Álcool e Drogas: Uma visão Química e social
Por: fervieira_ • 14/4/2018 • Dissertação • 25.456 Palavras (102 Páginas) • 158 Visualizações
ÁLCOOL E DROGAS:
Uma visão química e social
Eduarda Queiroz, Fábio Henrique de Melo, Fernanda Vieira, Lorenzo Tiago, Luisa Babilônia, Maria Gabriela Guimarães & Matheus Alves
RESUMO: Este trabalho, com tema “Álcool e drogas: uma visão química e social”, busca expor o(s) uso(s) do “álcool” e de outras drogas ao longo da história: desde crenças e rituais à remédios e “acessórios”; além de abordar, no contexto histórico, social e químico, os componentes psicoativos do álcool, cigarro, maconha, cocaína, cafeína, LSD e de drogas farmacêuticas – bem como mostrar, a nível químico e social, as consequências e os princípios ativos referentes ao uso de elementos psicoativos para os indivíduos e para a sociedade, assim como em relação à (re)integração e ao posicionamento social. Ao final, discorre-se sobre a legislação e a perspectiva brasileira e mundial quanto às drogas. Busca-se, na totalidade deste trabalho, o debate, além da exposição, acerca dos estereótipos e das construções sociais em torno dos usuários de drogas lícitas, lícitas-restritas e ilícitas na pós-modernidade, comparando períodos históricos e contextos sociais diversos.
PALAVRAS-CHAVE: estereótipos, sociedade, drogas, legalidade, história.
INTRODUÇÃO
“Seres humanos precisam ocasionalmente de momentos de fuga da sua existência costumeira. Alguns escalam montanhas, outros entram para monastérios, outros ficam completamente bêbados e alguns usam drogas. Não há nada natural em estar sóbrio.” Richard Davenport-Hines
Debater sobre a temática das drogas envolvendo as questões química e social é um meio de desatar os nós que sufocam tal assunto deixando-o apenas como um grande malefício à sociedade, estigmatizado. Primeiramente, as drogas sempre estiveram em contato com a humanidade desde que esta, por acidente, descobriu que entre as plantas comestíveis haviam algumas com propriedade alucinógenas e inebriantes (VARGAS, 2011).
Com o passar dos anos, as drogas receberam um novo significado no meio social, agora vistas como traquejo de fuga da realidade e da existência – como foi citado acima por Richard Davenport-Hines (2001). Registros arqueológicos demonstram que a humanidade, independentemente, desenvolveu conexões sagradas com o consumo de drogas: como peiote era chamado pelos astecas de “carne dos deuses”. Entrar em transe seria alcançar a conexão mais profunda com seus deuses, e isso pressupunha certa pureza espiritual e respeito acima de tudo (ROBICSEK, 2004).
Na contemporaneidade, os períodos pós guerra causaram no homem um “desencantamento do mundo” – como citado por Max Weber (1920) para se referir ao processo de racionalização sistemática de todas as relações humanas – que pode ter contribuído uma intensificação da interação homem-droga. Com a necessidade de se ver desprendido do antigo sistema, o movimento contracultural hippie buscou transcender a receita cultural que vigorava até então, consequentemente o “recrudescimento do uso de drogas e entorpecentes” (SCHIMIDT, 1975).
Destarte, a presença da droga na edificação da sociedade, sendo importante pelos 300 mil anos de história humana, se faz necessária a orientação das frentes sociológica e química. Nesse viés, o trabalho procura trazer ambos os lados numa discussão mais racional e menos maniqueísta, indo de encontro com a abordagem usual leiga para um esclarecimento definitivo.
MATERIAL & MÉTODOS
O seguinte trabalho foi realizado a partir de pesquisas bibliográficas diversas – virtuais (em Artigos Científicos disponíveis em domínio público; em documentários e em sites confiáveis que discorreram sobre algumas partes deste trabalho) e físicas (livros que abordam o tema das substâncias inebriantes nas sociedades humanas). Além da pesquisa bibliográfica, foram realizadas entrevistas com dependentes químicos não-creditadas, utilizadas como base para a construção da argumentação e para a desconstrução do maniqueísmo, assim como para uma experiência mais verossímil.
RESULTADO E DISCUSSÃO
HISTÓRIA DAS DROGAS
Álcool: A embriaguez é mais que só um fato cotidiano.
O que é?
Em uma definição química, álcool é uma classe de compostos orgânicos que possuem em sua estrutura, um ou mais grupos de hidroxilas (OH) ligados a carbonos saturados. O que se conhece como bebida alcoólica se trata do etanol (C2H6O), tipo mais comum de álcool que é produzido pela fermentação do açúcar. Esse composto será o foco desta parte do trabalho e a nomenclatura “álcool” será usado para falar sobre o mesmo com a intenção de facilitar o entendimento.
História breve sobre o álcool e aspectos religiosos
A existência do álcool não pode ser datada com precisão, porém há evidência de bebidas alcoólicas na China ao redor do ano 7000 a.C. e na Índia, uma bebida chamada Sura produzida do arroz, utilizada entre os anos 3000 e 2000 a.C. Os primeiros vestígios da produção e consumo da bebida são da pré-história no período Neolítico quando houve a aparição da agricultura e a invenção da cerâmica. O processo de fermentação natural do açúcar permitiu que povos primitivos conseguissem consumir o produto mesmo sem ao menos entender de seu processo de fabricação.
Textos deixados por nossos antepassados mostram a utilização da bebida em várias situações, seja em festas, rituais ou no cotidiano. Um exemplo conhecido é a passagem bíblica onde Noé se embriaga após tomar vinho, que tempos depois serviu de inspiração para Michelangelo pintar seu afresco no teto da capela Sistina. Através da passagem do herói bíblico podemos observar que não apenas o uso de álcool, mas também a embriaguez são aspectos que acompanham a humanidade desde os primórdios.
Ao longo do tempo o álcool ganhou significados diferentes conforme a sociedade e a época. O solo e o clima na Grécia e de Roma eram especialmente ricos para o cultivo da uva e produção do vinho. Os gregos e romanos também aprenderam sobre a fermentação do mel e da cevada, mas o vinho era a bebida mais difundida nos dois impérios tendo importância social, religiosa e na produção de medicamentos (assim como no Egito), além de possuir sinônimo de status e poder, sendo sua presença facilmente encontrada em pinturas e artesanatos da época. Ambos cultuavam um deus associado ao vinho e a festas, Dionísio para os gregos e Baco para os romanos, porém, apesar da participação esmagadora do vinho nas celebrações sociais e religiosas greco-romanas, o abuso de álcool e a embriaguez eram severamente censurados por ambas as sociedades.
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