Trabalho e Educação: fundamentos ontológicos e históricos
Por: Glaucia Santana • 5/5/2024 • Resenha • 977 Palavras (4 Páginas) • 91 Visualizações
Resenha
“Trabalho e educação:
fundamentos ontológicos e históricos”, DE DERMEVAL SAVIANI
SAVIANI, Dermeval. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação. [online]. 2007, vol.12, n.34, pp.152-165.
Em seu artigo, “Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos”, Dermeval Saviani discorre acerca da relação intrínseca entre o homem, o trabalho e a educação. Já nos parágrafos iniciais, o autor argumenta sobre a impossibilidade de dissociar os fundamentos históricos e ontológicos uma vez que o ser do homem se constitui através do trabalho, estabelecido dentro de um processo histórico. O mesmo ocorre com as concepções de trabalho e educação: esta última existe em decorrência daquela.
Considerando tal premissa, o autor explica que o ser humano é o único capaz de trabalhar e educar. Embora as definições mais conhecidas o caracterizem pela racionalidade, é a capacidade de de fabricar itens artificiais o seu traço distintivo, podendo assim, de acordo com Bergson, ser definido como Homo Faber. Apesar disso, Saviani chama a atenção para o fato de Bergson não considerar a inteligência como suficiente para definir o homem: ela é útil no trato com a matéria inerte, porém é a intuição que permite compreender as dimensões mais profundas da existência.
Após essa reflexão, compreende-se que a essência do ser humano vai além de seus traços característicos. Baseando-se em Marx e Angels, o autor ressalta sua singularidade ao produzir a própria existência, ou seja, adaptar a natureza a si, elaborando seus meios de vida material. Dessa maneira, a essência do homem não é natural ou divina, é necessário ao homem aprender a ser homem. Portanto, assim como o trabalho nasce na origem do homem, o mesmo ocorre com a educação.
O processo de aprendizagem se dá na ação do homem sobre a natureza e na interação com seus pares, onde o produto do seu trabalho é preservado e compartilhado após validação. A esse respeito, Saviani menciona o comunismo primitivo em que nossos ancestrais, sem divisão de classes, produziam sua existência coletivamente compartilhando saberes e trabalho. Contudo, com a divisão da sociedade entre proprietários e não proprietários, educação e trabalho são percebidos de maneiras distintas. Aos não proprietários a educação permane ligada à produção da própria existência a partir das orientações dos mestres de ofícios. Já aos proprietários, que vivem do trabalho alheio, é estabelecido o ensino de caráter intelectual, desvinculado do processo de produção, voltado para o desenvolvimento militar, a atividade física e a oratória, a fim de que assumam lideranças políticas e militares. Esta modalidade fica conhecida como a educação propriamente dita, enquanto aquela ligada ao ato produtivo é chamada de trabalho.
Com a Revolução Industrial, ocorre também uma revolução educacional: automação substitui o trabalho manual, incumbindo à escola o papel de capacitar os indivíduos para integrar o processo produtivo industrial. Além disso, a mecanização do trabalho resulta na divisão dos trabalhadores em dois grupos: àqueles que operam máquinas, se faz necessária a aprendizagem formal por meio da escola primária e sucessivamente das escolas profissionais; porém, aos responsáveis pela manutenção, ajustes e adaptação do maquinário, destina-se uma educação mais intelectual e aprimorada, oferecida pelas escolas de ciências e humanidades após a conclusão da escola primária e profissional.
Nessa perspectiva, o autor destaca que a organização do ensino fundamental está baseada na sistematização de conhecimentos básicos para a participação social ativa dos indivíduos. Em outras palavras, é essa etapa da escolarização que traz subsídio à vivência em sociedade, contemplando em seu currículo conhecimentos indispensáveis a qualquer cidadão, numa relação implícita entre a educação e a produção da própria existência, ou seja, o trabalho. É necessário pontuar, no entanto, que essa modalidade da educação básica atualmente não tem atingido tal objetivo, uma vez que não desenvolve a abordagem de questões relevantes para a vida cotidiana, como educação financeira, direitos civis e responsabilidades sociais.
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