O Alfabetismo Visual e Design da Informação: leitura da capa do livro “A cor de Coraline”

O Alfabetismo Visual e Design da Informação: leitura da capa do livro “A cor de Coraline”

 

RESUMO: Os artefatos visuais estão presentes na vida cotidiana das pessoas, que os utiliza de forma constante. Contudo, se constata a falta de habilidade das pessoas na leitura desses artefatos por não possuírem conhecimentos teórico e prático sobre a linguagem visual. Isso nos chama ainda mais a atenção quando percebemos que muitas vezes as mensagens visuais deixam de cumprir sua função por não serem recebidas de uma maneira eficiente pelo espectador, ou quando uma produção visual não cumpre sua função por ser deficiente na sua produção. Os objetivos do presente estudo foram apresentar os conceitos de alfabetização visual através de um exercício de leitura de uma capa de um livro infantil, e os conceitos de função do design abordados por Nathan Crilly (2010). Através dessas análises foi posta a necessidade de que esses conceitos sejam levados aos níveis básicos da educação acreditando que os objetos visuais poderiam cumprir suas funções e serem mais significativos aos seus leitores.

PALAVRAS-CHAVE: Design da Informação, Função no design, Alfabetismo Visual, Leitura de imagem.

ABSTRACT: Visual artifacts are present in our daily lives and we make constant use of them. However, there is a lack of people's ability to take visual readings because they lack a theoretical and practical basis in visual language. This draws our attention even more when we realize that visual messages generally fail to fulfill their function because they are not received efficiently by the viewer or when a visual production does not perform its function because it is deficient in its production. The objectives of this study were to present the concepts of visual literacy through an exercise in reading a cover of a children's book and the concepts of function in design addressed by Nathan Crilly (2010). Through these analyzes, it was proposed the need for these concepts to be taken to basic levels of education and demonstrated that visual objects can perform their functions and have more meaning for their readers.

KEYWORDS: Information Design, function in design; visual literacy; image reading;

Introdução

Uma imagem, seja uma ilustração, uma foto, um cartaz, uma embalagem ou um anúncio publicitário, pode ser um material muito rico esteticamente e como mensagem visual carregada de significações.

Para além desses exemplos citados, vive-se há algum tempo um culto exacerbado à visualidade. Desde o advento da fotografia na primeira metade do século XIX a imagem vem ganhando cada vez mais espaço como veículo de comunicação. Unida ao texto verbal ou não é capaz de comunicar de várias formas, desde uma simples representação literal de algo real, ou transmitindo uma ideia ou conceito através do uso das estratégias visuais feitas pelo artista ou designer, passando por sinalizações, codificações, dentre outros. Isso se emprega tanto aos recursos visuais bidimensionais como tridimensionais, estáticos ou com movimento,  como o vídeo, cinema e animações.

O código visual, portanto, é empregado nas mais diversas mídias e com o advento da internet, das câmeras digitais acopladas aos celulares e às novas tecnologias de transmissão cada vez mais ágeis, fazemos uso constante da imagem para nos comunicar. Entretanto o ensino do uso dessa linguagem e de sua leitura não vem sendo realizado como o é da linguagem verbal. É factível que a escrita é um código que permite um enorme detalhamento da informação. Mas, conforme Santaella (2012) o uso da imagem pode ampliar o significado do texto verbal e também uma capacidade de comunicação imediata e mais abrangente, o que veio facilitar, desde a antiguidade, a comunicação para aqueles que não possuíam o conhecimento do código escrito. Segundo essa mesma autora, ela também propicia uma maior memorização da mensagem para seu observador.

O código visual se compõe por diversos elementos e as possibilidades de combinações dos mesmos produzem sentidos diferentes: uma imagem organizada, equilibrada, harmoniosa e bela que informe com clareza e eficiência; algo instigante e propositadamente ambíguo, ou ainda, ao contrário, ser deficiente em algum desses aspectos ou em vários, dificultando a informação da mensagem ou mesmo sendo desagradável ao olhar. Nesse sentido, se faz necessário o aprendizado sobre o uso do código visual e a leitura de imagens, o que denominamos alfabetismo visual, termo colocado por Dondis (1997), do inglês "visual literacy".

Este estudo tem chamado à atenção por décadas e tem se tornado cada vez mais relevante, visto que as imagens podem ser muito mais valorizadas se possuírem um público apto para sua leitura, sejam elas obras de arte, ilustrações comerciais ou informativas. Há uma Associação Internacional que se dedica ao crescimento e difusão dessas reflexões chamada "International Visual Literacy Association - AVLA" que atua reunindo e transmitindo o que se tem produzido sobre este assunto de forma transdisciplinar. Seu fundador, John Debes, definiu já em 1969 o Alfabetismo Visual:

Alfabetização visual refere-se a um grupo de competências de visão que um ser humano pode desenvolver vendo e ao mesmo tempo tendo e integrando outras experiências sensoriais. O desenvolvimento dessas competências é fundamental para a aprendizagem humana normal. Quando desenvolvidas, permitem que uma pessoa visualmente alfabetizada discrimine e interprete as ações visíveis, objetos, símbolos, naturais ou artificiais, que encontra em seu ambiente. Através do uso criativo dessas competências, ele é capaz de se comunicar com os outros. Através do uso apreciativo dessas competências, ele é capaz de compreender e apreciar as obras-primas da comunicação visual. (DEBES, 1969).

Neste trabalho será feita uma análise formal da capa de um livro infantil como demonstração dos aspectos relevantes a serem observados numa imagem, trazendo alguns conhecimentos prévios necessários para que ocorra esse processo de alfabetização visual. Também considera-se aqui que esse estudo está imbricado com o design da informação, visto que a comunicação visual só acontece se estiver estruturada, favorecendo e potencializando os objetivos da mensagem. Para isso o trabalho de Nathan Crilly (2010) colabora com o entendimento do conceito e classificação das funções no design.