Roteiro Radionovela Romance a Hora da Estrela
Por: Vanessa Neri • 1/11/2015 • Artigo • 1.314 Palavras (6 Páginas) • 9.447 Visualizações
ROTEIRO - A HORA DA ESTRELA.
Apresentação da obra:
Narrador: O romance A Hora da Estrela é uma obra da brilhante escritora Clarice Lispector, escrita em 1977. Esse importante clássico da literatura brasileira aborda o contato do imigrante nordestino com os grandes centros urbanos. Uma obra com forte cunho político e psicologismo, característica marcante de Clarice.
Narrador: Conheça a história de Macabéa e mergulhe num universo de encontros e desencontros vividos pela protagonista, que apesar da vida sofrida e aparência frágil, terá seu momento de gloria.
CENA 01:
(BARULHO DE RÁDIO CHIANDO E MÁQUINA DE DATILOGRAFIA).
Narrador: Em um dia comum, uma moça de aparência frágil está trancada num escritório mal iluminado. Ela está datilografando algo, um documento a ser entregue ao seu chefe. Enquanto isso, dois funcionários fazem conferência do estoque.
PEREIRA: Raimundo! (Fale gritando).
RAIMUNDO: Sim senhor.
PEREIRA: Que porcaria é essa? Esse documento está sujo! (fale em tom de irritação).
RAIMUNDO: Foi a nova datilografa, a Macabéa.
PEREIRA: Maca o que? Isso lá é nome de gente?
RAIMUNDO: Foi a única que aceitou um salário tão baixo.
Narrador: Macabéa se aproxima da sala, mas ela é advertida pelo chefe, senhor Pereira.
PEREIRA: Aguarde lá fora, depois o Raimundo fala com você. Vá logo menina, feche a porta.
(BARULHO DE PORTA FECHANDO E PASSOS).
RAIMUNDO: Olha quanta sujeira no papel, desse jeito você será demitida. Lave as mãos antes de trabalhar. (Fale com tom imperativo, porém amável).
MACABÉA: Desculpa o aborrecimento.
Narrador: Neste momento, sem nenhuma delicadeza, ela limpa o nariz na barra da blusa, olha o relógio e vai para casa.
(Melodia Triste)
Narrador: A moça raquítica, de nariz deformado e ombros curvados, perdera os pais quando tinha 2 anos. Macabéa foi morar com uma tia, em Maceió. Uma beata que vivia espancando a menina,
Narrador: Com a morte da tia a moça passou a dividir um quarto com balconistas das lojas Americanas.
Narrador: Macabéa não tinha nenhuma diversão. Sempre acordava cedo aos domingos, pois queria ficar mais tempo sem fazer nada.
(TOCAR MELODIA TRISTE).
CENA 02
GLÓRIA: - Preciso de 80 cruzeiros para resolver o problema.
- Você não está acreditando? Deu positivo.
- Sua mulher vai gostar de saber.
- Ok. Te encontro no bar da esquina.
(BARULHO DE TALHERES)
AMANTE DE GLÓRIA: - Aí está o dinheiro.
(BARULHO DE TALHERES E PASSOS).
GLÓRIA: - Você já fez isso antes? (fale com boca cheia de comida)
MACABÉA: - O que?
GLÓRIA: - A-BOR-TO (Fale quase soletrando). Nossa! Então você é virgem! (fale abismada). Quantos anos você tem? (BARULHO DE TALHERES)
MACABÉA: - Fiz 19 anos no mês passado.
GLÓRIA: - Perdi minha virgindade com 15 anos. Sabe quantos abortos já fiz? CIN-CO (FALE QUASE SOLETRANDO).
MACABÉA: - E você não teve medo?
GLÓRIA: - Eu não. Muita gente fala que é pecado, mas não acredito nisso mesmo.
GLÓRIA: - Você é virgem porque é muito desbotada. Devia parar de comer lanche com coca-cola. Tem que comer comida, para ficar com peitinho, bundinha. Assim como eu.
MACABÉA: Ah, eu como porque é barato. Mas o que gosto mesmo é goiabada com queijo.
(MÚSICA DE RÁDIO).
CENA 03
Narrador: Após arrumar uma desculpa para não ir trabalhar, Macabéa aproveita o tempo vago para passear, e ao entardecer encontra um rapaz, fazendo pose e arrumando os cabelos para uma foto.
Eles trocam olhares e neste momento começa a chuva. (BARULHO DE CHUVA DURANTE TODA A CENA 03).
Ele com seu sotaque cantante de nordestino, chegou perto da moça e perguntou:
OLIMPICO: - E se me desculpe, senhorita, posso convidar a passear?
MACABEA: - Sim.
OLIMPICO: - E se me permite, qual é mesmo a sua graça?
MACABEA: - Macabea.
OLIMPICO: - Maca – o que?
MACABEA: - Bea.
OLIMPICO: - Me desculpe, mas até parece nome de doença, doença de pele.
MACABEA: - Também acho esquisito, mas foi minha mãe que botou ele por promessa.
Narrador: Sem saber como se passeia, eles andavam sob a chuva grossa e paravam de frente as vitrines das lojas. Macabea com medo do silêncio, disse ao seu recém-namorado:
MACABEA: - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?
(BARULHO DE CHUVA E MELODIA NOSTALGICA).
CENA 04
(BARULHO DE CHUVA DURANTE TODA A CENA)
Narrador: Já no terceiro encontro, chovia novamente, e irritado o rapaz dispara:
OLIMPICO: Você só sabe mesmo é chover!
MACABEA: Desculpe.
Narrador: Ela já o amava e por fim perguntou o seu nome.
OLIMPICO: Olímpico de Jesus Moreira Chaves.
Narrador: Lógico que ele havia mentido. Apenas era Olímpico de Jesus, mas queria impressionar.
(Melodia triste)
Narrador: Eles conversavam sobre assuntos do passado: farinha, melado, carne do sol. Ela pensava nos dois casados e ele em ficar rico.
Narrador: Assim como Macabea, Olímpico também era uma vítima do sistema, mas diferente dele, ela era inocente.
CENA 05
MACABEA: A rádio relógio diz que dá a hora certa, cultura e anúncios. Que quer dizer cultura?
OLIMPICO: Cultura é cultura.
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