AS NOÇÕES INICIAIS SOBRE ARTE, HISTÓRIA E HISTÓRIA DA ARTE
Por: crusss • 14/5/2019 • Monografia • 3.663 Palavras (15 Páginas) • 249 Visualizações
FUNDAMENTOS DA ARTE - 2ª aula – Profa. Mirella Mostoni
- Apresentação cronograma, plano, regras de sala, datas de avaliações.
- Fundamentação inicial do componente
NOÇÕES INICIAIS SOBRE ARTE, HISTÓRIA E HISTÓRIA DA ARTE
BIBLIOGRAFIA:
DUARTE, Rodrigo, A arte. São Paulo: Martins Fontes, 2012
MATOS, Olgária, A História. São Paulo: Martins Fontes, 2011
COLI, Jorge, O Que É Arte. São Paulo: Brasiliense, 1991
RANCIÈRE, Jacques, Figuras da História. São Paulo, Unesp, 2018
COMTE-SPONVILLE, André, Dicionário Filosófico. São Paulo: Martins Fontes 2003
CARCHIA, G; D’ANGELO P. Dicionário de Estética. Lisboa: Ed. 70, 1999
História é ciência; arte, não.
Ciência é, em primeiro lugar, uma investigação (assim como a arte também é um TIPO de investigação) que, porém, assume uma maneira correta de investigar que conduza à verdade de um modo considerado logicamente seguro. A esse processo chamamos metodologia a priori.
Hoje, a História é um domínio de investigação particular que também sistematiza seus pressupostos de investigação.
Segundo Sponville, as ciências são todas diferentes seja por seus objetos e seus métodos. A ciência não é certa nem demonstrada e também não é um conjunto de pensamentos coerentes e racionais. Por esse último motivo, temos o motivo de nem a arte nem a filosofia serem ciências.
Ciência é um conjunto de conhecimentos, teorias ou hipóteses sobre o mesmo objeto ou domínio: ela mais constrói do que constata. Esses conhecimentos são historicamente produzidos (podem até ser empiricamente falsificáveis), logicamente organizados ou demonstrados (tanto quanto podem sê-lo) e coletivamente reconhecidos (aceitos) por espíritos competentes (na filosofia, que não é ciência, há uma oposição dos espíritos competentes; na arte, uma convivência).
O progresso faz parte da essência da ciência; não num sentido evolutivo, mas porque as ciências progridem por “conjeturas e refutações”.
A ciência se desenvolve sobre um domínio empírico dado, investigando-o e construindo sobre o mesmo terreno e não pretende nos dizer nada sobre o absoluto, duas diferenças essenciais em relação à arte.
A arte não é uma ciência, mas a História da Arte, sim.
O que é História?
Olgária Matos nos pergunta: como percebemos a passagem do tempo?
A consciência do tempo está associada às transformações, como na narrativa de Pitágoras (c.570 a.C.- c. 496 a.C.).
Conta-se que um dia quando Pitágoras estava à procura do rebanho de seu pai no campo, entrou na gruta de Zeus Dicteano e lá adormeceu. Em sonho, encontrou e conversou com as deusas Verdade e Justiça (Alethéia e Diké). Ao despertar e retornar à sua aldeia, sem perceber que tinha dormido por mitos anos, só se deu conta do tempo transcorrido diante das mudanças no lugar onde vivia e ao reencontrar seu irmão mais jovem já ancião.
A consciência do tempo, então, está associada às transformações, mas também à capacidade de ter lembranças.
A percepção das transformações temporais viria a ser uma das marcas fundamentais de reconhecimento do que significa um “acontecimento histórico”. Há uma diferença entre “ocorrido” e “acontecimento” (segundo Heidegger). O que os diferencia são as alterações de mentalidade e de compreensão de mundo que o acontecimento histórico autêntico implica.
A História se preocupa com o passado e a preservação da memória deste, onde, segundo os gregos, encontra-se a verdade. O início da escrita histórica na Grécia é diferente da escrita egípcia, por exemplo: no Egito, focava-se o desejo de deixar algo como legado para a eternidade.
Nos poemas épicos da Ilíada e da Odisseia de Homero (século VIII a.C.), que narram batalhas dos heróis do passado sob o ponto de vista do presente, encontramos na literatura a possibilidade de comoção com o passado sem tê-lo vivido e a de transformar esses episódios em experiência própria.
Na Ilíada encontramos também o hístor , personagem para quem se dirigem outros personagens num momento de conflito para que aquele ARBITRE o conflito, para que, mesmo sem ser testemunha ocular de um fato, possa promover uma investigação sobre esses fatos: um juiz.
Homero celebra nessas obras acontecimentos “dignos de serem lembrados” para que sua narrativa nos banquetes cumprisse seu papel de fazer esquecer as aflições dos comensais; o que também revela como já estão próximas desde o início a arte de lembrar e a arte de esquecer. A história, ao selecionar o que é digno de ser narrado, não relata indistintamente todos os fatos: selecionar alguns significa esquecer ou omitir outros.
Heródoto, aproximadamente 400 anos depois (484 a.C.-420 a.C.), transforma a narrativa histórica à procura da objetividade, afastando-se da narrativa épica. O historiador deveria fazer ver o que não se viu, tomando posição sobre o que narra e apresentando-se como autor.
A partir do alvorecer da ideia de História, temos a origem grega da palavra: o verbo historeîn, derivado da já vista anteriormente palavra hístor, que remete por sua vez a ideîn, VER, e oída, SABER.
A intenção do historiador antigo não é a de demonstrar ou provar (como é, por outro lado, a intenção do historiador moderno), mas a de CONTAR, com um olhar de testemunha, criando assim um vínculo entre a palavra escrita e a verdade.
Plutarco (46 d.C.-126 d.C.) escreve Vidas paralelas dos homens ilustres, de Grécia e Roma, digno de nota quando, mais adiante, verificaremos o paralelo deste modo de conceber a História com primeiros escritos interpretados como História da Arte publicados por Vasari em 1550: as Vidas, ou Vidas dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos.
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