A Ocupação Tapajós
Por: Marcello Sena • 18/7/2019 • Seminário • 1.062 Palavras (5 Páginas) • 222 Visualizações
ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS DA OCUPAÇÃO HUMANA NA REGIÃO DO COMPLEXO DO TAPAJÓS:
1 Processo histórico da ocupação humana na bacia do Tapajós.
Os primeiros grupos humanos na
região viveram em um ambiente
mais semelhante às matas de cerrado
atuais que à floresta amazônica
(Rossetti et al., 2004). Esses grupos
nômades, de tamanho reduzido,
iniciaram processos de modificação
do ambiente com o uso do fogo e
geraram “ilhas de recursos”, feições
fitogeográficas resultantes de
restos vegetais e de sementes concentradas
em seus acampamentos e
trilhas, a exemplo do que foi verificado
entre os caçadores-coletores
Nukak, na Amazônia colombiana.
É possível que tenham sido esses
primeiros habitantes que nos
legaram a arte rupestre encontrada
no Tapajós, em seus afluentes e nas áreas de interflúvio.
Embora ainda não tenhamos datações
para essas ocupações no Tapajós,
é razoável assumir que ocorreram
entre o final do Pleistoceno e
o início do Holoceno, se tomarmos
a Gruta do Gavião, na Serra dos Carajás,
ou o Abrigo do Sol, na Serra
dos Parecis – ambos localizados na
Amazônia meridional –, como balizas.
No Abrigo do Sol, as primeiras
ocupações humanas foram datadas
a partir de 14.700 ± 195AP (Miller,
1987: 61), enquanto as mais antigas
datações para a Gruta do Gavião remontam
a 8.140AP ± 130AP (Silveira,
1995). Há ainda a Caverna da Pedra
Pintada, em Monte Alegre, situada
ao norte do rio Amazonas, cujas ocupações
foram datadas entre cerca
de 11.200AP e 10.000AP (Roosevelt et
al., 1996, 380). Essas datas antigas ao
redor do rio Tapajós, aliadas a características
tecnológicas dos artefatos
líticos encontrados na região do
alto Tapajós, reforçam que a região
possivelmente foi ocupada ainda no
Pleistoceno tardio. Do sambaqui de
Taperinha, situado a leste de Santarém,
no baixo Amazonas, provêm
os exemplares cerâmicos mais antigos
conhecidos nas Américas, datados
em aproximadamente 8.000AP
(Roosevelt et al., 1991).
Indícios de intensificação
Há cerca de 4.600AP, a umidade da
região já era maior e a vegetação
muito mais parecida com o que encontramos
na região nos dias atuais
(Rossetti et al., 2004).
Sítios arqueológicos contendo
terras pretas de índio são conhecidos
por toda a Amazônia (Neves et
al., 2003); a bacia do Tapajós não é
exceção (e.g. Kern et al., 2003; Smith,
1879; Woods & McCann, 1999). Por
definição, áreas de terras pretas
constituem sítios arqueológicos.
Hoje em dia, há consenso geral
entre arqueólogos e pedólogos de
que terras pretas são decorrentes de processos de ocupação intensivos,
denotando maior grau de sedentarização,
além de evidenciar
substancial alteração humana do
ambiente (e.g. Arroyo-Kalin, 2010;
Petersen et al., 2001).
Há diversos
locais próximos a Itaituba que apresentam
manchas de terra preta na
margem ocidental do Tapajós, tanto
a jusante (e.g. Hartt, 1885: 14; Perota,
1979: 5; Simões, 1983), quanto a
montante, como no Parque Nacional
(Parna) da Amazônia (Oliveira et
al., 2010) e nas localidades de Montanha
e Mangabal – onde, dentre os
24 sítios arqueológicos registrados,
os seis situados em áreas planas
mais extensas e livres de inunda ção apresentam terra preta (Rocha
& Honorato de Oliveira, 2011). No
lado oriental do rio, pouco prospectado,
sabemos de outros sítios:
o Pajaú, nas cercanias da comunidade
Pimental (Rocha, 2012); o sítio
arqueológico de Sawre Muybu,
situado sob a aldeia munduruku
homônima, próximo à foz do rio Jamanxim;
e o sítio Piririma (PA-IT-28)
– que possui uma “mancha de terra
preta de vários hectares” (Lisboa
& Coirolo, 1995: 9)9 –, localizado a
dois quilômetros da confluência do
igarapé do Rato com o rio Tapajós.
Lembramos também dos diversos
sítios arqueológicos com terra preta
na área de interflúvio (e.g. Gomes,
2008; Martins, 2012; Stenborg et al.,
2012)10. Outro local com terra preta
conhecido é a Missão São Francisco
do Cururu (Hilbert, 1957). Subindo
em direção aos formadores do Tapajós,
o quadro se repete, tanto no rio Teles Pires, quanto no Juruena (Pardi,
1995-1996; Perota, 1982; Stuchi,
2010).
A colonização portuguesa e seus
impactos
Os primeiros europeus a passarem
pela boca do rio Tapajós, em 1542,
avistaram “a três léguas do rio pela
terra adentro… grandes populações
que branqueavam” (Carvajal [1546]
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