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A Família, Política e Conflitos Sociais Resenha

Por:   •  30/9/2018  •  Resenha  •  1.249 Palavras (5 Páginas)  •  263 Visualizações

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O texto de Afrânio Garcia e Beatriz Heredia tem como objeto de pesquisa pequenos minifundiários da área de transição da Zona da Mata e o Agreste pernambucano e mostra a relação de trabalho existente neste campesinato, que tem como base a sua “unidade de trabalho familiar”, composta pelo pai, mãe, filhos (as) solteiras – a chamada família elementar. Este caráter familiar é o que define este processo de produção: a família como parentesco e como unidade de produção. Assim, é o nível de parentesco que define a unidade de trabalho, e não as exigências diretas do processo de produção.

O pai é a autoridade dentro da unidade de trabalho da família elementar; “o processo de reprodução física do grupo, é, simultaneamente, a de reprodução daqueles papéis” (Garcia Jr, Heredia, pág. 12). No campesinato, a família se realiza como unidade de produção (roçado) e de consumo (casa). Há um par de oposição roçado-casa, em que a segunda é subordinada ao primeiro, pois sua sobrevivência/reprodução depende deste. Assim, o trabalho da família em conjunto é o elemento fundamental para a reprodução da unidade camponesa; ser autônomo é um fato fundamental no campesinato.

Assim como estes autores, Mayer também mostra que há uma grande oposição no trabalho no campo, ou nos sítios, com o trabalho nos engenhos, já que neste é um trabalho assalariado, e assim, é visto como sujeição e como alternativa somente para o caso de não se poder realizar o trabalho autônomo. Há o trabalhador de fora, que é um trabalho temporário para determinada atividade no sítio; alguns camponeses usufruem deste trabalho temporário como forma de obter investimentos para seus sítios.

O desenvolvimento da família e sua composição (quantos homens e quantas mulheres) é fundamental na unidade de produção familiar, determinando se há ou não necessidade de contratação de trabalhador de fora. O pai é a autoridade máxima no processo de produção familiar: os filhos e a mulher estão a ele subordinados no chamado roçado familiar. Neste, trabalham todos os membros da família e sua produção destina-se ao consumo familiar. O pai é o responsável pela sua supervisão, bem como da divisão dos produtos a serem consumidos.

Os autores mencionam a existência de um outro roçado, o roçado individual, ou roçadinho, que pertence aos filhos ou a esposa, e que tem importante papel na estrutura familiar. O trabalho nos roçadinhos acontece paralelamente ao trabalho no roçado familiar; normalmente os filhos/esposa trabalham 4 dias semanais no familiar e 2 dias em seu roçado individual. Os produtos dos roçadinhos são os mesmos do roçado familiar, só que sua produção é vendida e o lucro obtido é gasto na compra de bens pessoais, como vestuário e produtos de higiene.

Assim, o pai banca este tipo de gastos dos filhos enquanto eles são crianças e ainda não possuem seus roçadinhos; é a partir dos 10/12 anos que os filhos adquirem seus roçados individuais. No começo, o pai supervisiona e os ajuda, ensinando-os as técnicas de produção agrícola, quando os filhos “aprendem” a trabalhar e não mais necessitam da ajuda do pai, eles são considerados grandes, e tornam-se responsáveis e independentes, custeando suas despesas pessoais. O roçado familiar é tido por Heredia como um processo de socialização, pois é nele que os filhos aprendem as técnicas agrícolas e interiorizam os valores. O casamento é o grande marco para a maioridade dos filhos, pois é neste momento que deixam de trabalhar no roçado familiar e individual e criam suas próprias unidades de produção – casa e roçados independentes.

Para Heredia, os roçadinhos têm papel fundamental por evitarem uma série de conflitos que poderiam existir na estrutura familiar caso eles não existissem. Isso porque, evitam que os filhos mais velhos trabalhem mais que o pai nas tarefas do roçado familiar (caso não existisse o individual), o que comprometeria sua autoridade; e segundo porque evita problemas com os produtos de uso individual, já que cada um compra os seus, do modo que lhe couberem. O problema de se ter conflito com os filhos grandes é que pode haver uma ameaça à autoridade do pai – ele não participa na redistribuição dos produtos dos roçados individuais, mas sua autoridade não é comprometida pelo fato de ser o dono da terra e dos meios de produção.

Para Mayer, o trabalho no sítio é indivisível, mas no momento do consumo familiar ele perde este caráter. Para o autor, os roçadinhos são “esferas de individualização” na unidade produtiva, já que essa produção individual exerce importante papel na socialização dos filhos homens e está subordinada ao “roçado” coletivo da família. Em determinados momentos e situações,

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