A Educação e Desigualdades
Por: rafaelrsantiago • 15/6/2021 • Resenha • 1.118 Palavras (5 Páginas) • 162 Visualizações
Educação e desigualdades
O século XXI é marcado por uma ampla expansão do acesso ao ensino superior. Pesquisas apontam que com a expansão do acesso ao ensino superior no Brasil o perfil dos ingressantes na educação superior tem mudado e ficado mais heterogêneo, graças a entrada dos estudantes de baixa renda, de escolas públicas, pretos, pardos e indígenas que têm ingressado em maior número no ensino superior (RISTOFF, 2014; PRATES; BARBOSA, 2015; ANDRADE, 2015), porém padrões de desigualdades ainda persistem em seu interior. Neste contexto, a análise das dimensões verticais e horizontais da estratificação educacional no Brasil torna-se uma importante ferramenta para entender melhor como se organiza o ensino superior e onde as desigualdades educacionais estão situadas podendo assim criar de políticas educacionais que diminuam essas tendências.
A dimensão vertical das desigualdades educacionais indicam a probabilidade que os alunos têm de completar as etapas educacionais e qual influencia as origens sociais têm neste processo. Mont’alvão (2016) faz um importante trabalho ao mapear algumas das mudanças ocorridas neste tipo de análise que com o passar dos anos e avanço das análises foi incorporando em seus estudos questões como: a forma que o sistema educacional seleciona, diferencia e exclui estudantes dependendo de suas origens sociais e a discussão do conceito de desigualdade maximamente mantida, que é a hipótese de que apesar da desigualdade de acesso diminuir em determinado nível educacional quando as classes sociais mais alta atingem 100% de acesso a desigualdade se mantém, se deslocando para o próximo nível educacional.
No Brasil o efeito das origens sociais no acesso são maiores principalmente nos níveis mais elevados do ciclo escolar. Com o aumento do acesso nos primeiros níveis educacionais as barreiras sociais se deslocaram principalmente para o ensino médio e superior (TORCHE, 2010). Tendo isso em vista diversas políticas públicas foram criadas ao longo do século XXI com o intuito de diminuir essas barreiras, aumentando seu acesso. No entanto, a literatura indica que esses jovens que vêm dos estratos mais pobres e das redes públicas de ensino básico tendem a ingressar em cursos menos concorridos e com menor prestígio, enquanto os jovens das classes médias e da educação privada escolhem cursos mais tradicionais e valorizados socialmente.
A análise da estratificação horizontal neste sentido é uma importante ferramenta para se compreender o fenômeno. Os estudos da estratificação horizontal focam em como as escolhas do estudante em relação ao curso, área do saber e instituição são determinadas socialmente. As análises da dimensão horizontal das desigualdades não dizem respeito ao acesso aos níveis educacionais mas sim em como as classes mais altas acessam às oportunidades que possuem maior qualidade de ensino e que resultam em retornos financeiros maiores, o que acaba por manter as desigualdades. O conceito desigualdade efetivamente mantida sugere que as desigualdades educacionais se mantém mesmo com o acesso de camadas sociais mais baixas no mesmo nível educacional das mais altas e é isso que as análises horizontais na educação tem indicado.
Na sociologia há, pelo menos, dois grandes quadros teórico-metodológicos de análise que relacionam a origem social dos indivíduos e grupos com a escolha/acesso de determinadas carreiras (ZUCCARELLI et al, 2019). A primeira seria a “escolha racional”, onde a escolha por certas carreiras é descrito como uma análise consciente e estratégica do custo/benefício associado a ela. A segunda própria da “tradição bourdieusiana” descreve as escolhas como um ajustamento das preferências as condições objetivas da sua realização. Independente de qual quadro teórico é utilizado para sociologia da educação hoje, o acesso às carreiras de ensino superior não é apenas uma expressão de gosto ou vocação inata. Ao observarmos as características socioeconômicas, o sexo, a cor dos alunos matriculados em cada curso podemos verificar indicadores claros de como os diferentes estratos sociais se distribuem na educação superior brasileira.
Dubet (2015) aponta que a expansão do sistema de ensino superior não indica necessariamente uma democratização, mesmo com a entrada de alguns grupos que antes não tinham acesso ao ensino superior. As políticas governamentais e as ações institucionais como o FIES, o PROUNI, o REUNI, o SISU, a Lei de Cotas, entre outras, ampliaram drasticamente a chance de acesso das camadas mais excluídas da sociedade porém não conseguiram efetivamente diminuir as desigualdades.
Nem sempre os jovens que ingressam no ensino superior através das políticas de acesso ingressam nos cursos e áreas desejadas ou conseguem se manter no curso escolhido. Melina Klitzke (2017) em sua pesquisa mostra que o perfil socioeconômico dos ingressantes na UFRJ após a implementação do SISU e das políticas de cotas nos cursos considerados de elite como Direito, Medicina e Engenharia de produção, não mudou de maneira efetiva, mantendo-se elitizado. Eduardo Borges (2017) indica que tanto a escolha do curso como as probabilidades de conclusão dos mesmos se relacionam fortemente ao perfil socioeconômico do estudante.
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