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Resenha Arnold Hauser

Por:   •  9/4/2017  •  Resenha  •  1.803 Palavras (8 Páginas)  •  1.668 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE MUSEOLOGIA

HISTÓRIA DAS ARTES

PROFESSOR: DANIEL DE SOUZA LEÃO VIEIRA

ALUNO: IGOR BARBOSA OLÍMPIO

1º EXERCÍCIO – RESENHA: ARNOLD HAUSER

RECIFE, 09 DE OUTUBRO DE 2016

        O conceito da Renascença como ruptura dos princípios da Idade Média é contestada pelo autor Arnold Hauser, no seu livro “A historia social da arte e literatura”, escrito em 1951. Ele aborda esse conceito como sendo o produto do desenvolvimento do pensamento que se iniciou na Idade Média, com o ressurgimento da cultura monetária. Na sua análise a compreensão do período do renascimento Cultural é uma visão completamente arbitrária, passada pelos Liberais do século XIX como forma de justificar historicamente os princípios da nova reforma capitalista empreendida por eles, tal qual a visão de Idade Média, época com pouco desenvolvimento das dinâmicas culturais, sociais e econômicas, ficando assim conhecida como “Idade das Trevas”.

        Contrário à ideia de Buckhardt, que afirma que houve na Renascença “a descoberta do mundo e do homem”, dando assim ênfase ao naturalismo desse período. Para Hauser, Buckhardt deixa passar despercebido aspectos marcantes da Idade Média, onde já se podia notar o aparecimento do naturalismo nas suas produções artísticas, ou também a ideia de individualismo das coisas. Hauser então percebe que o que diferencia o naturalismo renascentista para o naturalismo gótico consiste na consciência dos renascentista acerca dos princípios que regem a realidade, sendo assim, suas obras podem ser consideradas como “análises da natureza”.

        É notável a grande diferença nas concepções artísticas entre o período medieval e o renascimento cultural. Enquanto na primeiro podemos notar o princípio da justaposição, sendo uma arte definida pelo autor como “dominada pelo princípio de expansão e não de concentração, de coordenação e não de subordinação, da sequência aberta e não da geometria fechada. O observador é, por assim dizer, levado a percorrer as várias etapas de uma jornada, e o quadro de realidade que ela revela é como uma vista panorâmica geral, não uma representação unificada e unilateral, dominada por uma só perspectiva e um ponto de vista. Em pintura, é o método contínuo que é favorecido.” (HAUSER, 1951, p.280). Entretanto esse conceito de arte é substituído no Renascimento pela uniformidade, ou seja, trata-se da representação da realidade de forma independente, e autêntica, pois a qualidade artística deve seguir padrões de lógica, e razão geométrica do enfoque, notando-se assim um princípio de unidade na arte desse período, tal qual descrito por Wolfing em sua abordagem de visualidade pura.

        Levando em consideração que o Renascimento foi um movimento que se iniciou na Itália para posteriormente se difundir pelo restante da Europa, conclui-se que alguns fatores contribuíram para isto, tais como: menor grau de desenvolvimento do feudalismo nessa região da Europa e, a proximidade com a herança dos antigos, algo sempre atrelado a cultura dessa sociedade. Questiona-se as mudanças ideológicas sofridas face à essas mesmas influências na Idade Média que culminaram no surgimento do Renascimento, e porque e em que existe essa diferença entre esses dois períodos.

        A abordagem de Arnold Hauser traz à história crítica da arte uma abordagem marxista sobre os fenômenos sociais decorrentes do surgimento do Renascimento. Para o autor, a relação entre a Idade Média e o Renascimento Cultural está na continuidade do desenvolvimento econômico iniciado no fim do período medieval. Fundamentado nesse pensamento marxista, Hauser interpreta a ideia de produção artística de maneira diferente de outros historiadores. Para esses historiadores a produção artística é concebida como um sintoma da cultura, ideologias e visões de mundo compreendidas no período, enquanto Hauser defende que a produção artística e a cultura de um povo situam-se no mesmo patamar, e que ambas são sintomas das relações socioeconômicas presentes no espaço vivido.

        “A Renascença aprofunda a influência desse desenvolvimento medieval, com seu impulso no sentido do sistema econômico e social capitalista, somente na medida que confirma o racionalismo que domina agora toda a vida intelectual e material do período. Os princípios de unidade que se tornam agora imperativos em arte, e unificação do espaço e os padrões unificados de proporções, a restrição da representação artística a um único tema e a concentração da composição numa forma imediatamente inteligível estão também em concordância com o novo racionalismo. Expressam o mesmo desagrado pelo incalculável e pelo incontrolável que a economia da época, com sua ênfase sobre o planejamento, a oportunidade e a calculabilidade.” (HAUSER, 1951, p.284)

        Então, assim como o planejamento racional econômico, a produção artística do período será drasticamente modificada. Como resultado, elementos como a lógica, a harmonia aritmética, o ritmo calculável de uma composição, a exclusão de discordâncias nas relações das figuras com o espaço que ocupam e o relacionamento mútuo das varias partes do próprio espaço, passam a ser considerados o novo conceito de belo e estes princípios serão tomados como fundamentais para a produção artística do período conhecido como Renascimento Cultural.

        Para exemplificar a sua abordagem teórica, Hauser faz referência ao desenvolvimento de dois modelos socioeconômicos distintos observados em duas cidades italianas, Florença e Siena, e estuda como esses modelos influenciaram o desenvolvimento cultural e artístico dessas duas cidades.

        “Em Siena, onde a influência da classe baixa é mais forte e as tradições sociais e religiosas tem raízes mais profundas, o desenvolvimento intelectual prossegue menos perturbado por crises e catástrofes, e o sentimento religioso é capaz de assumir formas mais atuais e mais suscetíveis de evolução, justamente porque se trata de um sentimento estuante de vida.” (HAUSER, 1951, p.297)

        Pode-se perceber que na cidade de Siena, a sociedade desenvolveu-se de uma forma mais constante, na qual as classes sociais envolvidas nesse processo se relacionavam de forma harmônica, e isso impactou num desenvolvimento artístico e cultural mais uniforme; esse fator contribuiu para que a cidade tenha, num primeiro momento histórico ficado à frente de Florença no que se refere a produção de arte. Florença teve a conformação da sua nova sociedade marcada por diversos fenômenos adversos, como a Peste Negra, região que sofreu o maior impacto dessa grande epidemia europeia, bem como inúmeros conflitos entre a classe média que chega ao poder por volta do século XII e as classes mais baixas que reivindicavam por melhores direitos nessa nova conformação social. Portanto, houve nesse período em Florença uma estagnação do desenvolvimento cultural e artístico, perdendo prestígio para a Siena. Florença volta a atingir o auge da produção artística com a chegada dos Médici no poder, com Cosimo de Medici, que através do uso da força militar consegue um período de estabilidade social para a cidade, provocando um acelerado processo de desenvolvimento econômico.

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