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PESQUISA DE CORPO PARA A CENA

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Por:   •  14/11/2014  •  2.120 Palavras (9 Páginas)  •  307 Visualizações

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Universidade Federal do Ceará

Instituto de Cultura e Arte

Teatro- Licenciatura

Disciplina: Pesquisa de corpo para a cena

Professora: Renata Lemes

Estudante: Leuise Lopes Furtado

MEMORIAL DO MEU CORPO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

FORTALEZA/2014

O presente trabalho é um relato sobre um pequeno processo ainda em construção, de um corpo para a cena. O que relatarei aqui, brevemente, serão os percursos que vivenciei durante duas disciplinas - Ator/texto e Pesquisa de corpo para a cena- em semestres consecutivos, na primeira me deterei ao que foi trabalhado e ao que ficou no meu corpo, assim não excluindo o texto- foco da disciplina-, mas apenas citando suas influências no meu processo de percepção corporal, na segunda- sobre a qual me debruçarei com mais especificidades- explanarei sobre todas as técnicas utilizadas na disciplina e como esses conhecimentos serviram de experiência para o meu corpo.

O meu processo com o corpo começou na disciplina de Ator-Texto primeiro com uma percepção, eu necessitava conhecer mais o meu corpo e elaborar estratégias para usa-lo de acordo com as minhas limitações. Já não bastava mais ter um corpo alongado, aquecido e em estado de prontidão, eu precisava de um corpo que fosse extensão dos meus pensamentos, sem separações entre mente e corpo, de que maneira eu aliaria esse estado de um corpo pronto para receber estímulos, à uma construção dentro de uma cena? Fazendo com que minha voz fosse emitida porque meu corpo estava em sintonia com ela e alterava ela de acordo com suas próprias alterações.

A primeira parte que conheci do meu corpo foram os pés, aprendi que eles concentram as maiores tensões e foi a partir dessa descoberta que tracei os primeiros contatos com o meu corpo, de fato. A técnica que possibilitou essa ativação inicial do meu corpo através dos pés foi o enraizamento, a procura por bases que fugiam à convencional - joelhos semi flexionados e pés paralelos na altura do quadril-, e o pisar, com consciência de que parte toca primeiro o chão, me fez aguçar os sentidos e encontrar um estado corporal pulsante que eu ainda desconhecia. Logo em seguida, ao me deparar com o trabalho de texto, fui surpreendida pela grande carga de interpretação na voz enquanto o corpo não dizia absolutamente nada. Foi então que comecei a pensar meu corpo a partir da pré-expressividade, sem nenhum elemento pré definido como texto, personagem ou interpretação, antes da expressão comecei a construir um estado de presença corporal, utilizando ações físicas corporais e vocais íntrisecas ao meu próprio corpo e foi assim que iniciou-se um processo de preparação para a cena sem nem mesmo se preocupar com ela, meu corpo dialogava com a personagem e o texto era dito a partir de como o meu corpo estivesse em determinado momento.

Nessa perspectiva, as aulas foram acontecendo e cada dia uma descoberta nova sendo feita, começamos a trabalhar com imagens e um pequeno contato com a mímesis corpórea que pela as palavras de Renato Ferracini - Ator/pesquisador/colaborador do LUME - :

“É um meio particular do LUME para a apreensão de matrizes. Seu estudo é tão complexo e pormenorizado que se transformou em linha de estudo independente dentro do Núcleo. Ela possibilita ao ator a busca de uma organicidade e de uma vida a partir de ações coletadas externamente, através da imitação de ações físicas e vocais de pessoas encontradas no cotidiano. Além das pessoas, ela também permite a imitação física de ações estanques como fotos e quadros, que podem ser,posteriormente, ligadas organicamente, transformando-se em matrizes complexas. Cabe ao ator a função de “dar” vida a essa ação imitada, encontrando um equivalente orgânico e pessoal para a ação física/vocal. Enquanto preparação do ator, faz com que ele saia de si e olhe para o exterior.” (FERRACINI, 2004, P. 19)

No nosso percurso, o trabalho com a mímesis, se deu a partir de fotos, levamos imagens e escolhemos um ponto que mais chamasse atenção e a partir dele devia-se iniciar o processo, a minha grande dificuldade nesse trabalho, foi objetivar o movimento, realmente imitar o que estava sendo visto na imagem. Eu tinha uma tendência a deixar o desenho e o movimento do meu corpo o mais subjetivo possível e foi aí onde um desafio apareceu no meu processo, a construção da minha personagem deveria vir a partir da imitação, porque ela seria única, pois era o meu corpo que estava realizando a ação, depois de muitas tentativas com o ponto que escolhi, consegui, minimamente, encontrar uma nova forma de colocar meu corpo em cena e fazer com que ele abrigasse a minha personagem no final do processo.

Dando continuidade a disciplina Ator-Texto, me deparei com a disciplina Pesquisa de corpo para a cena, o meu processo de percepção corporal que tinha apenas começado no semestre anterior, agora deveria continuar a partir da construção de um corpo para a cena.

Logo na primeira aula fui surpreendida pela pergunta “O que pode o corpo?” e, muito pior, com a falta de respostas para ela. Essa questão atravessa gerações e mostra que o corpo é mais potente do que se possa imaginar. Para Spinoza,

“Ninguém, na verdade, até o presente, determinou o que pode o corpo, isto é, a experiência não ensinou a ninguém, até ao presente, o que, considerado apenas como corporal pelas leis da Natureza, o corpo pode fazer e o que não pode fazer, a não ser que seja determinado pela alma. Efetivamente, ninguém, até ao presente, conheceu tão acuradamente a estrutura do corpo que pudesse explicar todas as suas funções, para já não falar do que se observa frequentes vezes nos animais e que ultrapassa de longe a sagacidade humana, nem do que fazem muitas vezes os sonâmbulos durante o sono, e que não ousa-riam fazer no estado de vigília.” (SPINOZA, 1974, p. 186)

O corpo, é tão aberto a possibilidades e entregue aos desejos da mente que responder o que pode o corpo, torna-se absolutamente paradoxal, jamais conseguiremos descrever o que ele pode na íntegra. Procurando por respostas ou, até mesmo, buscando não respondê-la, segui com a pergunta até o final da disciplina e ainda seguirei por muito tempo com ela latejando em meus pensamentos.

Nesse contexto, pesquisar o corpo começou a ser um exercício constante e, mais uma vez, se deu a partir dos

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