ANTROPOLOGIA DAS CIDADES: MODOS DE FAZER
Por: Grigh • 24/11/2018 • Artigo • 598 Palavras (3 Páginas) • 251 Visualizações
ANTROPOLOGIA DAS CIDADES: MODOS DE FAZER
Marcelo Ribeiro Sales
Debruçar-se sobre a investigação etnográfica sobre as cidades requer uma criteriosa análise no que tange o recorte espacial para a observação. Este problema, crucial na etnografia urbana, merece uma atenção muito particular, ou seja, um determinado espaço é o próprio objeto de estudo.
No caso das cidades, inúmeros espaços podem ser analisados num estudo etnográfico, gerando várias possibilidades. A cultura e os costumes desses espaços sofrem variáveis que possibilitam interpretações diversas. Interpretar uma cultura é como ler um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos (GEERTZ, 1978 p 20). Nas cidades, os conhecimentos retirados da pesquisa, etnográfica, são inevitavelmente parciais, e só abrangem a totalidade urbana através de procedimentos de análise: metonímias (a cidade e a rua), metáforas ( a cidade é uma selva ou um mosaico), comparações (que conduzem, por exemplo, a uma tipologia cultural dos bairros de uma cidade) e diálogo interdisciplinar (encaixe das escalas do etnólogo com as da economia, da macro, sociologia, da politica urbana etc) . Desta forma, o desenvolvimento da ciência etnográfica não pode, em última análise, ser compreendido em separado de um debate político-epistemológico mais geral sobre a escrita e a representação da alteridade. (CLIFFORD, 1988, p 20)
Estudar uma parte da cidade, não define a totalidade da cidade. Por exemplo, as relações dos indivíduos com os espaços nas periferias são bem diferentes das relações nas regiões centrais ou mais privilegiadas economicamente. Isso não significa uma hierarquia nessas relações, mas sim como as formas urbanas vão se inventando, criando, produzindo, resistindo e emergindo. Este é o ponto de partida da etnografia urbana, baseado na percepção do concreto vivido, capaz de descobrir formas inesperadas de invenção social. Retomando as periferias, é importante salientar que esses espaços, boa parte, vivem de formas de urbanização precária, informal e ilegal, desenvolvendo práticas urbanas plurais que acabam por representar a fatia mais relevante da experiência citadina. Nesse sentido, a escrita etnográfica, envolve uma série de fatores que compromete o etnógrafo, pois se torna necessário conceber a etnografia não como experiência e a interpretação de outra realidade circunscrita, mas sim como uma negociação construtiva envolvendo pelo menos dois, e muitas vezes, sujeitos conscientes e politicamente significativos.
As periferias sofrem com a estigmatização social, pois são zonas de concentração de pobreza, geralmente associadas ao crime, mas também fruto do imaginário de outros que residem em lugares privilegiados.
A origem social desses espaços podem ser individuais, idiossincráticas e contingentes. Contudo, também é importante observar fatores estruturais mais amplos que condicionam esses processos e contribuem na produção de variação entre distintas situações periféricas urbanas, no tempo e no espaço.
Portanto, é vital a observação etnográfica de como alianças, conflitos e divisões internas ocorrem no interior de distintas regiões e como se organizam ou deixam de fazê-lo para resolver seus diversos tipos de problemas. Portanto, o exercício etnográfico deve estar atento tanto para a configuração do contexto social específico em que indivíduos que formam cada local e comunidades de baixa renda atuam, identificando quem são e como pensam, assim como fatores mais amplos, regionais, que impactam esses lugares de distintas maneiras e que nos ajudam a explicar como e por que esses contextos de pobreza diferem entre os mesmos.
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