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A Renda Familiar

Por:   •  18/5/2023  •  Trabalho acadêmico  •  9.705 Palavras (39 Páginas)  •  72 Visualizações

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Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 81, jul. 1999.

Renda familiar e trabalho da mulher na Região Metropolitana de São Paulo nos anos 80 e 901

Eugenia Troncoso Leone 2

Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar o significado da ampliação do trabalho remunerado da mulher para a preservação ou modificação do perfil socioeconômico de diferentes tipos de família. O universo de análise esteve constituído pelas famílias com presença de mulher entre seus componentes. A fonte de dados utilizada foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) referente aos anos de 1981, 1990 e 1995. Os principais resultados foram, por um lado, que o número de famílias com mulher na PEA na região metropolitana de São Paulo ultrapassou os 50% em 1995, devido, principalmente, a maior participação das chefes e cônjuges na atividade econômica e, de outro lado, que a contribuição do trabalho da mulher na renda familiar ajudou a retirar famílias da situação de extrema pobreza e a afastar da pobreza as que já não eram pobres.

Palavras-chave: Trabalho feminino; Renda familiar; Pobreza.

Abstract

The purpose of this paper is to analyze the influence of the increase in the number of women receiving economic remuneration in the preservation or modification of the socio-economic profile of the different types of families. The universe of analysis was families which included women. The source of data used was the National Family Survey (PNAD) for the years of 1981, 1990 and 1995. The main results were, on the one hand, that in the urban region of São Paulo, when women were present in the family, more than 50% of them had a woman constituting part of the Economically Active Population in 1995, due mainly to the larger participation of women heads of families and spouses in economic activity. On the other hand, the contribution of the woman’s remuneration to the family income often helped to remove the family from the situation of extreme poverty or to keep away from poverty those which were not poor.

Key words: Woman’s employment; Family income; Poverty.

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  1. Este trabalho foi realizado com o apoio do CNPq (Bolsa de Produtividade em Pesquisa) e apresentado no Seminário “Trabalho e Gênero: Mudanças, permanências e desafios” promovido pela Associação Brasileira de Estudos Populacionais – ABEP (Campinas, 14-15 abr. 1998).
  2. Professora do Instituto de Economia da UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. E-mail: eugenia@eco.unicamp.br. A autora agradece a Raquel Helena Garcia analista de sistemas do Setor de Processamento de Dados e ao aluno Cleber Lourenço, bolsista de Iniciação Científica do CNPq, ambos do Instituto de Economia da UNICAMP, pelo trabalho de programação.

2        Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 81, jul. 1999.

Introdução

A participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro intensificou-se a partir da década de 70, em um contexto de expansão da economia com acelerado processo de industrialização e crescente urbanização. Prosseguiu na década de 80, apesar da estagnação da atividade econômica e deterioração das oportunidades de ocupação, e, na primeira metade dos anos 90, período que se caracteriza pela intensa abertura econômica, os baixos investimentos e a terceirização da economia, continuou a tendência crescente à incorporação da mulher na força de trabalho.

A década de 90, portanto, inicia -se com um acelerado processo de abertura econômica posto em prática pelo Governo Collor ao mesmo tempo em que implementa um plano recessivo de combate à inflação cujos resultados foram queda da produção e aumento do desemprego sem conseguir debelar a inflação. A crise recessiva alastra-se até meados de 1993 quando o governo de Itamar Franco inicia um intenso ataque à inflação, sem alterar significativamente a estratégia de abertura econômica, tendo implementado o Plano Real no ano de 1994. A inflação é reduzida abruptamente, estimulada pelo aumento das importações de todo tipo de bens, duráveis e não-duráveis, o que conduz a um déficit elevado na balança comercial (Pacheco, 1996; Dedecca, 1996).

A política de estabilização monetária com valorização cambial e elevadas taxas de juros leva a uma deterioração das estruturas produtiva e do emprego. As empresas são obrigadas a “racionalizar a produção” o que conduz a um aumento do desemprego estrutural. O emprego formal diminui e aumenta o grau de informalização das relações de trabalho. Praticamente todo o aumento da ocupação urbana constatado após 1993, com a recuperação da atividade econômica, corresponde a trabalhos por conta -própria e em estabelecimentos de pequeno porte (Mattoso & Baltar, 1997).

O parque industrial construído, exposto indiscriminadamente à competição internacional, provoca uma eliminação maciça de empregos de todo tipo, especialmente da Indústria de Transformação e da Construção Civil, setores que absorviam, principalmente, uma população masculina com baixo nível de instrução. A terceirização da economia, por sua vez, amplia as ocupações ligadas à expansão de serviços sociais, serviços pessoais voltados para as camadas de alta renda, de apoio administrativo e comércio de mercadorias, ocupações em que as mulheres têm tradicionalmente um espaço de maior atuação. Essas mudanças na estrutura de

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ocupação favoreceram a inserção feminina em detrimento da masculina. No geral, pode-se dizer que o mercado de trabalho feminino tende a se expandir, sobretudo por causa do dinamismo do setor terciário, mas a informalidade também tende a crescer o que coloca dúvidas com relação à natureza qualitativa dos empregos gerados por este setor.3 Além disso, a continuidade do crescimento do setor terciário vai depender da maior ou menor capacidade de crescimento da economia como um

todo.

Na década de 80, nas condições de estagnação da economia e do inegável empobrecimento generalizado da população que atingiu inclusive a classe média brasileira, a participação da mulher na atividade econômica contribuiu para a sustentação da renda familiar (Leone, 1996a, 1996b). Foram as mulheres chefes e cônjuges, com idade acima de 25 anos, escolarizadas, pertencentes a famílias que não têm nível de renda muito baixo, que mais aumentaram sua participação no trabalho remunerado (Bruschini & Lombardi, 1996; Jatobá, 1994; Sedlacek & Santos, 1991; Sedlacek, 1992; Ramos & Soares, 1994; Rios-Neto, 1996, entre outros). Esse aumento da participação da mulher cônjuge, com mais de 25 anos, traduz dois movimentos distintos. De um lado, reflete o fato de algumas mulheres casadas terem começado a trabalhar por remuneração, e de outro, expressa a permanência no trabalho remunerado de mulheres que começaram a trabalhar jovens e não se afastaram da atividade econômica com a idade e a mudança no estado civil (Wajnman & Rios-Neto, 1998).

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