoje é a cidade de Porto Murtinho, no pantanal sul-matogrossense. Posteriormente a empresa passou a realizar suas operações de exportação através do porto de Guaíra no Paraná, criado pela empresa para essa finalidade, uma vez que desta forma ela diminuía os custos de transportes e obviamente aumentava os lucros. A Cia. Mate no auge de seus negócios ervateiros possuía um patrimônio invejável. Além do monopólio das áreas dos ervais conseguidos através dos contratos de arrendamentos com o Estado, a Companhia chegou a ter dois centros urbanos com aestrutura de cidades – Campanário no sul de Mato Grosso e Guaíra na margem esquerda do rio Paraná no estado do mesmo nome. Em suas cidades e nas localidades onde possuía pontos de apoio, a empresa dispunha de infra-estrutura, como prédios, oficinas, carpintarias, serrarias, carretas e bois de transportes (chegou a ter 500 carretas e 18 mil bois para essa finalidade), escola, hospital, armazém, farmácia, telefone, luz elétrica, chatas, lanchas a vapor e até estrada de ferro, como a ferrovia de 22 quilômetros construída em Porto Murtinho e posteriormente de Guaíra a Porto Mendes numa extensão de mais de 50 quilômetros, ferrovia esta construída para desviar dos obstáculos das Sete Quedas no rio Paraná. Como era uma empresa privada suas cidades não ofereciam espaço público. A Cia. era poderosa economicamente e exercia muita influencia política. Ajudava eleger pessoas de sua confiança para ocupar cargos públicos, apoiando abertamente nas eleições seus candidatos preferenciais de presidente da República a vereador nos municípios de sua influencia. Seus lucros com a erva-mate eram fantásticos. Chegou a exportar anualmente até quinhentas arrobas de erva-mate, via Paraguai, isenta de impostos (uma arroba possui 15 quilos) e firmou contrato de empréstimo de dinheiro ao Estado de Mato Grosso. Imagine só uma empresa particular emprestando dinheiro ao governo. OS TRABALHADORES DA CIA. MATE A Companhia Mate Larangeira ao longo de várias décadasconstituiu um grande e poderoso império. Através de sua influencia política impedia o aumento populacional do sul de Mato Grosso, uma vez que se utilizava de todos os recursos legais e ilegais possíveis para proibir a instalação de posseiros e pequenos proprietários rurais na região de seu domínio. O patrimônio da Cia. foi construído, em boa parte, com a exploração de mão-de-obra barata de paraguaios que muitas vezes atravessavam a fronteira por falta de alternativas de renda em seu país de origem e dos indígenas da etnia guarani/kaiowá, moradores ancestrais da região. Os trabalhadores eram, muitas vezes, obrigados a trabalhar forçados pelos comitiveiros, espécie de policia da Companhia. A empresa preferia a mão-de-obra paraguaia, porque além de explorar pagando pouco, os paraguaios detinham o conhecimento da atividade, desde o corte da planta, até o cancheamento – espécie de socagem do produto com facões de madeira, além de serem trabalhadores que não fugiam do serviço pesado. Os ervateiros, além de explorados no trabalho braçal, ainda ficavam “presos” na dependência do armazém, que lhes forneciam víveres, ferramentas e outros produtos. Atrelado a empresa e por falta de condições, o trabalhador era obrigado a submeter às duras condições nos ervais. Viviam num mundo de violência, trabalhavam muito, ganhavam pouco e eram vigiados o tempo todo pelos homens armados mantidos pela Cia. Mantinha-se um sistema de controle quase que absoluto sobre ostrabalhadores. O consumo de bebida alcoólica era proibido. Mesmo assim, a rigidez era burlada e a cachaça entrava escondida nos ervais, uma das maneiras era colocar a pinga em frascos de medicamentos, passava pela fiscalização como se fosse vitamina para os trabalhadores. A empresa lutou muito para impedir até o tradicional tereré durante o expediente de trabalho, um costume dos paraguaios moradores na faixa fronteira com o Brasil. O hábito do tereré era tratado como vicio e óbvio não interessava a Companhia que via como prejuízo as interrupções em pleno horário de trabalho. Como não conseguiu impedir o hábito estipulou um curto período durante o horário de trabalho na parte da manhã e período da tarde para o tereré. Porém, com uma ressalva, o tereré deveria ser tomado em grupos pequenos de ervateiros. A mão-de-obra indígena também era bastante utilizada pela Cia., inclusive crianças nas tarefas mais leves. Vale ressaltar que os índios da etnia guarani trabalhavam