Análise sobre Mato Eles?(1983) de Sergio Bianchi
Por: Polianna Teixeira Olegário • 28/4/2016 • Artigo • 1.073 Palavras (5 Páginas) • 766 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO AMERICANA
Disciplina: Antropologia Visual
Docente: Francielle Rabellato
Discente: Lucas Henrique de Souza
Análise sobre Mato Eles?(1983) de Sergio Bianchi
O cineasta curitibano Sergio Bianchi no filme “Mato Eles?”(1983) mescla ficção e documentário, numa mistura ambígua de entrevistas documentadas e encenadas, para construir sua denúncia irônica sobre a reserva indígena de Mangueirinha, no Paraná, onde vivem remanescentes de três tribos: Kaigang, Guarani e Xetá. Segundo, dados apresentados no filme, boa parte da reserva foi desmatada o que sobrou foi cedido a uma indústria madeireira, além da madeira, a mão-de-obra servil indígena proveniente da reserva. E tudo isso sobre os olhos da FUNAI e/ou do governo do Estado. Desta maneira, o filme mostra a crueldade contra os índios, a violação de suas terras, os assassinatos dos líderes, a destruição da floresta.
Embora nenhum filme possa ser rotulado com uma única fórmula narrativa ou estética,“Mato Eles”(1983) traz em sua composição traços do documentário expositivo, participativo, reflexivo, entre outros. Além disso, o filme também participa das inquietações propostas pelo Cinema Moderno, principalmente no que se refere ao questionamento quanto ao fazer cinema, ou a construção de simulacros no cinema documentário.
O documentário também traz caracteristicas do gênero Épico, utilizando um narrador em off e letreiros. Muitos dos letreiros fogem a normalidade, pois são perguntas como as de uma prova de vestibular. Existem algumas vozes, para esse narrador em off, a do próprio diretor do filme, Sergio Bianchi, como também a de Arnaldo Jabor, entre outros.
Nesse sentido, a primeira cena do filme nos remete ao passado colonial brasileiro, com uma narração de Bianchi em relação ao tratamento das autoriadades ao encontrarem os povos originários no novo mundo. O Bispo está enquadrado em contra-picado, sobre escadas, parecendo estar em um altar, mostrando sua superioridade pelo olho da câmera, como também por suas palavras e expressão facial. Embora a cena seja quase teatral, visivelmente encenada, principalmente pela singela “olhadinha” que o Bispo Don Albano Cavallin dá para câmera, depois de seu discurso humanista, ninguém há de esquecer as atrocidades cometidas neste período da história.
A próxima cena se inicia com um plano geral todo escuro, com apenas um homem iluminado no meio, com uma espingarda na mão, a banda sonora é composta por sons de sapos e grilos. Após alguns segundos se inicia um zoom e uma narração em off, traz a situação de conflito vivênciada pelos índios Kaigang, através da morte de seu cacique. Há um corte e vemos uma índia, idosa, Bianchi pergunta: por que você acha que ele morreu?
As perguntas incisivas de Bianchi permeiam todo o filme. Percebe-se uma tentativa do diretor de dar mais visão, para as perguntas do que para as respostas de seu entrevistado, pois elas são tão importantes quanto a fala de seus entrevistados. O objetivo aqui, não é somente dar voz aos índios, mas somar seu discurso com a proposta do diretor.
O encontro entre a Antropologia e a Fotografia, logo depois o Cinema, surge da necessidade de se capiturar, preservar e conhecer o que estava fadado a se extinguir graças ao “progresso”. Quando Malinovisky escreve “Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné” e fotografa os rituais das tribos daquela região, ou Jean Rouch filma “Os mestres Loucos”(1955), a necessidade de se documentar o exótico era o que os moviam, salvo por questões ideológicas de cada realizador, era necessário “catalogar”. Desta maneira, criam-se métodos, como a Etnografia, na ansia de se aproximar ao máximo do que seria está cultura tanto visual quanto sensorial. “Mato Eles?”(1983), embora ironicamente participa da composição deste catalogo, em meio aos remanescentes dessas tribos está “o último Xetá”. No entanto, não há abordagem Etnografica,uma vez que, o tempo de Bianchi para a filmagem era bem limitado, cerca de uma semana, além do que, um dos seus objetivos era mostrar sua opinião sobre a questão.
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