Resenha: O Universo das Artes - Marilena Chauí, por Emelin Coimbra
Por: EMELIN AMANDA BASTOS COIMBRA • 22/7/2024 • Resenha • 1.524 Palavras (7 Páginas) • 89 Visualizações
RESENHA: O UNIVERSO DAS ARTES - MARILENA CHAUÍ
Escrito por: Emelin Amanda Bastos Coimbra
No terceiro capítulo da oitava unidade do livro “Convite à Filosofia”, de Marilena Chauí, denominado "O Universo das Artes", a autora apresenta um compilado de reflexões sobre a relevância de diferentes campos da arte, como literatura, música, artes visuais, teatro, cinema e dança, e as influências que essas artes tiveram na cultura, religião, política, economia e sociedade, desde a pré-história até a contemporaneidade. Para tanto, Chauí faz referência a diversos artistas, como Fernando Pessoa, Claude Monet e Caetano Veloso, e apresenta análises de filósofos e estudiosos como Platão, Aristóteles, Hegel, Merleau-Ponty e Walter Benjamin, fornecendo uma introdução sobre como a arte, a filosofia e a sociedade interagem entre si.
Chauí inicia seu argumento com um poema de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, que termina falando sobre a eterna novidade do mundo. A autora afirma que essa eterna novidade é realizada pelos e para os humanos e se chama arte. Maurice Merleau-Ponty diz que a arte é advento: “um vir a ser do que nunca antes existiu”. É a humanidade na tentativa de eternizar sua percepção da vida, o eterno do que é passageiro, assim como a própria existência de cada indivíduo.
Trazendo também uma comparação entre arte e religião, Chauí afirma que as primeiras manifestações artísticas estavam diretamente ligadas aos rituais religiosos, de magia e natureza, com a finalidade de sacralizar e divinizar o mundo. Sua análise mostra que, apesar da constante mudança de significados, meios de expressão e complexidade da experiência artística, a aura mística das obras de arte permaneceu, refletindo assim seu passado tradicional e ritualístico.
Do ponto de vista filosófico, a autora divide a teoria em dois grandes momentos. No primeiro momento, a poética, trazida por Platão e Aristóteles; no segundo, a estética, nascida a partir do século XVIII. A palavra poética, traduzida do grego "poiesis", significa fabricação. A arte poética, portanto, advém da fabricação produzida pelos seres humanos. Já a estética, do grego "aesthesis", significa conhecimento sensorial, o que conclui que: 1. a arte é produto da sensibilidade, da imaginação e da inspiração do artista, tendo a contemplação como finalidade; 2. a contemplação pelo artista é a busca do belo e, pelo público, a validação do valor da beleza alcançado pela obra de arte; 3. o belo é diferente do verdadeiro.
A partir disso, Chauí afirma que a estética e a filosofia da arte consistem em três núcleos principais de investigação: a relação entre arte e natureza; arte e humano; e as finalidades e funções da arte.
A mais antiga relação entre arte e natureza é feita por Aristóteles, quando diz que “a arte imita a natureza”, trazendo o conceito de "mimesis", que não tem como propósito imitar a natureza de fato, mas sim fazer uma representação dela através da fantasia, respeitando a harmonia e proporções a partir do que se ouve de outros seres, do que se sente, cores, formas, volumes, etc. A partir do romantismo, essa relação passa a ser de criação e não mais de imitação, o artista passa a ser o gênio criador e a arte a expressão de sentimentos e emoções, libertando-se da natureza ao criar uma realidade humana e espiritual. Na contemporaneidade, essa relação é de expressão e construção; o artista é um ser social que reflete sobre a sociedade em que está inserido, seja para criticar, afirmar ou superar esta, colaborando ou lutando com a natureza.
Chauí, ao falar da relação entre arte e humano, nos contempla com duas grandes concepções iniciadas na Grécia antiga por Platão e Aristóteles, que passam por alterações ao longo do tempo. Platão considera a arte como uma forma de conhecimento em um plano mais baixo, por considerá-la imitação. Na Renascença, essa visão platônica é retomada com um novo olhar, afirmando que a arte é uma das mais altas formas de atingir o conhecimento, ficando apenas abaixo da filosofia. A arte, como expressão do conhecimento, alcança seu ápice no Romantismo, sendo concebida como “o órgão geral da filosofia”, sendo, para alguns, a única via de acesso ao universal e ao absoluto. De acordo com Hegel, as artes são a primeira etapa da vida consciente e do espírito, e para outros, o caminho para reatar o singular e o universal.
Na concepção aristotélica, a arte é definida, como visto anteriormente, uma atividade prática e fabricadora, separada do conhecimento teórico e diferenciada entre o necessário e o possível. No século XIX, essa visão é expandida em duas grandes contribuições: a dos que afirmam que a arte tem utilidade social, principalmente na arquitetura, e a dos que afirmam seu caráter lúdico, assim como propõe Nietzsche, que enxerga as artes como jogo, liberdade criadora, embriaguez e delírio.
Ao nos elucidar sobre as finalidades e funções da arte, Chauí identifica na história duas principais concepções da atividade: a concepção pedagógica e a concepção expressiva. Na concepção pedagógica, a autora nos traz novamente as teorias platônicas e aristotélicas, além dos filósofos Kant e Hegel, e os pensamentos estéticos da esquerda. Em “A República”, Platão exclui a pintura, a poesia e a escultura por imitarem as coisas sensíveis, mas denomina a dança e a música como práticas fundamentais no desenvolvimento humano. Em sua obra “Arte Poética”, Aristóteles nos introduz o conceito de catarse ao destacar o papel pedagógico da tragédia e da música, sendo a catarse a purificação espiritual de seus espectadores, produzida através dessas práticas artísticas. Kant, ao relatar essa concepção pedagógica, afirma que a função mais alta da arte é a produção do sentimento do sublime, que seria a elevação e o arrebatamento do espírito. Já Hegel vê a arte como um meio para a educação moral, que destrói a brutalidade da matéria ao transformá-la na pureza da forma, promovendo a transição do artístico para a espiritualidade. Por fim, os pensamentos estéticos de esquerda atribuem à arte funções sociais e políticas que trazem a emancipação do indivíduo, pensamentos estes defendidos por diversos artistas e estudiosos.
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