no fabrico da erva mate muito antes da instalação da Mate Larangeira. A empresa preferia os índios “mansos” desaldeados e aproveitava os paraguaios que falavam a língua guarani para aliciar os indígenas a trabalharem nos ervais. O trabalho nos ervais contribuiu para a desagregação das aldeias, uma vez que havia a necessidade de conciliar o trabalho (a lida) nos ervais com as atividades coletoras, de caça e pesca. O contato com os ervateiros da Mate causou um impacto negativo(prejudicial) aos guarani/kaiowá do sul de Mato Grosso. Porém, o prejuízo maior para os indígenas foi ocasionado pela abertura de fazendas de criação de gado e a instituição da Colônia Agrícola Nacional de Dourados - CAND, no inicio da década de 1940 pelo governo de Getulio Vargas. Os imigrantes, especialmente os gaúchos, que chegavam ao sul de Mato Grosso confrontavam-se com duas dificuldades para a posse da terra – os índios hostis e a Cia. Mate Larangeira. A empresa sempre foi empecilho para os colonos que desejassem adquirir terras públicas, através da posse, no sul de Mato Grosso. Porém, ao longo dos anos a Cia. foi encontrando cada vez mais dificuldades para a renovação do contrato de arrendamentos com os privilégios que desejava, especialmente por setores sociais representados na Assembléia Legislativa, cujas posições eram repercutidas na imprensa. Nas disputas entre a Mate e os posseiros, a Cia sempre levava uma grande vantagem. Tinha a seu favor a lei, autoridades especialmente do Executivo e Judiciário, além de bandos armados que amedrontavam os adversários espalhando terror e medo. Mesmo assim, as lutas e revoltas eram freqüentes. A Cia. sempre teve opositores ferrenhos que enfrentavam a força da empresa, e até venciam como é o caso do grupo liderado por João Ort. Esse grupo constituído por posseiros armados enfrentou por algum tempo os homens da Mate, apesar de levar vantagem em alguns confrontos acabaram derrotados e seu líderrefugiou no Paraguai. A luta pela posse da terra ficava cada vez mais acirrada na região e gradativamente a Cia. foi perdendo força política e espaço nos seus antigos domínios para pequenos proprietários de ervais que adquiriam a posse em definitivo da terra ou por posseiros que se instalavam na região e lutavam para regularizar suas posses junto ao Estado. DECADÊNCIA A partir da década de 1930 a produção ervateira no sul de Mato Grosso começa a entrar em declínio. O motivo: a redução da exportação. A Argentina, que era a principal compradora, começa a colher sua produção de erva-mate cultivada nas províncias de Corrientes e Misiones. Os mais prejudicados com essa medida foram os pequenos produtores, por não disporem de capitais de giro naquele momento de dificuldade econômica. Não tendo para quem vender o produto, diminuía a produção ou encerrava a atividade. O programa de colonização do Governo Vargas (Marcha para o Oeste) com a finalidade de preencher os espaços vazios, fragmentou os latifúndios. No sul de Mato Grosso foi criada a Colônia Agrícola Nacional de Dourados -CAND, proporcionando o crescimento da produção ervateira de pequenos produtores. O surgimento de cooperativas de ervateiros fortaleceu os produtores independentes de erva-mate. Em 1941 o Governo Vargas negou a renovação do contrato de arrendamento de terras com a Cia. Mate Laranjeira. A extinção do contrato demonstra o enfraquecimento político da empresa que começa aperder influencia econômica no sul de Mato Grosso. É importante destacar que a criação do Território Federal de Ponta Porã, em 1943 pelo Governo Vargas, também representou um duro golpe na Cia. Mate Larangeira, uma vez que, pelo menos por um curto período de cerca de quatro anos que durou o território, Cuiabá não exercia, como antes, o poder político sobre a região onde estava situada as terras da empresa. Na década de 1950 já era visível a desvantagem da economia ervateira para outras culturas de cereais que ganham importância no cenário econômico de Mato Grosso. Na década de 1960, mais precisamente em 1966, encerra-se as exportações de erva-mate de Mato Grosso para a Argentina. A exportação foi suspensa pela Argentina. O país deixou de comprar erva-mate do Brasil. O encerramento do contrato foi um duro golpe na economia ervateira de Mato Grosso e representou uma profunda decadência da atividade no sul de Mato Grosso. *Professor de História da Rede Estadual de Ensino de MS.
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