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A DANÇA, EXPERIÊNCIA DE VIDA

Por:   •  10/5/2017  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.809 Palavras (8 Páginas)  •  335 Visualizações

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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás

Campus Aparecida de Goiânia

Departamento de Áreas Acadêmicas

Licenciatura em dança

Professoras: Giovana Consorte e Dânia

Acadêmica:  Vitória Pinheiro Prados

FUX, María. Dança, experiência de vida. São Paulo: Summus, 1983 . Pg 101 a 112.

15. Dançaterapia com surdos

O silêncio pode ser dançado

O espaço que nos rodeia é um elemento vivo e pode converter-se em algo sensível se utilizamos nosso corpo como instrumento. (p.101)

Existe o mundo do silêncio e o silêncio pode ser dançado. (p.101)

Nosso silêncio é um luxo. Nós o realizamos quando queremos, mais jamais é total. (p.101)

Quando vamos dançar, montar uma coreografia, espetáculo, uma parte dedicamos a escolha da música, de uma trilha sonora. Este é sempre um caminho seguido pela maioria. É muito complexo pensar em dançar no silêncio, não conseguimos pensar o silêncio como uma música suave que permite a dança. Como a própria autora indica, o silêncio é um luxo, e para tê-lo implica muito esforço da nossa parte. Não pensar nessa possibilidade é também não pensar nos deficientes que dançam, como os surdos por exemplo. Se você não sabe o que é permitir o silêncio como ensinar surdos a dançarem?

Pelo caminho do silêncio, onde eu havia realizado danças, poderia talvez encontrar-me com essa menina de olhos negros e, quiçá, ela pudesse expressar-se através de seu corpo. (p.102)

Certa vez, em um dos inícios de semestre na faculdade, o professor de Libras trouxe uma apresentação, o casal apresentaria duas coreografias: uma de bolero e outra de tango. Ninguém sabia que o rapaz era surdo, a perfeição enquanto dançava não possibilitou que alguém, ali assistindo, imaginasse que ele tinha deficiência auditiva. Ele não demonstrava insegurança e nem nada que desse para perceber sua deficiência. Eles dançaram tão conectados, lindos, em sincronia total com a música. Foi lindo. Depois, em sala, o professor veio nos contar que aquele rapaz era surdo. Nossa, aquele rapaz surdo? Pela sua dança parecia que ouvia a música enquanto desenrolava aqueles passos. Conduziu tão bem a moça. E uma questão nunca saiu da minha cabeça: como ele conseguia dançar tão perfeitamente sem ouvir a música? No campo da dança de salão a marcação rítmica dentro da música é bem definida, e muitos erros acontecem por essa ausência precisa de ritmo. Então, como, aquele rapaz surdo conseguiu dançar? Como aprendeu dança de salão? Essa pergunta ainda não teve resposta, o professor não conseguiu me explicar, mas o fato é que ele dançava e dançava muito bem.

À medida que as aulas sucediam, sua vida fechada ao som começava a encaminhar-se para o movimento. (p.102)

A palavra que nos mobilizava, foram para a menina e para mim pontes para descobertas. (p.104)

Destaquei essas partes pois me impressionou tanta dedicação no trabalho com os surdos. María se mobilizou verdadeiramente para ver e fazer dançar àqueles que, muitas vezes, são deixados de lado. Demonstra um compromisso com a dança que ultrapassa as barreiras sociais.

Busquei a compreensão que, através de sua inteligência, se abria com palavras lentamente vocalizadas e unidas ao movimento. (p.104)

Seu encontro com o grupo foi dilacerador. Resultou-lhe doloroso ver-se obrigada a aceitar que eu não lhe pertencia com exclusividade e comprovar que as crianças que vinham as aulas conheciam também o vocabulário que ela acreditava único. (p.104)

Entre um movimento e outro, expliquei-lhes que esta menina vinha de um país longínquo, onde não se falava nosso idioma e que devíamos ensinar-lhe nossa dança. (p.104)

Lembrei-me das imagens fortes do filme A linguagem do Coração, na dificuldade de socialização da jovem Marie, que além de surda era cega também. Baseado em uma história real, ocorrida no final do século XIX, o filme acompanha o encontro entre Marie e a irmã Marguerite. A irmã está decidida em fazer com que a jovem cega e surda tenha uma vida de fato, abandonando a mera existência, assumindo a árdua tarefa de socializá-la. Tal escolha traz uma realidade impressionante, especialmente nos confrontos entre Marie e Marguerite, que nada mais são do que a resistência ao novo em seu estado bruto - o único que a jovem conhece naquele instante. Nesse caso do texto, María parece ter tido problemas ao socializar suas alunas surdas com as demais alunas – houve um estranhamento – que ela conseguiu enfrentar através da dança.

Nunca mais dei aulas para crianças surdas separadas de um grupo ouvinte. Creio na integração de pessoas não ouvintes e na possibilidade que têm de compreender e captar visualmente as possibilidades que podem desenvolver-se nelas por meio de batidas continuadas, vibrações, percussões e todas mobilizações que realizamos com clareza no espaço. Com esse movimento é possível expressar a necessidade tremenda de comunicação que se tem quando esta não pode realizar-se mediante a linguagem. (p.105)

Qual o motivo de separar, de segregar ouvintes de não ouvintes, sendo que a integração abrange mais possibilidades de movimento? Porque não propor a comunicação destes grupos através do movimento? É muito enriquecedor. Aprendi muito quando participei do DanceAbility em Cena, onde tivemos a oportunidade de fazer um curso-oficina com surdos. Cada dia era uma proposta interessante de pesquisa de movimento e a maioria da turma era composta por àqueles deficientes auditivos. Eles não se restringiam, eles se permitiam, entravam em contato, eram intensos. Os depoimentos deles no final comprovou o quanto a experiência havia sido necessária e enriquecedora. Unir ouvintes e não ouvintes na dança é uma possibilidade totalmente viável, possível e permissível.

Eu sempre danço para eles e nossa comunicação se estabelece em um plano de igualdade porque tudo é feito para estimulá-los a se expressarem sem temor. (p.105)

Não se ensina a necessidade. (p.105)

O primeiro impacto com a não ouvinte é fazê-lo interessar-se por projetar e dar-se conta de que seu corpo é um instrumento de linguagem. (p.105)

A todo momento, de fazer-lhes sentir que expressar-se através do corpo é como falar e que para isso não necessitamos estímulos externos. (p.105)

O caminho da dança é a verdade; o corpo não engana quando se expressa. (p.106)

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