Sabedoria do filme "Instinto"
Resenha: Sabedoria do filme "Instinto". Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: fernandoandrade1 • 18/11/2014 • Resenha • 993 Palavras (4 Páginas) • 370 Visualizações
Sabedoria do filme "Instinto"
Por: João Márcio
Existem filmes que são verdadeiras guloseimas em fim de semana. Outros são dinamites que explodem, temporariamente, nosso senso de realidade. O filme INSTINTO, interpretado pelo genial Anthony Hopkins, é fora do comum. Indicação de um amigo, assisti com sérias restrições porque o título me lembrava violência, sangue e dor. Grande engano!
O filme trata sobre um antropólogo (Hopkins) que vive, durante dois anos, na floresta africana junto com gorilas. Ele renuncia aos seus estudos, pesquisas de campo e anotações para, literalmente, experimentar viver como um gorila vive. Depois que ele, para defender seu bando, mata dois caçadores, é preso e considerado psicótico. Um psicólogo, recém-formado, assume o caso, a procura de uma tese de mestrado sobre a loucura do antropólogo. Essa tese lhe dará ascensão na carreira.
Todavia, nos diálogos com o suposto louco, o Dr.psicólogo descobre que o antropólogo tinha, no seio da floresta, descoberto uma outra percepção do mundo. Vivendo longe dos arranjos sociais, dos jogos humanos, dos papéis convencionais, da busca por sucesso, o antropólogo descobriu a “paz”. É o que ele diz num diálogo inesquecível, logo no início do filme.
O filme, acontece, na maior parte entre diálogos enquanto o psicólogo, imagina que estar consertando o “louco”, ele é que está sendo curado. Sua doença: ser civilizado, dentro dos princípios de dominação e poder vigentes.
É um filme baseado na obra de Daniel Quinn. O livro Ismael narra um diálogo surreal entre um gorila e um ser humano. Sua obra se tornou conhecida mundialmente porque toda, com grande profundidade, em questões que alicerçam nossa suposta civilização. E por que um gorila? Porque, para compreender o mundo como ele está, era preciso escutar alguém que não faz parte desse mundo. Não participa dos esquemas sociais de alienação e entorpecimento.
Esse filme, assim como o livro mexeu muito comigo. Impossível, depois de assistir o filme, ler o livro, e olhar para o mundo da mesma forma. De forma simples, mas perturbadora, ele consegue desorganizar nosso universo estruturado e revela os verdadeiros alicerces da civilização. Nossa cultura foi construída dissociada da natureza, por isso, criamos falsas necessidades, consequentemente, “falsos” seres humanos.
Trechos do livro:
“Ismael pensou um pouco.
— Dentre as pessoas de sua cultura, quais desejam destruir o mundo?
— Quais desejam destruir o mundo? Até onde eu saiba, ninguém especificamente deseja destruir o mundo.
— E no entanto o destroem, todos vocês. Cada um contribui diariamente para
a destruição do mundo.
— Sim, é verdade.
— Por que não param?
Encolhi os ombros.
— Francamente, não sabemos como.
— São cativos de um sistema civilizacional que mais ou menos os compele a prosseguir destruindo o mundo para continuarem vivendo.
Como observei muitas e muitas vezes, os pensadores basilares da nossa cultura imaginaram que o homem nasceu como agricultor e criador de civilização. Quando os pensadores do século XIX foram obrigados revisar esse pressuposto, fizeram-no da seguinte maneira: o homem talvez não tenha nascido como agricultor e criador de civilização, mas apesar disso nasceu para tornar-se agricultor e criador de civilização. Em outras palavras, o homem daquela ficção conhecida como pré-história atingiu nossa consciência cultural como uma espécie de desencadeador de um processo muito, muito lento, e a pré-história tornou-se uma seqüência de pessoas desencadeando um processo, lento, muito lento para se
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