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A ARTE NA RÚSSIA DE 1920 A 1930

Por:   •  29/11/2017  •  Artigo  •  2.084 Palavras (9 Páginas)  •  419 Visualizações

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VKHUTEMAS – A ARTE NA RÚSSIA DE 1920 A 1930

Sormani da Silveira Vasconcelos / Universidade de Brasília

RESUMO

O Ateliê Superior Técnico-Artístico Estatal, Vkhutemas, foi uma escola de arte que existiu na Rússia entre 1920 e 1930, durante o processo de reestruturação por qual passava o país sob as diretrizes da Revolução Bolchevique. Durante sua existência teve, entre seus professores e teóricos, grandes nomes da arte russa: Kazimir Malevich, Wassily Kandinksy, Vladimir Tatlin, Naum Gabo, Antoine Pevsner, Liubov Popova, Aleksandr Rodchenko, Natalia Goncharova e El Lissitzky. Com a ascensão de Stalin ao poder e o novo direcionamento das artes para o realismo socialista, o Vkhutemas é encerrado. Para alguns estudiosos sua influência nas artes, arquitetura e design é maior do que a Bauhaus, que existiu no mesmo período e com ideias similares. O objeto deste estudo é mapear o método de ensino do Vkhutemas e tentar compreender por que quase não se fala da sua influência e pouco estudos foram escritos sobre sua existência.

PALAVRAS-CHAVE

Vkhutemas; arte russa; construtivismo

O inicio do século XX é marcado por grande tensão política na Rússia. Havia um grande descontentamento contra o regime tsarista e grupos se organizavam com a intenção de tomar o poder. No campo das artes, apesar de existir ainda uma grande influência do realismo, já se iniciava o desenvolvimento da arte abstrata por Wassily Kandinsky e a organização de movimentos artísticos, as vanguardas, inseridos no contexto revolucionário, que se posicionavam contra o poder do Tsar. As vanguardas russas tinham como propósito, além da modernização da arte, a transformação da sociedade, colocando a função da arte como questão política. Para Argan:

De todas as correntes de vanguarda, animadas por propósitos revolucionários, a que se desenvolve na Rússia nos primeiros trinta anos do século com o Raísmo, o Suprematismo e o Construtivismo é a única a se inserir numa tensão e, a seguir, numa realidade revolucionária concreta, e a colocar explicitamente a função social da arte como uma questão política. (ARGAN, 1988, p.324).

O primeiro movimento artístico organizado na Rússia foi o Raionismo (ou Raísmo), que tinha como líderes Michel Larionov (1881-1964) e Natalia Goncharova (1881-1962). O Raionismo seria, segundo seus líderes, uma síntese do cubismo, futurismo e do orfismo. A luz é o objeto do quadro e a composição deveria ser construída a partir do entrecruzamento de raios de luz. A maior importância do Raionismo foi, mais do que suas obras, a sua teoria que ajudou a sistematizar as ideias contemporâneas na Rússia, conduzindo aos movimentos que viriam em seguida.

O Suprematismo de Malevich, que surge a partir de 1913, representava uma concepção para uma nova sociedade, buscava uma arte livre de finalidades práticas e comprometida com a pura visualidade plástica, um mundo sem objetos. O movimento propunha uma mudança radical de acordo com a revolução social e política que estava em andamento na Rússia. Segundo Malevich:

Agora que a arte, graças ao Suprematismo, encontrou-se a si mesma, encontrou sua pura e inaplicada forma e reconheceu a infalibilidade do sentimento não-objetivo, ela tenta estabelecer uma nova e verdadeira ordenação do mundo, uma nova visão do mundo. Ela reconhece a não-objetividade do mundo e não mais se esforça em oferecer ilustrações para a história dos costumes. (CHIPP, 1988, p.350).

Outro movimento surgido no período é o Construtivismo. Inicia-se com os relevos tridimensionais de Vladimir Tatlin, que tem grande influência do Cubismo e do Futurismo. Tatlin pensava a pintura e a escultura como uma construção, não como uma representação. Usa de materiais comuns e pensa a arte como serviço da revolução. “Para Tatlin, a tecnologia está visivelmente posta a serviço de uma ideologia revolucionária por meio da qual a história pode ser moldada.” (KRAUSS, 2001, p.77). Naum Gabo e Antoine Pevsner dão sequência ao programa construtivista, mas com críticas à aplicação social da arte.

Com a vitória dos Bolcheviques em outubro de 1917, o novo governo passou a organizar e controlar a vida dos cidadãos através de comissariados. Para a arte foi criado o Comissariado do Povo para a Educação, o NARKOMPROS, dirigido por Kandinsky. Vladimir Lenin, o líder da revolução bolchevique, acreditava que os artistas poderiam contribuir na educação das classes operárias e camponesas através de textos, imagens, sons e performances. Lenin cuidou diretamente da criação do NARKOMPROS, para que incluísse todas as formas de arte. Dentro do comissariado, foi criada, em 1918, a Seção de Artes Plásticas, IZO. A IZO previa oferecer ateliês livres e gratuitos para qualquer cidadão que quisesse e precisasse estudar as artes, de forma livre e independente. Sua primeira ação foi transformar as duas principais academias de arte em Ateliês Artísticos Livres Estatais, os SVOMAS. O 1° SVOMA foi criado em Moscou e o 2° em São Petersburgo, e seriam a base do novo ensino livre promovido pelo estado. Apesar da liberdade de cada professor em seu ateliê e da rejeição de currículos e pré-requisitos para os alunos, os SVOMAS mantiveram hábitos das academias anteriores, alunos e professores ainda eram conservadores e pouco espaço tinham os artistas de esquerda, como eram chamados os artistas das vanguardas. Somado ao conservadorismo, os Ateliês Livres sofriam grandes problemas administrativos.

Com intuito de resolver os problemas dos SVOMAS, eles foram unificados pelo NARKOMPROS e criou-se o Ateliê Superior Técnico-Artístico Estatal, o Vkhutemas, em novembro de 1920. O Vkhutemas centralizava administrativamente o ensino das artes e era um polo de experimentação das diversas vanguardas. A maioria dos seus professores eram os artistas das vanguardas russas e em conjunto com outros conservadores se tornou um polo de embate entre as diferentes correntes artísticas: o simbolismo, as vanguardas (construtivismo, suprematismo, cubo-futurismo) e o pensamento figurativo realista e neoclássico. Tinha o objetivo de transformar a sociedade. Ele unia as faculdades de pintura e escultura com as faculdades de produção (arquitetura, artes gráficas, tipografia, trabalho de metal e madeira, têxtil e cerâmica). Qualquer um podia assistir as conferências e seminários. Em 1924, possuíam 1445 alunos matriculados – a Bauhaus, no mesmo ano, tinha 8 vezes menos. Para os jovens que não tiveram acesso ao ensino tradicional na Rússia e queriam entrar no Vkhutemas, foi criada a Faculdade Artística Operária, RABFAK, voltada para um ensino de caráter técnico-artístico e servia como um curso preparatório.

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