Teorias da arte
Artigo: Teorias da arte. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: zuzu02 • 12/9/2014 • Artigo • 4.263 Palavras (18 Páginas) • 324 Visualizações
As teorias da arte têm por objetivo explicar a natureza da obra de arte em geral. Alguns críticos consideram essa tarefa inevitavelmente fadada ao fracasso. Segundo eles, a arte é um fenômeno demasiado diversificado para que possa ser encontrada uma essência comum a todas as suas manifestações, o que equivale a dizer que não podemos encontrar condições necessárias e suficientes para a sua identificação, ou seja, condições que uma vez PRESENTES nos garantam que estamos diante de obras de arte. O que há de comum, afinal, entre o teto da capela Sixtina e as caixas de supermercado Brillo de Andy Warhol? Muito pouco.
Essa objeção toma uma forma articulada na sugestão, feita por Morris Weitz, de que o conceito de arte não pode ser definido em termos de condições necessárias e suficientes por se tratar de um conceito caracterizado pelo que Wittgenstein chamava de semelhanças de família, tal como os conceitos de jogo, número e religião1. Tais conceitos parecem possuir uma essência comum a todas as suas aplicações, mas na realidade apresentam apenas semelhanças parciais entre uma e outra aplicação, nada possuindo de relevante que seja comum a todas as aplicações. As similaridades entre as aplicações são, em uma metáfora de Wittgenstein, como as cerdas trançadas de um mesmo fio, que apenas parecem percorrer toda a sua extensão2.
Essa objeção pode bem ter a sua importância. Mas é importante notar que a noção de semelhanças de família, se interpretada como exigindo apenas que os objetos de aplicação do conceito possuam semelhanças quaisquer entre si, é incoerente. Qualquer coisa é, em algum aspecto, semelhante a qualquer outra coisa. Como já se notou, o edifício do Empire State e um alfinete são semelhantes no tocante ao fato de serem feitos de material inorgânico e de serem pontudos, o que não nos qualifica a dizer que o Empire State é um alfinete3. Se as semelhanças não forem por algum critério limitadas, conceitos com semelhanças de família tornam-se ilimitadamente aplicáveis, perdendo a sua função classificatória e deixando de fazer qualquer sentido. Um meio de delimitar as semelhanças sem fazer apelo a uma essência comum consiste em estabelecer um paradigma, que consiste um uma série de propriedades para a aplicação do conceito, e no estabelecimento de uma regra criterial exigindo uma compartilhamento mínimo entre as propriedades de um objeto e as propriedades descritas no paradigma. Dessa forma, dois objetos podem não possuir nenhuma propriedade comum e mesmo assim compartilharem suficientemente das propriedades descritas no paradigma para cairem sob o mesmo conceito. Esse poderia ser o caso, por exemplo, do conceito de religião4.
Contudo, se nós considerarmos as coisas dessa maneira, as teorias da arte voltam a fazer sentido, se não como teorias que visam estabelecer condições necessárias e suficientes ou essências comuns, ao menos como teorias que devem estabelecer o paradigma daquilo que chamamos de arte, além das margens de similaridade entre o objeto e o paradigma a serem requeridas para que ele possa ser chamado de obra de arte. O importante passa a ser que essas teorias sejam capazes de iluminar dimensões importantes da obra de arte, as quais constituem o paradigma, além das relações sistemáticas eventualmente existentes entre elas.
Mas há uma outra maneira (não necessariamente conflitante com a que acabo de expor) de se abordar a questão. Um conceito com aplicações muito diversificadas pode ser muitas vezes analizado como um conceito formado por subconceitos variadamente assemelhados entre si. Sendo assim, mesmo que um certo conceito geral não possua uma essência comum a suas aplicações, isso não significa que os subconceitos que o constituem, se considerados individualmente, não possuam essências comuns a suas aplicações ainda mais específicas. Além disso há subconceitos que são mais fundamentais e que importa mais analisar. Considere, por exemplo, a conceito de verdade, que se subdivide em dois subconceitos, o da verdade como antônimo da falsidade, e da verdade como antônimo da mentira - o primeiro é certamente mais fundamental, só vindo associado ao segundo pelo fato de mentirosos dizerem coisas falsas.
Se assim for, uma teoria da arte pode esclarecer a essência comum ao que pertence a uma espécie importante de arte, sendo essa uma tarefa mais relevante do que a de estabelecer uma regra criterial capaz de delimitar nossas aplicações da palavra "arte" em circunstâncias nas quais a busca de uma essência comum revelou-se uma miragem.
No que se segue quero expor e discutir brevemente algumas teorias mais influentes acerca da natureza da arte em algumas de suas variantes, em busca do que possa parecer mais esclarecedor.
1. Representacionalismo
O representacionalismo é a mais antiga concepção sobre a natureza da arte, sugerindo que a sua função é a de representar alguma coisa. Platão e Aristóteles concebiam a arte como imitação ou mímese, ou seja, uma representação naturalista da realidade. Assim, a pintura imita a natureza, o drama imita a ação humana. Essa concepção já era problemática na antiguidade. A música instrumental, por exemplo, não parece imitar coisa alguma. E a pintura moderna tornou essa concepção ainda menos plausível. Um quadro que intenta copiar a realidade é chamado pejorativamente de Trompe D'oeil e geralmente visto como alguma coisa sem valor estético. Esse juízo não pode ser generalizado. A série dos auto-retratos de Rembrandt, nos quais ele honesta e corajosamente retrata a sua própria decadência, são obras de arte. Mas grande parte da pintura, da literatura, quase toda a música, não são certamente cópias literais de coisa alguma.
Uma segunda versão de representativismo é a teoria representacional propriamente dita. A obra de arte não precisa ser uma cópia ou imitação da realidade, ou seja, uma representação naturalista. Ela pode ser uma representação puramente convencional ou simbólica. Assim, um quadro cubista, embora pareça muito pouco com aquilo que representa, não deixa por isso de ser considerado uma obra de arte. Essa versão do representativismo é, mesmo assim, insuficiente. O que dizer da pintura realmente abstrata, como o Número 32 de Pollock, ou de objetos achados, como o pissoir de Marcel Duchamp (intitulado A Fonte), ou de músicas puramente orquestrais como a Sétima Sinfonia de Beethoven? Convencionalmente, essas obras não simbolizam nada.
A terceira versão do representativismo é o que já foi chamado de neo-representacionalismo5. Nessa versão não é mais exigido que a obra de arte represente nada, mas que seja sobre algo, que possua um tema, um assunto,
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